Ferrovia como fator de competitividade

Cadeias produtivas dos mais diversos setores precisam operar
sistemas logísticos eficientes para competir no mercado global e nacional. Na
maioria das vezes, a disponibilização da infraestrutura de transportes, papel
do Estado, deve preceder a formação de cadeias produtivas competitivas.
Contudo, este definitivamente não é o caso de Mato Grosso.

Há décadas, temos no Estado uma das cadeias produtivas de
grãos mais competitivas do Planeta, mas ainda temos que enfrentar todos os dias
o desafio de superar a distância entre o produtor e os portos.

O cenário não é dos melhores. São rodovias sem pavimentação
em uma ponta, transporte caro no meio e portos ineficientes na outra ponta.
Quer dizer, muita coisa precisa ser feita para avançarmos, agregarmos valor e
nos tornarmos eficientes também da “porteira para fora”.

Acreditamos que, em um sistema logístico, a multimodalidade
é uma das palavras chave na busca pela otimização e eficiência. Ela poderá
fortalecer mais o agronegócio mato-grossense, que sustenta a balança comercial
brasileira. O que proponho, neste artigo, é uma análise criteriosa da
importância das rodovias e ferrovias para o escoamento da produção.

 

Confiança na produção

 

Entendemos que cada modal de transporte, seja o rodoviário,
o ferroviário, o hidroviário e o aeroviário tem suas características, vantagens
e desvantagens dependendo do tipo de transporte (passageiro ou carga), do tipo
de carga, da distância e das características do mercado. Em geral, os modais
precisam coexistir, complementando-se, por isso a necessidade da
multimodalidade.

No transporte das principais commodities de Mato Grosso
(soja, milho e carne bovina), nas quais somos maiores produtores do país, com
produção total na última safra de mais de 60 milhões de toneladas de grãos e
rebanho de mais de 30 milhões de cabeças, o sistema logístico é muito
beneficiado pela confiabilidade do que é produzido por aqui.

Confiança que nasce do fato de Mato Grosso ter pouco
histórico de quebra de safras, se comparado a outras regiões do Brasil e do
Mundo. E pela ótima distribuição sazonal da produção: metade é escoada no
primeiro semestre (soja), e outra metade no segundo (milho), enquanto o boi é
transportado o ano todo.

No entanto, mesmo com todo este potencial, a dispersão da
produção inclusive em lugares remotos do Estado e a distância para os portos,
muitas vezes chegando a mais de 2.000 km, são certamente grandes desafios.

 

Rodovias

 

O primeiro desafio só será vencido com um eficiente sistema
de rodovias estaduais. Para superar este entrave, o dever de casa tem sido
feito. Isso eu posso assegurar. Os números falam por si: são 6.624,88 km de
rodovias pavimentadas em Mato Grosso. Das quais, mais de 1.000 foram
pavimentadas e outras 1.300 foram restauradas na atual gestão do governador
Pedro Taques. Um avanço significativo se comparado com o atraso histórico
verificado em gestões anteriores.

E muito mais ações em infraestrutura vem por aí. Neste
sentido, asseguramos que o programa Pró-Estradas, os recursos do Fethab, as
concessões de rodovias, as operações de crédito (atualmente R$ 2 bilhões) e a
captação de recursos novo na ordem de R$ 420 milhões que estaremos obtendo
junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) são fundamentais para
promover estes investimentos necessários nas nossas rodovias estaduais.

 

Ferrovia em Cuiabá

 

No modal ferroviário, temos a infraestrutura, mesmo que
insuficiente, operando dentro de nosso estado. Com pouco mais de 300 km de
trilhos em Mato Grosso, a antiga Ferronorte, hoje Malha Norte da Rumo,
representa o mais importante corredor de escoamento de nossas commodities.

A partir, principalmente do terminal de Rondonópolis,
inaugurado em 2013, a Rumo escoa 25 milhões toneladas de nossos produtos para o
Porto de Santos, e ainda retorna para nosso Estado com fertilizantes e
combustíveis.

Por isso, os trilhos da Malha Norte precisam avançar para
dentro de Mato Grosso! O governador Pedro Taques vem liderando uma discussão
nacional sobre este tema desde o início de 2015, em parceria com o Fórum
Pró-Ferrovia em Cuiabá, para que os trilhos finalmente cheguem até nossa
capital.

