Trens de passageiros pelo interior de São Paulo – uma crítica construtiva

CYRO LAURENZA
Presidente do Conselho Diretor do Instituto para o Desenvolvimento dos Sistemas de Transportes (Idestra) e do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp)

Estamos em início de governos federal e estadual, hora propícia para desengavetar inúmeros projetos que objetivam recuperar e criar nova malha ferroviária no país e no estado de São Paulo. Nossos gargalos no transporte de mercadorias e a falta de conforto e agilidade na mobilidade dos passageiros comprovam que erramos muito quando abandonamos grande parte da nossa malha ferroviária.

Quando se projeta ferrovias não é possível pensar pequeno, desconectado das grandes distâncias a ser percorridas e das massas a ser transportadas. Desde 1960, a indústria de material ferroviário de diversos países está em constante desenvolvimento tecnológico com resultados excelentes de transporte sobre trilhos para passageiros.

O governador João Doria, em suas primeiras manifestações públicas, reconhece a necessidade de São Paulo conectar via ferrovia a capital com Americana, Sorocaba, Santos e Vale do Paraíba. Primeira resposta positiva à ansiedade dos técnicos ferroviários em mais de 60 anos e para milhares de pessoas abandonadas em meios de transporte inadequados.

Essa concepção abrange a Macrometrópole Paulista. Vale a pena pensar somente nisso, ou pensar planejado em harmonia com outros municípios e regiões? Ou ainda, saber da necessidade de ir além das nossas fronteiras, nascendo o germe dos trens de passageiros para demais Estados? Creio importante, “por que não pensarmos assim?”.

A capital federal, ilha distante, deve ser alcançada por ampla malha de transportes. O trem de passageiros em malha nacional precisa ser uma meta de governos, em perspectivas de planejamento ferroviário para próximos 30 anos. Territórios dos estados Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Brasília necessitam ser conectados, esse amplo pedaço do Brasil tem a necessidade de solução urgente, sem este alcance de mercados futuros estaremos perdendo tudo que construímos e passaremos a destruir cidades que se agigantam sem planejamento urbano, tornando-se espaços impossíveis de se viver. São Paulo já é assim.

Vivemos em estados que estão perdendo domínio da comunicação entre municípios, apesar de concentrarem a maior parte do PIB brasileiro. O povo é transportado em rodovias sujeitas a desastres, 50.000 mortos por ano, ônibus em médias de 80 Km/h, carros a 120 penalizados com multas em pequenos equívocos; metrôs e subúrbios médias de 60, aviões com custos cada vez mais estranhos, vivemos o lazer de horas paralisados no trânsito, ampla perda de tempo comercial, financeiro, de lazer e da saúde.

Relembro aqui frase do meu discurso de posse na presidência da Fepasa,1983 – “Nesses 35 anos, única pessoa que se manifestou contra, em artigo recente, foi Delfim Neto. Pensar grande não é pensar dispendioso, é não pensar medíocre e pequeno, como tem acontecido demasiadamente em nosso país, nestes últimos 60 anos”. Este ano de 2019 pode representar um novo tempo, as circunstâncias da eleição exigiram diferentes ações públicas. “Se você não está interessado nos assuntos do seu governo, então você está condenado a viver sob o domínio dos tolos”, Platão.

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