Poucos países no mundo ostentam, neste momento, taxas de desemprego tão altas ou piores que as do Brasil. Alguns ou estão em guerra fratricida, como a Síria, ou vivem um caos político, como a Venezuela.
Felizmente, no Brasil, não estamos enfrentando nenhum problema do tipo, muito menos revoluções ou conflitos étnicos. No entanto, a taxa de desemprego não sai do patamar de 12% a 13% há quase quatro anos. Por que não estamos conseguindo diminuir o desemprego?
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O governo Michel Temer (MDB) apostou tudo na reforma trabalhista, mas os empregos não apareceram depois dela. O mesmo deve acontecer agora com a reforma da Previdência. Esta é necessária: sozinha, porém, não será capaz de fazer com que as vagas retornem.
Para nós, brasileiros, é importante saber como outros países combateram ou combatem esse flagelo. Isso por que há medidas tradicionais que têm sido adotadas com muito sucesso lá fora e que deveríamos tentar repetir por aqui. Afinal, não somos o primeiro país do mundo a registrar alto desemprego.
Talvez a mais importante dessas medidas seja a do investimento em infraestrutura. A construção de estradas, ferrovias, aeroportos e hidrelétricas promovem o aumento da competitividade dos países onde são executadas -e isso, por si só, já seria um fator de geração de empregos. Mas o efeito mais direto é a criação de empregos de baixa qualificação, quando da execução das obras. Por exemplo: para se construir uma ferrovia ou rodovia há a necessidade de milhares de trabalhadores sem muita qualificação. E estes são hoje, justamente, a grande maioria dos desempregados.
Por que então não se investe mais em infraestrutura? Evidentemente, por falta de recursos financeiros para bancar esses investimentos. Como o governo brasileiro está praticamente “quebrado”, com seu déficit fiscal superando R$ 100 bilhões neste ano, não há como desempenhar o papel de investidor. Se o fizesse, aumentaria ainda mais esse déficit. Os empresários brasileiros também estão com suas capacidades de investimento esgotadas.
Logo, se faz necessário atrair empresas de fora, que venham com o capital necessário para realizar investimentos e obras. Este modelo foi tentado no governo Dilma Rousseff PT). Só não funcionou por que as exigências feitas às empresas interessadas eram draconianas -a maioria desistiu de participar. Fundamental que se aprenda com aqueles erros para não cometê-los novamente. Mas o principal é que não se imponham restrições ao ganho das empresas, como foi feito da outra vez.
Aliás, nestes últimos anos o Brasil apreendeu muito, e a Lava Jato ajudou a desnudar como funcionam os cartéis de empreiteiras. Uma lição importante é que, se empreiteiras estrangeiras tivessem participado, principalmente das obras da Petrobras, a vida dos cartéis teria sido muito mais difícil, e os acertos de preços que encareceram substancialmente as obras provavelmente não teriam acontecido. Ou seja: há uma razão a mais para abrirmos os mercados de obras de infraestrutura para empreiteiras e capital estrangeiro.
Nunca é demais lembrar que a China foi o país que mais cresceu no mundo nos últimos 30 anos. Sua enorme transformação -de um país tão pobre quanto o Brasil, nos anos 80, para a segunda maior potência mundial- começou com os maciços investimentos que o governo chinês fez no final do século passado em obras de infraestrutura.
Com isso, gerou os empregos que possibilitaram iniciar a formação de uma classe média que hoje, em tamanho, é a maior do planeta.
O Brasil não tem alternativas, pois, a perdurar as atuais taxas de desemprego, a crise social se escancara. Priorizar obras de infraestrutura é a saída inteligente para tornar o país mais competitivo e diminuir substancialmente o desemprego.
*Paulo Feldmann
Professor de economia da USP e ex-presidente da Eletropaulo (1995-96, governo Covas)
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