Numa
cerimônia que contou com a presença de Dom Pedro II, em 30 de abril de 1854,
Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, botou o Brasil nos trilhos. Era a
inauguração da primeira ferrovia do país, em Magé, que ligava o porto de Mauá,
no fundo da Baía de Guanabara, a Fragoso, em Raiz da Serra, a 14 quilômetros de
distância.
A festa
apresentou ao monarca e aos moradores da região a maria-fumaça Baronesa,
primeira locomotiva do Brasil. Ela partiu da pequena estação Guia de Pacobaíba,
que foi desativada na década de 1960 e vem protagonizando histórias bem menos
glamourosas nos últimos 50 anos. Passou por várias tentativas de revitalização,
já foi invadida, teve as portas arrombadas, virou depósito de lixo e hoje está
fechada, com telhado quebrado e marcas de pichação.
Agora, um
acordo firmado entre a prefeitura de Magé e o Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (Iphan) poderá ser, enfim, a partida para um novo destino.
ESTAÇÃO
POUCO VALORIZADA
Em março, o
órgão federal concedeu ao município o direito de usar e administrar o complexo,
que inclui a antiga casa dos agentes ferroviários, o terreno e o trecho tombado
da ferrovia Mauá-Fragoso. O espaço terá, obrigatoriamente, que ser usado com
finalidades culturais. Apesar da importância histórica, Guia de Pacobaíba nunca
foi valorizada pelo município. Com exceção da inscrição na entrada do distrito,
não há placas ou qualquer outra sinalização indicando o caminho até a estação,
de onde se tem uma bela vista das ilhas de Brocoió e Paquetá.
Numa das
muitas tentativas de revitalização, a área ganhou um paisagismo com coqueiros e
palmeiras, que nos fins de semana atrai moradores para piqueniques e passeios
de bicicleta. Do lado de fora, capim alto, muito entulho e uma réplica de
locomotiva arranhada e enferrujada completam o cenário de descaso. Sobraram poucos
metros dos antigos trilhos. Um pequeno carrinho usado na ferrovia, coberto de
ferrugem, também foi esquecido por lá.
O edifício
da antiga casa dos agentes ferroviários, de 1916, está em pior estado: foi
arrombado e depredado. O antigo cais (no passado, os passageiros vinham de
barca e ali pegavam o trem) também se encontra em péssimo estado.
O trecho
ferroviário de Mauá para Fragoso, onde fica a estação, foi considerado
Monumento Histórico Nacional e tombado pela antiga Secretaria de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional em 1954, no centenário da inauguração da
ferrovia. De acordo com a Associação Ferroviária Trilhos do Rio, há registros
de que a estação atual foi aberta em 1896, quando houve uma grande reforma no
porto. Outra mudança foi a do próprio nome, em 1945: de Estação de Mauá, passou
a ser chamada de Guia de Pacobaíba. Em 2007, esse patrimônio foi transferido
para o Iphan, assim como todo o espólio da extinta Rede Ferroviária Federal
Sociedade Anônima com valor histórico.
Segundo
Jeanne Crespo, responsável pelo patrimônio ferroviário do Iphan, a cessão de
uso para Magé tem prazo de cinco anos, prorrogáveis pelo mesmo período, e
apresenta como principal condição a instalação de um espaço “com fins culturais
que valorizem a memória da ferrovia”.
— Ainda está
sendo elaborado pela prefeitura um plano de gestão do bem tombado. Tudo será
feito sob supervisão do Iphan — diz Jeanne.
A missão de
criar um novo projeto para a Guia de Pacobaíba foi dada à secretária de
Educação e Cultura de Magé, Alisson Brandão, que pretende fazer do local um
ponto de memória, voltado para o turismo. O espaço será aberto ao público e
terá guias, que já passam por treinamento. Além disso, um dia da semana será
reservado para a visita de estudantes da rede pública, acompanhados por
historiadores.
Segundo a
secretária, devido à falta de recursos, a prefeitura optou por uma intervenção
simples, que inclui restaurar os dois prédios, melhorar a iluminação (parte da
fiação foi furtada), limpar o terreno e implantar um pequeno centro cultural.
Inicialmente, o Iphan apresentou a Magé o projeto de um parque.
— Não
teríamos condições de executar a ideia do Iphan. Em maio, vamos começar a
reforma do telhado. A previsão é que, em julho, possamos reabrir o espaço —
disse Alisson.
EM DEFESA DA
FERROVIA
Para o
pesquisador Antonio Pastori, presidente da Associação Fluminense de Preservação
Ferroviária, a estação deveria ser reativada:
— Reabrir
como centro cultural é melhor do que deixar fechada. Mas acreditamos que o
melhor seria retomar a atividade ferroviária por lá. Ela é um ícone e, por
isso, deveria ser preservada. Nosso projeto é a volta da viagem a Petrópolis,
como fazia o imperador. Ele vinha pela Baía de Guanabara de barca, pegava o
trem em Guia de Pacobaíba, ia até o pé da serra de Petrópolis, e de lá subia
numa cremalheira por 25 minutos. O trajeto era feito em duas horas.
Restabelecer essa rota não é só resgatar a memória, é melhorar a mobilidade
urbana de Magé.
-Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/primeira-estacao-ferroviaria-do-pais-em-mage-sera-revitalizada-22592849
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