Uma falha em algum equipamento que compõe o sistema de Controle de Tráfego Centralizado (CTC) da SuperVia é a principal hipótese levantada por especialistas para a colisão dos dois trens na estação de São Cristóvão, que causou a morte do maquinista Rodrigo Assumpção. Conforme Rodrigo Sampaio, diretor-técnico da ONG Associação Ferroviária Trilhos do Rio, os dispositivos que formam o CTC foram instalados entre 1937 e 1945 e, apesar de nunca terem sido trocados outros mais modernos, ainda são os itens vitais para a segurança do tráfego.
“Mesmo que haja manutenção, são equipamentos analógicos, muito antigos, considerados obsoletos pela indústria ferroviária internacional. A empresa que instalou esses dispositivos já nem existe mais. E há itens que não são mais fabricados”, argumenta Sampaio.
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Segundo uma fonte ligada à SuperVia, que preferiu não se identificar, são tais dispositivos do CTC que, por comunicação por fios de cobre, acionam os demais componentes de segurança, como os sinais ao longo da via e os equipamentos que integram o sistema ATP (Automatic Train Protection) – este é capaz de frear o trem automaticamente quando há risco de colisão. O ATP foi instalado nas composições novas, que começaram a circular em 2014, como é o caso das que se chocaram ontem.
“Porém, o sistema ATP depende dos dados repassados pelos dispositivos que formam o CTC, que é responsável, inclusive, por enviar informações sobre as localizações dos trens que aparecem no painel dos controladores de tráfego. Ou seja, se há alguma falha nos equipamentos do CTC, todas as outras camadas de segurança ficam prejudicadas”, explicou a fonte.
Para Rodrigo Sampaio, antes de investir no sistema ATP, seria necessário modernizar os sistemas que compõem o CTC, o que, de acordo com ele e com a fonte da SuperVia, nunca aconteceu. “É como se colocassem uma Ferrari para circular em uma pista de barro”, compara Sampaio.
Para a fonte ligada à SuperVia, a modernização dos dispositivos que formam o CTC deveria constar na renovação do contrato firmado entre o Governo do Estado e a SuperVia. “É papel do Estado fazer com que a concessionária realize melhorias. Mas isso nunca aconteceu”, acrescenta.
A necessidade de modernização dos sistemas de segurança, assim como o papel do Governo do Estado no processo, também foi destacado pela engenheira Eva Vider, especialista em mobilidade urbana. Segundo ela, o acidente de ontem pode ter sido provocado pela precariedade da manutenção e da estrutura de comunicação na SuperVia. “É preciso haver um plano de expansão e modernização da malha ferroviária. Com novos equipamentos de segurança talvez fosse possível evitar esse tipo de acidente”, acredita Eva.
Procurada pelo DIA, a Secretaria de Estado de Transportes informou que os questionamentos deveriam ser encaminhados à SuperVia. A concessionária, por sua vez, garantiu que sistema de sinalização sofre modernizações e permanece confiável.
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