Encontro para falar de ferrovia

O III Seminário Infraestrutura de Transporte Ferroviário, que aconteceu ontem (quinta, dia 5) dentro da 25ª Semana de Tecnologia Metroferroviária, em São Paulo, reuniu representantes do governo federal e do estado de São Paulo, BID e operadoras de carga para falar sobre perspectivas, investimentos e gargalos do setor ferroviário de carga e de passageiros. Coordenada por Vicente Abate, presidente da Abifer, e por Frederico Bussinger, diretor da Katálisys Consultoria, o encontro foi dividido em dois temas principais: “O crescimento do setor ferroviário” e “Projetos Ferroviários para o Estado de São Paulo”.

O secretário nacional de Transporte Terrestre do Ministério de Infraestrutura General Jamil Megid Júnior, falou sobre os planos do governo de aumentar a participação da ferrovia na matriz de transportes, dos atuais 16% para 30% até 2030. Para isso citou os projetos em discussão no ministério, como os leilões do trecho 1 da Fiol, entre Ilhéus e Caetité, na Bahia, previsto para o próximo ano; a renovação das concessões ferroviárias, que poderá permitir a construção da Fico, no trecho entre Mara Rosa (GO) e Água Boa (MT) – com recursos da prorrogação do contrato da EFVM.

O presidente da MRS, Guilherme Mello, falou sobre o Ferroanel Norte, que não deve ser concretizado no médio prazo. “”Em um trecho de 54 quilômetros, será necessária a implantação de obras de arte em 28 quilômetros. A gente não enxerga necessidade, neste momento, para a quantidade de carga”, disse, reforçando o plano da companhia de segregar vias na Grande São Paulo, para reduzir os conflitos entre carga e passageiros na região.

“Vai ser feita uma segregação total entre as linhas de carga e passageiros. Com isso, vamos liberar as linhas para os trens de passageiros da CPTM e ter uma linha dedicada para carga”. Outro problema apontado por Melo é o trecho entre os bairros paulistanos de Barra Funda e Mooca, que concentram uma grande quantidade de linhas, e que representa um gargalo para o transporte de carga, justamente por interferirem no trecho de maior adensamento do transporte de passageiros da capital paulista. “Precisamos realizar obras ali, para poder passar com trens maiores. Hoje, operamos muito pela madrugada e fora do horário de pico”.

O diretor Regulatório e Institucional da Rumo, Guilherme Penin, falou sobre a interligação da Ferrovia Norte-Sul com a Malha Paulista/ Porto de Santos. “Restam obras em uma extensão de 70 quilômetros para que esses ramais fiquem interligados”, disse, se referindo ao tramo Centro-Sul da ferrovia, que vai de Porto Nacional (TO) a Estrela D’Oeste (SP). E também destacou o transporte de contêineres, que cresce de 30% a 40% por ano.

Fabiano Lorenzi, diretor comercial da VLI, contou que a companhia nasceu a partir da identificação da ineficiência do transporte de grãos no país. “De 2013 até 2019, investimos 9 bilhões de reais para estruturar esse sistema de exportação de grãos, entre outros trabalhos, e podemos afirmar que o investimento em infraestrutura realmente traz um retorno significativo para a sociedade de maneira geral”.

Transporte passageiros

No segundo painel, sobre “Projetos Ferroviários para o Estado de São Paulo”, Alexandre Baldy falou sobre a segregação de vias. “Defendemos com exclusividade a segregação de vias no aproveitamento de malha existente”, declarou, dando a entender que o governo de São Paulo poderia apoiar o projeto proposto pela MRS (de construção de 120 km de linha exclusiva para carga, dentro da faixa de domínio já existente na Grande São Paulo e que hoje é compartilhada entre MRS e CPTM). Em janeiro, enquanto o Ferroanel Norte ainda era discutido como solução número 1 para o problema de compartilhamento entre carga e passageiros na Grande São Paulo, o governador João Doria chegou assinar um protocolo de intenções com o governo federal para a construção do projeto, que prevê a ligação ferroviária de 53 km entre Perus e Itaquaquecetuba.

Rodrigo Sarmento Barata, coordenador de Estruturação de Projetos da Secretaria Executiva de Parcerias do governo de SP, comentou sobre os projetos previstos em parceria com a iniciativa privada. “Em fevereiro, definimos 21 projetos ferroviários prioritários para o estado, com destaque para a concessão das Linhas 8 e 9 da CPTM e do Trem Intercidades”, disse.

A especialista em Transportes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ana Beatriz Figueiredo de Castro, destacou como a organização financeira está apoiando os projetos ferroviários do governo. “Até agora, estamos financiando o Plano Diretor de Mobilidade da Macrometrópole e apoiando a estruturação do TIC no Eixo São Paulo – Campinas e na concessão da linha 7 da CPTM”.

Castro também destacou que várias cidades do mundo, como San Francisco, apostam na exploração não-tarifária como fonte de financiamento. “Eles exploram muito bem o potencial imobiliário de seus espaços e isso rende a maior parte de suas receitas. Alexandre Baldy endossou a tese, afirmando que os estudos nesse sentido ainda estão sendo feitos. “Nós ainda não conseguimos vislumbrar todo o potencial dessas receitas não-tarifárias. É um campo enorme de ação que começamos a analisar e que deve render muitos resultados”.

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