A troca de um modal ferroviário de média capacidade por um sistema de ônibus não marca somente as discussões sobre a linha 18 Bronze, entre parte do ABC e da capital paulista, onde o Governo do Estado de São Paulo estuda a possibilidade de converter o projeto de monotrilho em um BRT , sistema de ônibus rápidos.
Na última sexta-feira, 21 de junho de 2019, em entrevista ao Jornal do Meio Dia, da TV Vila Real, o secretário de Mobilidade Urbana de Cuiabá, Antenor Figueiredo, disse que acredita que o VLT – Veículo Leve Sobre Trilhos dará lugar a um corredor simples de ônibus ou a um BRT – Bus Rapid Transit.
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“Eu já tenho a informação que o VLT não vem, o VLT não sai. Eu tenho essa informação. Primeiramente nós precisamos acabar com essa ferida deixada por esse imbróglio do VLT. Eu acredito que o VLT não sai. Talvez venha um novo modelo, um BRT, um corredor de ônibus”, disse à emissora de TV, de acordo com reprodução dos portais FolhaGO e Folha Max, de notícias da região.
Apesar de nas duas possibilidades haver pistas exclusivas para ônibus, um sistema de BRT tem maior capacidade e velocidade que um corredor simples de ônibus. No BRT, há pontos de ultrapassagem entre os ônibus possibilitando linhas paradoras, semi-expressas e expressas. Também há estações fechadas no lugar dos pontos, embarque acessível no mesmo nível do assoalho do ônibus e pré-embarque, que é o pagamento da tarifa na estação e não dentro do ônibus que, nestes casos, não têm catracas.
A decisão oficial sobre o meio de transporte, entretanto, é do Governo do Estado, já que o projeto é para ligar as cidade de Cuiabá e Várzea Grande.
FRAUDES PARA O VLT:
As obras estão paradas desde 2014, quando o governador ainda era Silval Barbosa, e o modal estava previsto para ser entregue até a Copa do Mundo.
Inicialmente o projeto era de BRT, que custaria menos da metade.
Foi cogitada até mesmo uma possível fraude do Ministério das Cidades para a implantação de um VLT – Veículo Leve sobre Trilhos. A PF – Polícia Federal diz que houve irregularidades.
Com verbas de R$ 500 milhões já liberadas, na ocasião, para a construção de um corredor de ônibus rápido, BRT – Bus Rapid Transit, o Governo do Mato Grosso decidiu trocar o sistema de transportes para VLT.
Com isso, as obras para atender o mesmo trajeto subiriam de R$ 500 milhões para R$ 1,2 bilhão, uma diferença de gastos de R$ 700 milhões a mais.
A alegação do Governo do Estado para o Ministério das Cidades é de que o VLT transportaria mais pessoas e mais rapidamente.
Mas o estudo técnico para convencer o Governo Federal a financiar o modal sobre trilhos teria sido adulterado, o que prejudicou a comparação de fato entre os dois modais, de acordo com as investigações do Ministério Público.
Em agosto de 2017, a operação “Descarrilho”, da Polícia Federal, revelou esquemas de corrupção no processo licitatório e implantação da obra do VLT.
Com isso, o governador Pedro Taques decidiu rescindir o contrato com o Consórcio VLT-Cuiabá/Várzea Grande, formado pela CR Almeida, CAF, Santa Barbara e Magna.
Antes da operação da Polícia Federal, Taques chegou a cogitar o pagamento de R$ 922 milhões para o consórcio retomar as obras.
De acordo com a Polícia Federal, ocorreu um superfaturamento superior a R$ 120 milhões para a compra dos trens, fruto do RDC – Regime Diferenciado de Contratações, que tem regras mais “flexíveis” que as previstas pela “lei de licitações” 8666/93. O RDC foi usado em várias obras para a Copa em diversas partes do país.
No dia 06 de junho, em segunda instância, o TJMT – Tribunal de Justiça de Mato Grosso negou recurso contra a rescisão do contrato, movido pelo consórcio da CR Almeida, CAF, Santa Barbara e Magna.
A indefinição dos modais de transportes não é o único ponto coincidente entre o VLT do Mato Grosso e o monotrilho do ABC. O Consórcio VemABC, da linha 18, tem a CR Almeida na composição. O VemABC tem a seguinte estrutura acionária: 55% Primav Construções e Comércio S/A (sendo que o grupo italiano Gavio tem 69% e o Grupo CR Almeida responde por 31%), 22% da Construtora Cowan S.A., 22% do Grupo Encalso Damha e 1% do Grupo Roggio, argentino.
Entretanto, não há nenhuma suspeita e investigações sobre a escolha do VemABC na licitação vencida para a linha 18.
Na semana passada, o governo de Mato Grosso revelou que gasta R$ 16 milhões por mês para a manutenção e vigilância dos trechos de obras que foram iniciados e das composições que já foram compradas.
A Fecomercio/MT – Federação do Comércio do Mato Grosso, de forma oficial, divulgou posicionamento sendo favorável à retomada do VLT.
Depois da polêmica substituição do BRT pelo VLT, as obras começaram em agosto de 2012 já com R$ 1 bilhão em caixa, mas pouco avançaram até serem paralisadas em dezembro de 2014.
Se estivesse pronto, o VLT Cuiabá-Várzea Grande teria duas linhas que somariam 22 km de trilhos: Aeroporto-CPA e Caxipó-Porto.
Seriam 33 estações e três terminais de transferência. A previsão era de 40 composições com 280 carros (vagões).
Cada composição tem capacidade para transportar até 400 passageiros com 72 lugares sentados.
Para substituir o meio de transporte por ônibus rápidos, o Governo do Estado considera a operação de três veículos articulados (que somariam em torno de 420 passageiros) para cada VLT, que teriam partidas em menor intervalo e se mesclariam entre linhas paradora e expressa.
Até o final de julho o Governo do Estado deve dar a decisão final sobre se mantém o projeto de VLT ou se haverá substituição do BRT ou corredor simples de ônibus.
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