A tabela de
preços mínimos para o frete estabelecida pelo governo após a paralisação dos
caminhoneiros no fim de maio pode ser mais salgada do que se esperava para os
exportadores de produtos agrícolas do país.
Estudo do
Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-Log/USP) mostra que o aumento mínimo de
custos esperado para o transporte dos produtos até os portos este ano, com a
imposição da tabela, é de 70%, mas a alta pode chegar a 154% se o contratante
também pagar o frete de retorno.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
“Analisamos
como foi o ano passado em termos de volumes exportados e como seria o custo com
a tabela de fretes”, explica Thiago Péra, coordenador técnico do grupo. O
estudo considera os embarques de soja, milho, farelo de soja e açúcar em 2017.
Um dos pontos
da tabela que mais tira o sono dos exportadores é que o contratante do
transporte terá de pagar o frete de retorno do caminhão vazio após o
desembarque nos portos.
Conforme os
cálculos do grupo da Esalq-Log, num cenário em que todos os caminhões voltassem
vazios dos portos, o aumento de custos chegaria a R$ 25,1 bilhões, o que
representa alta de 154% sobre os valores de 2017. Sem o frete de retorno, o
aumento dos custos ficaria ao redor de 70%, ou R$ 11 bilhões.
Dentre os
quatro produtos analisados, a soja, carro-chefe das exportações brasileiras,
teria um incremento dos gastos com transporte da ordem de R$ 13,8 bilhões, ou
alta de 156% sobre os valores de 2017. O custo pode ser ainda maior para a
oleaginosa, uma vez que a estimativa é que as exportações este ano sejam 8,6%
maiores que em 2017.
O milho, por
sua vez, teria aumento de R$ 7,3 bilhões (alta de 166,3%) considerando o mesmo
volume exportado em 2017. Para este ano, no entanto, a própria Conab já reduziu
a projeção para os embarques em 3 milhões, para 27 milhões de toneladas,
justamente por causa da alta do frete.
No caso do
açúcar, segundo o estudo do grupo, o impacto seria de R$ 2,1 bilhões (alta de
106,9%), e do farelo, de R$ 1,9 bilhão (aumento de 167,6%).
Para fazer a
análise, a Esalq-Log considerou os valores mínimos da Tabela de Frete da
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), incluindo tarifas de
pedágios, impostos e margens, e aplicou-os aos volumes embarcados dos quatro
produtos em 2017. A variação do custo com o diesel, combustível dos caminhões,
também foi corrigida.
Segundo o
estudo, o Estado mais afetado pela alta no custo de transporte da soja até os
portos é Mato Grosso – principal produtor da oleaginosa. A elevação é estimada
em R$ 6,9 bilhões. No caso de Goiás, o aumento seria de R$ 1,4 bilhão, e do
Paraná, de R$ 1,3 bilhão.
Ontem,
Aurélio Pavinato, presidente da SCL Agrícola, uma das maiores produtoras de
grãos do país, afirmou que a alta de custos em dólares do transporte não chega
a ser tão significativo. “Os cálculos da SLC apontavam para aumento de 30%
do frete em reais, mas, como exportadores, nos interessa o custo em dólares e
não houve tanta mudança assim”, afirmou em teleconferência com analistas.
Na
comparação com o mesmo período do ano passado, o real se desvalorizou cerca de
20% em relação ao dólar, para US$ 3,9045.
Também no
caso do milho, Mato Grosso é o mais afetado pelo aumento dos custos de
transporte. O Estado é o maior produtor do cereal e deve registrar uma alta nos
custos com frete de R$ 5,3 bilhões, conforme os cálculos.
O estudo
elaborado pela Esalq-Log também avaliou os custos com transporte rodoviário
para a cadeia de adubos. O aumento com o transporte, em todo o país, do
fertilizante intermediário – matéria-prima para a indústria – recebido nos
portos até as misturadoras deve chegar a R$ 2,3 bilhões, uma alta de 83,8% em
relação a 2017.
Foco da
atenção do agronegócio atualmente, a tabela de fretes mínimos ainda pode ser
revertida. No dia 27 deste mês haverá audiência pública sobre o tema. Depois
disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) irá decidir sobre a constitucionalidade
dos fretes mínimos.
Seja o primeiro a comentar