 

Pleito

 

A Rumo tem interesse, mas depende ainda de alguns entraves:
primeiro a autorização da antecipação da renovação da concessão da Malha
Paulista, que vence em 2028. Segundo a aprovação do ramal de Rondonópolis a
Sorriso, passando por Cuiabá.   A
antecipação da renovação é o item mais complexo e atualmente encontra-se no
Tribunal de Contas da União (TCU), sob a relatoria do Ministro Augusto Nardes.

A Malha Paulista inclui o trecho da divisa com o estado de
São Paulo até o Porto de Santos, e encontra-se sucateada, necessitando de mais
de R$ 5 bilhões em investimentos na sua infraestrutura.  Com isso, o crescimento da Malha Norte
(localizada em MT) está limitado pelos trilhos antigos da Malha Paulista. Isso
porque, para investir agora nos trilhos de São Paulo, a concessionaria Rumo
(antiga ALL) alega que precisa de mais prazo. 
O Governo de Mato Grosso apoia este pleito, porque sabe que só assim os
trilhos avançarão no Estado, que receberia novos e vultuosos investimentos com
a renovação da Malha Paulista.

De qualquer forma, a Rumo sabe que precisa ampliar os
investimentos na ferrovia Mato Grosso-Santos, pois terá competição no futuro.
Além da falada Ferrovia Bioceânica, que ainda está longe de ser um projeto.

Ao analisarmos o cenário atual, porém, apontamos a Ferrogrão
como uma real ameaça ao domínio da Rumo no Estado. Afinal, a Ferrogrão irá
consolidar o novo corredor de exportação do Brasil pelo Arco Norte. Esta
ferrovia tem uma extensão de quase 1.000 km e conectará o norte de Mato Grosso
ao Pará, terminando no terminal hidroviário de Miritituba, no rio Tapajós. Com
investimentos previstos de R$ 12,6 bilhões, esta ferrovia está projetada para
escoar na sua primeira fase mais de 25 milhões de toneladas.

Os novos projetos ferroviários aumentarão muito a capacidade
de transporte do estado, e, consequentemente, melhorarão nossa
competitividade.  Além disso, as
condições de tráfego da rodovia BR-163 (hoje parcialmente concessionada)
melhorarão sensivelmente, reduzindo o fluxo de caminhões pesados que
transportam grãos, e diminuindo o número de acidentes e o tempo de viagem de
carro.

 

Agenda positiva

 

A próxima semana será muito importante para os dois projetos
ferroviários aqui abordados. Dia 21 estaremos com uma delegação do Governo do
Estado e do Fórum Pró-Ferrovia em Brasília para tratar com os ministros do TCU
Augusto Nardes e Raimundo Carreiro sobre a prorrogação da Malha Paulista da
Rumo.  No dia 22 de novembro haverá
realização de audiência pública da Ferrogrão em Cuiabá. E um evento sobre o
tema no dia 23 em Nova Mutum.

Não temos dúvidas, a multimodalidade impulsionará ainda mais
o escoamento da produção de grãos de Mato Grosso, assegurando uma competividade
única no cenário internacional. Para avançarmos, precisamos de projetos
arrojados, como este da Ferrovia em Cuiabá, como melhoria das nossas rodovias
estaduais quanto dos corredores de escoamento.

O Governo do Estado tem uma agenda clara de prioridades e
sabemos que não temos tempo a perder, pois os mato-grossenses tem pressa! Essa
é a hora. Estamos lutando para enfrentar a crise e assegurar o desenvolvimento
do nosso Estado. Esta é uma agenda necessária e urgente, porque o Governo
Federal sabe que precisa ajudar mais o Estado que mais socorre o país.

A situação de Mato Grosso é difícil, e me fez lembrar da
mitologia grega. Atlás era um titã que foi condenado por Zeus a sustentar os
céus sobre os ombros para sempre. O Estado é forte, assegura com muitas
dificuldades, de forma decisiva, os constantes superávits na balança comercial
brasileira. Mas já passou da hora de deixar de ser o Atlas do Brasil e receber
o apoio devido nessa missão.

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