Exportador teme ações de novo governo

RIO E
BRASÍLIA – Líder nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da
República, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, vem provocando ruídos nos
negócios do Brasil com o exterior. Seu plano de mudar a embaixada do Brasil em
Israel para Jerusalém põe em risco um volume de exportações de US$ 13 bilhões
ao ano em carne bovina e de aves para o mercado muçulmano, que é apoiador da
causa palestina. Já as declaradas restrições à presença chinesa na
infraestrutura lançam dúvidas sobre uma carteira bilionária de investimentos
que poderão ser aportados no País.

Mas, embora
causem preocupação pelo potencial de estrago que trariam, essas declarações
ainda não são tomadas como 100% certas. A elas é dado um desconto, pelo fato de
terem sido feitas num contexto de campanha eleitoral.

A avaliação
é feita, por exemplo, pelo presidente da Bahia Mineração, Eduardo Ladsham. “À
medida que ele conhecer as relações comerciais (entre Brasil e China) vai
perceber que é fundamental ter uma parceria.”

Também o
responsável pela Cadeia de Suprimentos Agrícolas da Cargill na América do Sul,
Paulo Sousa, recomendou cautela com o ambiente “quente” do período eleitoral.
“O Brasil precisa da China e a China do Brasil. A China tem a demanda pelos produtos
agrícolas do Brasil, como a soja. A China tem capital para investir em
infraestrutura no Brasil.”

Sobre a
possível mudança da embaixada brasileira em Israel, o consultor em comércio
exterior Welber Barral disse que “esse é um tema central para o mundo árabe e
para os muçulmanos em geral”. Ele, porém, acredita que essa posição pode mudar
após as eleições.

Essa também
é a leitura que circula nos meios diplomáticos árabes. Por enquanto, a palavra
de ordem é cautela. Nos meios técnicos, o risco de redução de compras do
Brasil, principalmente de carne, é encarado com preocupação. A avaliação é que
os países muçulmanos podem procurar outros fornecedores internacionais.

O ministro
da Agricultura, Blairo Maggi, informou que até o momento não recebeu nenhuma
reclamação. “Tenho recebido embaixadores de países árabes, mas ninguém disse
nada”, afirmou ele ao Estado.

 

China

Bolsonaro
também entrou em rota de colisão com a China, principal parceiro comercial do
País, com uma corrente de comércio de US$ 74 bilhões só de janeiro a setembro
deste ano. Na semana passada, ele declarou, em entrevista à TV Bandeirantes,
que não venderia geradoras de energia a investidores daquele país. “A China não
está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil”, disse. “Você vai deixar
o Brasil na mão do chinês?”

Segundo um
integrante da equipe que trabalha no programa de governo do candidato, o
sociólogo Antônio Flávio Testa, a fala de Bolsonaro expressa principalmente uma
preocupação com a aquisição de terras no País e o risco de controle na produção
agrícola nacional. “Mas não podemos prescindir dos investimentos chineses.”

No início
deste ano, o candidato fez uma visita a Taiwan, ilha que não reconhece o
predomínio da China continental. Ele estava com os filhos e o deputado Onyx
Lorenzoni (DEM-RS), que deverá ocupar a Casa Civil caso o candidato do PSL
vença as eleições. A visita resultou em uma carta de protesto enviada pela
Embaixada da China ao DEM e publicada nas redes sociais em março pelo vereador
do Rio de Janeiro César Maia. O Brasil não tem relações diplomáticas com
Taiwan.

O presidente
da Vale, Fabio Schvartsman, disse ontem esperar que Bolsonaro não adote uma
política externa que mexa nas relações Brasil-China. A China é o maior cliente
da Vale, destino de mais de 60% do minério de ferro vendido pela companhia.
Bolsonaro, porém, questionou o apetite da potência asiática por ativos
brasileiros no setor elétrico. “Para a Vale, a preocupação é muito pequena
tendo em vista nossa mútua dependência (China e Vale). Mas não é bom para
ninguém. Disputas não trazem benefício e, se não é bom para ninguém, não é bom
para a Vale”, afirmou após participar do FT Commodities Summit 2018, no Rio.

 

Fonte: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,exportador-teme-acoes-de-novo-governo,70002550386


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