Citação na Lava-Jato derruba ação da CCR

O envolvimento da CCR na Lava-Jato,
por meio da delação do empresário Adir Assad, alvejou a maior e mais importante
empresa brasileira de concessões de infraestrutura. O papel da companhia
encerrou o pregão de ontem em queda de 10,01%, a R$ 12,41, na menor cotação
desde março de 2016, sentindo os efeitos do noticiário negativo.

Desde quando o termo de colaboração de
Assad veio à tona, na tarde de sexta-feira, a CCR perdeu R$ 4,62 bilhões em
valor de mercado. É quase uma Ecorodovias, sua maior concorrente no Brasil,
cujo valor de mercado ontem era de R$ 5,47 bilhões.

A CCR tem entre seus acionistas os
grupos de construção e concessão Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Soares
Penido. As demais ações estão no mercado.

Assad, delator da Lava-Jato na Polícia
Federal, citou nominalmente a companhia e seus executivos. Eles teriam sido
apresentados ao delator por Paulo Vieira de Souza, o “Paulo Preto”,
então diretor de engenharia da Dersa, estatal paulista que projeta e constrói
rodovias. A Rock Star Produções, empresa de Assad, foi intermediária para
assinatura de contratos de patrocínios pela CCR com diversas categorias do
automobilismo brasileiro entre 2009 e 2012, informação confirmada pela
companhia.

Assad diz que há contratos
superfaturados que geraram dinheiro em espécie, mas sem definir o valor. Em
comunicado, a CCR disse que os contratos foram assinados e devidamente
contabilizados.

Os contratos de patrocínio de
categorias como Stock Car, Fórmula Truck e Stock Light movimentaram cerca de R$
46 milhões no período, segundo o delator. Assad afirma que Souza foi
responsável por apresentá-lo a Renato Vale, presidente da companhia, e ao
diretor José Roberto Meirelles. Vale, por sua vez, teria colocado Assad em
contato com Everaldo Nascimento, que aparece como representante nas negociações.

Pesou no mercado a citação direta ao
presidente da CCR. Vale está no comando da companhia desde a fundação, há 19
anos. Assad afirma que foi recebido pelo executivo no escritório da empresa em
São Paulo, onde “apresentou a Stock Car e suas operações ilícitas via Rock
Star como meio para fazer caixa”. Conforme a delação do empresário, Vale
“já sabia a respeito de Assad por intermédio de Paulo Vieira, e aguardava
seu contato.”

Ontem, a CCR realizou uma
teleconferência com analistas e investidores para tratar especificamente do
assunto. Segundo os representantes da empresa, assim que as primeiras notícias
surgiram foi aberto um processo de investigação interna para apurar o caso. Até
aquele momento, a companhia não havia sido notificada pela Lava-Jato.

De acordo com Arthur Piotto Filho,
diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, a investigação
e apuração devem ficar a cargo da área de compliance da empresa, com a
possibilidade de contratação de um escritório de advocacia externo.

Investidores e analistas que cobrem a
CCR acreditam que os efeitos da delação de Assad podem ter vida curta. A
avaliação é de que ainda não ficou patente, como num primeiro instante a
divulgação do termo de colaboração fez sugerir ao mercado, que os valores pagos
pela CCR foram a título de contrapartidas.

Entre março de 2009 e dezembro de
2012, a CCR e algumas controladas repassaram aproximadamente R$ 46 milhões para
contas das empresas Rock Star Entertainment e Rock Star Produções Comércio e
Serviços. Desse total, a CCR creditou R$ 5,4 milhões; a Nova Dutra (concessão
federal que liga o Rio a São Paulo), outros R$ 17,3 milhões; a Via Oeste
(concessão paulista que opera o sistema Castello-Raposo), R$ 9,6 milhões; e a
Autoban (também concessão paulista que opera o sistema
Anhanguera-Bandeirantes), R$ 13,7 milhões.

Sem comprovação de que houve
contrapartida, pode ser no máximo um caso de fraude contábil, sugerem
analistas. Uma irregularidade com muito menos repercussão do que um
envolvimento na Lava-Jato. Mas, mesmo essa hipótese, teria de ser provada.
“Pelo jeito é só um contrato de patrocínio, mas vai pesar no papel”,
disse um analista, que pede sigilo.

O representante de uma gestora com
posição minoritária na empresa considerou que, até o momento, a resposta ao
caso tem sido correta. Na visão dele, o movimento forte das ações é natural em
ocasiões como esta, com a saída de investidores sendo mais ligada a grupos
estrangeiros, que possuem restrições de compliance.

Procurada pelo Valor, a CCR disse que
os investidores já puderam tirar suas principais dúvidas durante a
teleconferência.

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