Ministro nega que Brasil seja vilão ambiental e descarta privatizar Petrobras

Um dos mais bem avaliados integrantes do governo de Jair Bolsonaro, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, negou em entrevista à Agência Efe que o Brasil seja um vilão do meio ambiente e revelou que convidaria o presidente da França, Emmanuel Macron, a sobrevoar a Amazônia para mostrar a ele o compromisso do país com a preservação da floresta.

Antes de partir em viagem para apresentar o programa de concessões do governo federal para investidores da Espanha, Tarcísio concedeu entrevista à Agência Efe em São Paulo e deu detalhes sobre os planos do governo para o setor comandado por ele.

Em Madri, para onde viaja na próxima semana, o foco será atrair investimentos para o Brasil, em especial para infraestrutura de transporte de carga.

Militar e engenheiro de formação, Tarcísio só fica atrás de Sergio Moro e Paulo Guedes na preferência da população, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em setembro, mas diz não pensar nesse tipo de avaliação. Para ele, o sucesso da pasta se deve à coragem de Bolsonaro de romper uma tradição de governos anteriores e escolher pessoas com perfil técnico para gerir os principais ministérios.

Na entrevista, Tarcísio também negou que o governo estude a privatização da Petrobras. Segundo ele, o plano de desinvestimento em andamento na estatal dará a ela a capacidade necessária para competir nos próximos leilões que estão sendo organizados pelo governo.

Agência Efe: Ministro, a Aena (operadora espanhola de terminais aeroportuários) já investiu forte no Brasil, a Air Europa está investindo também e agora você terá esse “roadshow” em Madri. O senhor poderia explicar a agenda que levará até lá? Que setores o governo está interessado em atrair para o Brasil?

Tarcísio Gomes de Freitas: Vamos ter uma agenda muito importante em Madri na semana que vem. A Espanha tem sido nosso parceiro de longa data, investido muito na nossa infraestrutura. (…) Será uma oportunidade de mostrar o nosso programa de concessões, que é vigoroso, que está muito bem estruturado e com o qual estamos atacando de uma forma bastante interessante os riscos associados a contratos de longo prazo. A Espanha nos interessa muito pelo potencial e pela quantidade de operadores de infraestrutura de qualidade o país tem.

Efe: De que áreas da infraestrutura estamos falando?

Tarcísio: De uma série de operadores de todos os setores importantes para nós. Falo de empresas dos setores aeroportuário, rodoviário, ferroviário e portuário. Fica difícil citar alguma porque eu cometeria alguma injustiça. Há também os bancos. O Santander está nos ajudando na montagem desse “roadshow”. Tenho certeza de que será uma semana muito produtiva.

Efe: Um dos pontos fortes das empresas espanholas de infraestrutura é o setor ferroviário. O Brasil já teve um projeto de trem de alta velocidade que não chegou a sair do papel (o trem-bala Campinas-Rio de Janeiro). O senhor vai retomá-lo?

Tarcísio: Nós vamos falar do nosso programa ferroviário, que é muito importante, mas em função das carências que nós temos hoje, ele está muito focado na questão do transporte de carga. Há importantes operadores espanhóis que podem nos ajudar muito nesse serviço, agregando tecnologia, know-how. Um dos nossos objetivos será despertar o interesse das empresas espanholas. Posso citar uma delas, a Ferrovial.

(…) Outra porta que estamos abrindo aqui no Brasil é a da ferrovia autorizada. É uma mudança que estamos fazendo no nosso sistema jurídico para permitir autorizações de ferrovias. Ou seja, a partir do momento que o setor privado sinaliza a intenção de investir e tem o interesse em assumir o risco de engenharia, em contrapartida ele tem a perpetuidade do bem. Começaremos a ter ferrovias privadas no Brasil. Onde há perpetuidade, há liberdade de tarifa e isso acaba mitigando um pouco o risco de demanda. É, sem dúvida, uma medida que também pode despertar o interesse (dos espanhóis).

