Candidato, Alckmin acelera abertura de estações do Metrô

Nós estamos entregando as obras. Entrega, entrega,
entrega. Cada semana, obras novas de metrô e trem. Num momento de dificuldade
que o Brasil atravessa, São Paulo está investindo.” Foi assim que o
governador Geraldo Alckmin (PSDB) se expressou logo após fazer a viagem
inaugural de trecho de uma linha de monotrilho na zona leste da capital.
Cercado de fotógrafos e cinegrafistas, ele “pilotou” o trem aéreo por
quatro estações em obras da linha 15-Prata, todas em fase de acabamento.

Dez dias depois, o pré-candidato à Presidência participou de
mais um evento metroviário. Foi na sexta passada, quando cortou a faixa que
marcou o início das operações da estação Eucaliptos do Metrô, linha 5-Lilás.
Essa fica sob uma chamativa redoma de vidro numa praça em frente ao shopping
Ibirapuera, um dos mais tradicionais da cidade. Ao discursar, Alckmin voltou a
ressaltar o calendário de inaugurações “e dizer da alegria” de ter
feito investimentos em “período de grande recessão”.

Não há exagero nos termos escolhidos. O ritmo de abertura de
estações de metrô e monotrilho é recorde. Neste ano, serão entregues 20 novas
estações em diferentes linhas. É mais que a soma de todas as inaugurações nos
sete anos anteriores sob Alckmin (confira no gráfico). Até o início de abril,
quando deverá renunciar para disputar a Presidência, o tucano deverá inaugurar
outras nove estações. A partir daí até a eleição, mais oito. Para depois do
pleito, só uma.

Em volume de investimento, não há nada perto disso em outras
áreas do governo. Conforme o secretário de Transportes Metropolitanos,
Clodoaldo Pelissioni, o Estado pagou R$ 13,5 bilhões em “empreendimentos
metroferroviários” de 2015 a 2017. Deve desembolsar mais R$ 4,5 bilhões
neste ano. Recursos próprios e de empréstimos via BNDES e Banco Interamericano
de Desenvolvimento.

O ritmo chama ainda mais a atenção porque, no meio político,
Alckmin contraiu fama de ser um político lerdo na entrega de promessas, em
especial as de mobilidade. Das 20 estações que só agora estão em fase de
acabamento, não há notícia de uma a ser inaugurada dentro do prazo
originalmente anunciado. A Eucaliptos, por exemplo, havia sido prometida para
2014. Assim como a Higienópolis-Mackenzie, entregue em janeiro, e a Oscar
Freire, a próxima.

Além de vistosas, estações do Metrô produzem impacto
imediato nos locais em que são instaladas. A Mackenzie-Higenópolis dá uma
dimensão disso. Com dois meses, já recebe 30 mil pessoas por dia. Neste ano,
após todas as inaugurações, o total de viagens em todo o sistema deve saltar de
7,1 milhões por dia para até 8,5 milhões.

Alckmin e seus secretários refutam a insinuação de caráter
eleitoral no calendário que concentrou inaugurações no ano da eleição. Os
aliados mais próximos, porém, não ajudam a afastar a suspeita. Na sexta, um dos
escalados para discursar na abertura da Eucaliptos foi o deputado estadual
Barros Munhoz (PSDB), líder de Alckmin na Assembleia. Em tom exaltado, disse
que queria “extravasar” sua alegria. Extravasou assim: “Graças a
Deus nós temos à frente do governo do Estado, e vamos ter, a partir do ano que
vem, à frente do Brasil, no comando da nossa nação, Geraldo Alckmin”. Os
convidados interromperam para aplaudir.

Depois foi a vez do prefeito João Doria, também tucano.
Falando sobre os empregos, deu o seguinte conselho ao governador: “O maior
desafio que o senhor terá ao longo de sua trajetória para chegar à Presidência
da República, e na qualidade de presidente da República, será a geração de
emprego e a geração de renda”.

Ao falar, Alckmin não pediu voto nem mencionou o cargo que
almeja. Mas aproveitou para ensaiar discurso que deverá usar na campanha. Além
de listar as obras em curso, lembrou que havia acordado às 5 horas da manhã
para acompanhar uma blitz em postos de combustível, ressaltou que sua gestão
não atrasa salários e exaltou redução de impostos para genéricos, para o etanol
e ao setor têxtil.

Quando é confrontado diretamente sobre o inusual ritmo de
inaugurações em ano eleitoral, Alckmin cita obras que ficarão para depois da
eleição e lembra das que foram entregues antes. Em fevereiro, um repórter
perguntou se ele sentia “algum constrangimento em, num ano eleitoral,
entregar tantas estações que estão muito atrasadas”. Alckmin respondeu:
“Não, pelo contrário. A gente quer entregar o mais rápido possível.
Entregamos estações no ano passado, entregamos neste ano, vamos entregar mais.
E se eu me afastar do governo no dia 7 de abril, vai ficar muita estação para
ser entregue. E também no ano que vem”.

Um outro repórter insistiu: “Tantas inaugurações assim
em ano eleitoral é uma coincidência?” Alckmin respondeu: “Não.
Entregamos em 2015, 16, 17. Vamos entregar mais este ano e no ano que vem.
Ficou pronto, entrega”.

Pelissioni lista ocorrências que acarretaram atrasos e que
estão fora do alcance do Estado: a Lava-Jato, que fragilizou algumas
empreiteiras, a crise e a necessidade de relicitar obras após a desistência de
consórcios já contratados.

Na sexta, ao chegar para inaugurar a Eucaliptos, ele foi
apresentado à presidente da associação do bairro local, que estava acompanhada
de outras quatro senhoras. A reportagem do Valor acompanhou o diálogo.
“Desculpe pelo transtorno, eu sei que demorou mais que o previsto”,
disse o secretário. “Ah, demorou mesmo”, respondeu uma das mulheres.
“Eu queria ter entregue antes”, emendou Pelissioni. “E agora vão
ficar todas prontas antes da eleição, né?”, finalizou a moradora.

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