Vagões usados: que mercado é este?

FREDERICO KARG
Sócio-diretor da Freight Consultoria e Projetos Ltda e da Freight Car Comércio, Serviços e Locação de Materiais Ferroviários Ltda

O transporte ferroviário de cargas no Brasil, no limiar da renovação antecipada de suas concessões à iniciativa privada, enfrenta novos desafios. As exigências de aumento do transporte e redução de acidentes, constantes na privatização desses serviços, somar-se-ão a desafios mais complexos. Destacam-se aí a expansão racional da malha ferroviária, aumento da produtividade de seus ativos, diversificação dos serviços, com destaque para o transporte de contêineres e maior participação do capital privado.

Um assunto muito pouco discutido nesse contexto é o mercado de vagões usados. Esse assunto é quase um tabu no Brasil, pelo impacto negativo que, acredita-se, poderia trazer à nossa indústria de material ferroviário. Será mesmo?

Existem situações onde eles podem ser mais competitivos. Ademais, a sua utilização pode contribuir para a viabilização econômica de novas rotas e serviços.

O crescimento elevado do transporte ferroviário a partir da privatização, na década de 1990, ocorreu em poucas rotas e concentrado no minério de ferro e em granéis agrícolas. A maior facilidade dessa expansão e o maior retorno esperado explicam esse fato.

Muitas outras rotas com elevada demanda captável não foram priorizadas, devido ao pequeno volume transportado, falta de material rodante, baixa produtividade do existente, condições precárias das linhas férreas e maior complexidade do serviço. Sem escala de transporte, os investimentos se mostraram inviáveis. Porém, esse círculo vicioso terá que ser quebrado.

Algumas melhorias já foram implantadas. Dentre elas, o investimento de clientes e empresas de leasing em vagões, com destaque para a Mitsui Rail Capital Participações Ltda, estabelecida aqui em 2004, com uma frota da ordem de 3.000 vagões. Outras menores também surgiram explorando o mercado de vagões usados.

Ainda incipiente, esse mercado deverá crescer a partir dos seguintes fatos:

– Em muitas rotas ainda não é viável vagões novos, mas precisarão ser atendidas.

– A aquisição de vagões novos, desde a privatização, dobrou a frota nacional para mais de 120 mil unidades, metade delas com mais de 25 anos e cada vez menos adequadas às necessidades das concessionárias.

– Muitos deles foram transformados em graneleiros, plataformas para contêineres e “jumborizados” para cumprir, com menos recursos e de modo mais simples, a obrigação de atender também as rotas menos rentáveis.

– A “terceirização” dessas transformações, manutenção, propriedade e gestão dessa frota é vantajosa para as concessionárias, que focarão mais em atividades de sua vocação e mais lucrativas.

O mercado de vagões usados não é uma ideia nova. As ferrovias norte-americanas, uma boa referência para as nossas metas de desenvolvimento no setor, mostram isso.

Lá, a locação de vagões usados é bem desenvolvida, oferecendo:

– Locação mensal regular para atender apenas as necessidades de frota do usuário, num determinado período.

– “Leasing operacional”, que contempla o fornecimento da frota e os serviços de manutenção e reparos necessários.

– Gestão da frota do usuário.

Naturalmente, estamos aqui num estágio de desenvolvimento anterior. Entretanto, já é possível antever uma evolução nesse sentido.

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