Efe: O senhor comentou que muitas pessoas falam da Amazônia sem nunca ter pisado lá, mas os incêndios na região estão prejudicando a imagem do país. Que trabalho pode ser feito para explicar melhor o que está acontecendo aos governos estrangeiros?

Tarcísio: É preciso falar com autoridade. Eu conheço bem a Amazônia, trabalhei e morei lá por seis anos. Mostraremos o compromisso que nós temos, o que vamos fazer para preservar este patrimônio brasileiro e mostrar que sabemos harmonizar provisão de infraestrutura e conservação do meio ambiente. Nosso programa está completamente estruturado nesse eixo. Estamos em busca dos selos verdes e sabemos fazer isso. Quero mostrar que temos tecnologia, experiência e, sobretudo, compromisso. É para deixar isso muito claro, fugindo da guerra de narrativas. Mostrar tecnicamente o nosso compromisso e que esse compromisso dará resultados.

Efe: O que o senhor diria ao presidente da França, Emmanuel Macron, se o encontrasse agora?

Tarcísio: O convidaria a fazer um voo de São Gabriel da Cachoeira a Manaus e diria que ele se surpreenderia com o nível de preservação da floresta. E mostraria que temos compromisso.

Efe: O senhor é um dos ministros mais bem avaliados em um governo com altos índices de desaprovação. É um peso muito grande ter essa avaliação tão boa?

Tarcísio: Sinceramente, isso é uma coisa em que eu não penso. Eu atribuo isso ao fato de o Ministério da Infraestrutura estar dando resultado. Acho que nossa virtude é ter excelentes técnicos e isso é um grande mérito do presidente Bolsonaro, que rompeu com uma tradição ruim no Brasil de fazer nomeações políticas. Ele teve a coragem de fazer esse enfrentamento, colocou técnicos às frentes das pastas e nos permitiu montar times técnicos que dão resultados.

Efe: O acordo entre União Europeia e Mercosul pode ser prejudicado pelas tensões entre o Brasil e alguns governos europeus?

Tarcísio: Espero que não. Vou procurar (na viagem a Madri), inclusive, mostrar que temos compromisso, que somos bons de preservação do meio ambiente. O Brasil sempre teve know-how nisso, sempre contribuiu com o esforço global de mitigação de impactos. Não somos nós que causamos o aquecimento. Nossa parcela de emissões (de gases poluentes) é ínfima, somos responsáveis por apenas 1,6% das emissões do mundo. Não somos os vilões dessa história. Sempre tivemos respeito e compromisso com o meio ambiente e vamos mostrar isso de uma forma técnica. Esperamos conseguir virar esse jogo.

O acordo Mercosul-UE é um acordo que precisa ter uma relação ganha-ganha. Ambos os lados estão ganhando com o acordo. É importante para nós, é importante para outros países. É por isso que, às vezes, há contaminação do discurso, inclusive com relação à questão ambiental, por causa do interesse de alguns países que acabam perdendo um pouco para o nosso agronegócio competitivo. Isso tem que ser deixado de lado. O acordo vai ser muito bom para todas as partes.

Efe: A Petrobras será privatizada?

Tarcísio: Em nenhum momento isso tem sido falado no governo. Não é uma discussão que está na pauta e não foi deliberado no conselho do programa de parceria de investimento. Acho que há sim um plano de desinvestimento importante da Petrobras, com o qual ela está recuperando a capacidade de investimento. Nós demos passos importantes, que foram as vendas da TAG e do controle acionário da BR Distribuidora. E agora a Petrobras está se preparando para participar dos leilões de partilha. Estamos na iminência de ter o maior leilão de óleo e gás do mundo, que com certeza dará um impulso grande ao setor. Temos que ter tranquilidade e foco para trabalhar porque isso vai ativar uma série de atividades econômicas. Essa é a agenda de hoje.

Fonte: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2019/09/30/ministro-nega-que-brasil-seja-vilao-ambiental-e-descarta-privatizar-petrobras.htm

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