Vida de ferroviário: histórias de profissionais que conduzem os trens da cidade

Ela caminhou a pé por todos as linhas que ligam os ramais de Japeri, Saracuruna, Santa Cruz, Belford Roxo, Paracambi, Deodoro, Saracuruna, Guapimirim e Vila Inhomirim à Central do Brasil, durante a capacitação para o cargo de maquinista. Aos 45 anos, Stella Junger celebra sua trajetória na data que homenageia os profissionais que trabalham nas linhas de ferro. A comemoração acontece em 30 de abril, em referência ao dia de inauguração da primeira estrada de ferro do país, em 1854. A Estrada de Ferro Petrópolis ligava o Rio de Janeiro a Raiz da Serra, em Magé.


Stella conta que conduzir cerca de 600 mil passageiros todos os dias é algo muito gratificante.


– Fazer parte do dia a dia das pessoas exige muita atenção e responsabilidade. Passamos por diversos treinamentos e transportamos vidas, sonhos e histórias – diz a maquinista.


Um dos momentos mais emocionantes da carreira foi quando, pilotando um trem a partir de Gramacho, na altura de Ramos, avistou o filho acenando da plataforma sobre a estação, há 12 anos.


– Ele sabia que eu trabalhava no trem, então ficou esperando para ver se era eu que estava conduzindo. Por acaso, olhei e lá estava ele me cumprimentando. Foi uma sensação única – relata a maquinista.


Matheus, filho de Stella, tinha 10 anos na época e se orgulha da mãe, que foi uma das primeiras mulheres a desempenhar a função de condutora na concessionária, junto com outras quatro colegas.


– Quando eu entrei, as pessoas ficaram surpresas. Fico muito feliz por transformar esse espaço majoritariamente masculino. Éramos cinco, hoje somos cem – conta Stella.


Hoje, ela atua na Supervisão de Tração. Além de sua função principal, dá cursos de reciclagem para maquinistas e palestras para os demais colaboradores da SuperVia.


Atualmente, a concessionária gerencia 270 quilômetros de linhas férreas com 102 estações em oito diferentes linhas que passam pelos municípios do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Nilópolis, Mesquita, Queimados, Magé, Guapimirim, Paracambi, São João de Meriti, Japeri e Belford Roxo.


 
Duas gerações de ferroviários


Eduardo José da Costa Faria, de 56 anos, cresceu no ambiente ferroviário. Seu pai era funcionário da rede e garantiu os estudos no Centro de Formação Profissional, o Colégio da Ferrovia, no Engenho de Dentro, Zona Norte do Rio de Janeiro.


Sua carteira foi assinada em fevereiro de 1977 como aprendiz. Ele lembra que o hino dos ferroviários fazia parte da rotina diária dos estudantes.


– Nós cantávamos o Hino Nacional, da bandeira e dos ferroviários, religiosamente – comenta Eduardo.


Dentre suas relíquias de profissão encontra-se o estatuto dos profissionais de estradas de ferro. O livreto, hoje com páginas amareladas, ficava, segundo ele, no bolso das camisas dos funcionários. Guardado com muita estima, o item é objeto de lembrança do pai, que se aposentou em 1986.


– O orgulho que sinto por ele abriu os caminhos para que eu pudesse chegar onde estou – relata Eduardo, que hoje é Supervisor do Centro de Operações.


A sala onde trabalha é repleta de computadores e sistemas de monitoramento dos trens. Eduardo conta que nem sempre foi assim.


– Antigamente, nós licenciávamos os trens através de código morse. E, quando a tecnologia chegou, não acreditamos que podia dar certo. Hoje, tenho acesso a diversas informações com poucos cliques – explica.


 
Bom humor e gentileza no metrô


Há 11 anos, o maquinista Marcos Paulo arranca sorrisos e elogios dos passageiros que transporta diariamente. O profissional inicia o seu serviço comunicando mensagens positivas aos passageiros.


Desejo a todos uma boa viagem e que, mesmo diante dos desafios da vida, vocês consigam realizar seus projetos e sonhos. A frase é repetida como um mantra ao início de cada viagem.


Segundo ele, as mensagens motivacionais visam inspirar os usuários que se transportam diariamente. O gesto simples de Marcos agracia o dia de milhares de cariocas que iniciam sua rotina com um toque de gentileza.


Conhecido como maquinista alto astral, Marcos coleciona histórias de usuários que o abordaram para agradecer pelas mensagens positivas.


– Certa vez, um passageiro chegou à porta da cabine, apertou e beijou minha mão e olhou para o céu. Fiquei muito emocionado, porque lembrei do meu avô, que dava a sua mão para a gente beijar e pedir a benção – lembra Marcos Paulo.


O maquinista relata um episódio onde um usuário o abordou para dizer que a mãe havia acabado de falecer e que o que ele havia dito fez muito sentido para a vida dele naquele momento de dor.


 

Fonte: https://extra.globo.com/noticias/rio/vida-de-ferroviario-historias-de-profissionais-que-conduzem-os-trens-da-cidade-23631098.html

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