Aumentos de
preço tanto para a celulose quanto para diferentes tipos de papel no mercado
internacional estão abrindo espaço para um potencial reajuste por parte dos
produtores brasileiros de fibra curta. O terceiro anúncio do ano pode chegar a
US$ 20 por tonelada nos mercados europeu e americano e com aplicação no
curtíssimo prazo, confirmando que a oferta adicional de matéria-prima tem sido
absorvida pela demanda sem muita dificuldade, na avaliação de fontes de
mercado.
No segmento
de celulose de eucalipto, especialidade das companhias nacionais, a espanhola
Ence acaba de anunciar novo valor de referência para a Europa a partir de 1º de
junho, que embute aumento dessa magnitude (US$ 20 por tonelada). Conforme a
consultoria RISI, referência para o setor no mundo, a produtora espanhola fez o
primeiro movimento da indústria global relativamente aos preços do próximo mês
e fixou a nova cotação de referência em US$ 1.070 por tonelada.
A companhia
atribuiu o novo reajuste ao cenário positivo para a matéria-prima e ao baixo
nível dos estoques. Segundo fonte de mercado, a expectativa é a de que as
líderes Fibria e Suzano Papel e Celulose acompanhem o movimento. O último
aumento anunciado pelas brasileiras foi aplicado em abril e elevou a US$ 1.050
por tonelada a cotação de referência na Europa.
Esse novo
preço embutiu reajuste também de US$ 20 frente ao que vinha em vigor desde
fevereiro e já foi integralmente absorvido pelos europeus. Conforme o PIX,
índice de preços divulgado semanalmente pela RISI, no começo da semana passada
a tonelada da fibra curta era negociada a US$ 1.049,83 naquele mercado.
Os
produtores também subiram em US$ 20 o preço de referência a partir de abril
para a América do Norte, que chegou a US$ 1.230 ou US$ 1.240, conforme a
companhia. Vale notar que, apesar da trajetória de alta em 2018, o ritmo de
anúncios da indústria neste ano caiu para um a cada dois meses, frente a
reajustes mensais em praticamente todo o ano passado.
Conforme
fonte da indústria, a menor velocidade reflete o período mais longo de
aplicação dos reajustes no mercado de papel, que tem suportado novos reajustes
da celulose. Assim, ao anunciar novos preços com até dois meses de diferença
entre cada um, os produtores de celulose estariam dando tempo às papeleiras de
repassar os aumentos ao longo da cadeia.
Para essa
mesma fonte, sob uma visão imediatista, há espaço para novo reajuste em junho,
mas um movimento dessa natureza poderia pressionar excessivamente as margens
das papeleiras. Com isso, haveria risco de paradas de produção por parte desses
fabricantes, colocando pressão nos preços da celulose. Além disso, a
valorização do dólar por si só pode segurar novos aumentos de preço.
As cotações
da fibra curta também têm sido encorajadas pela valorização agressiva da
celulose de fibra longa, que é mais cara e até certa medida pode ser
substituída pela curta. O inverno rigoroso no Hemisfério Norte, sobretudo na
Escandinávia, trouxe consequências para a colheita e falta madeira para a
produção de fibra longa em diversas companhias da região. Hoje, a diferença de
preços está em torno de US$ 150 por tonelada, frente à média histórica de US$
70.
Em relatório
recente sobre o setor de celulose e papel, os analistas do BTG Pactual,
Leonardo Correa e Gerard Roure, destacam ainda que não há sinais de correção
iminente dos preços, com margem para mais um reajuste entre junho e julho.
O banco
também revisou as projeções para os preços da celulose de fibra curta neste ano
e no próximo, elevando em até 12,7% o teto do intervalo projetado, diante da
demanda firme no mercado global, baixo nível dos estoques, paradas de fábricas
no curto prazo, maior diferença de preços (spread) entre fibra longa e curta e
ausência de nova oferta de matéria-prima nos próximos dois ou três anos.
Para 2018 e
2019, o BTG Pactual trabalha agora com preços de referência de US$ 780 a US$
800 por tonelada na Ásia, ante US$ 690 a US$ 710 por tonelada anteriormente. Em
2020, a previsão é de cotação a US$ 765 por tonelada, comparável a US$ 740
originalmente.
– Fonte: http://www.valor.com.br/empresas/5542363/celulose-tem-espaco-para-novo-reajuste
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