Em meio à polêmica sobre a retomada ou não das obras da estação do metrô da Gávea , especialistas ouvidos pelo GLOBO foram unânimes em um ponto: tecnicamente , a pior opção é aterrar o buraco, como propôs o governador Wilson Witzel na semana passada. Entidades como o Clube de Engenharia, a Associação de Empresas de Engenharia e a Coppe/UFRJ, além de técnicos que participaram do projeto, afirmam que o ideal é concluir toda a Linha 4 ou, no mínimo, fazer a estrutura da estação, que está inundada desde agosto de 2017 .
– Essa é uma obra com estruturas provisórias em um canteiro alagado. O ideal é retomar as intervenções e concluir a estação. Se não for possível, ao menos finalizar o revestimento – disse Luiz Fernando Santos Reis, presidente da Associação de Empresas de Engenharia.
Estruturas vencidas
A manutenção da estação alagada é motivo de divergências. Após se reunir nesta quarta-feira com técnicos do estado e da PUC-Rio, o presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, informou que já expirou a vida útil das estruturas metálicas provisórias usadas na construção da estação, que seria de apenas de dois anos. Segundo ele, não se sabe quanto tempo elas vão resistir. Mas, para o professor da Coppe/UFRJ Mauricio Ehrlich, esse risco não existe, porque a inundação do buraco reduziu a pressão nessas peças, que são projetadas para suportar uma sobrecarga equivalente a 140% do peso da estrutura que está em construção.
– A estação pode ficar mais tempo alagada. Aterrar tem mais custos, tanto para executar quanto para retirar o material ao retomar as obras. E isso precisa ser feito com muito cuidado para evitar recalques – disse Ehrlich.
Nessa discussão, há um outro componente. Esvaziar o canteiro – seja para retomar o projeto ou para aterrar o buraco – será tecnicamente mais difícil do que deixar a estação submersa, segundo algumas avaliações. Engenheiros que participaram das obras explicaram que o processo de retirada da água terá que ser lento – em média, meio metro por dia, o que poderá levar até quatro meses para terminar – e com um monitoramento constante, para detectar recalques que possam colocar em risco prédios vizinhos.
– Se a estação for aterrada, esse monitoramento terá que ser feito várias vezes. No momento de esvaziar a estação, durante a colocação da terra e quando tiver que remover tudo para retomar as intervenções – disse um dos engenheiros que atuaram no projeto e pediu para não ser identificado.
A PUC fez um estudo sobre a estação da Gávea, mas a universidade não quis se pronunciar sobre o caso, porque está concluindo uma avaliação da obra a pedido de Witzel. Procurado, o governador não quis comentar as opiniões dos especialistas. O Palácio Guanabara informou apenas que a posição do governo está mantida. A ideia inicial é aterrar a estação, mas o estado pediu recursos recuperados pela Lava-Jato, que poderão ser usados na obra. A conclusão do projeto custaria R$ 1 bilhão.
Mas a liberação do dinheiro da Lava-Jato ainda depende de um acordo com a União. Outro ponto é que uma ação judicial impede repasses do estado para o consórcio responsável pela obra devido à suspeita de superfaturamento.
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