Uma manhã de novembro, enquanto Veneza acordava com um sol brilhante, turistas desceram do trem na Estação de Santa Lucia, do outro lado do Canal Grande. Entre outros casais estavam Natalia Goia e Maximiliano Amestoy, do Uruguai. Eles haviam saído de Viena na noite anterior, dormido em um compartimento com poltronas reclináveis, e já estavam de pé, prontos para explorar Veneza antes que a maioria dos visitantes terminasse a primeira refeição do dia.
“Estávamos com muito sono”, disse Natalia, feliz com a viagem de 11 horas através dos Alpes austríacos. Eles trocaram uma noite em um hotel caro em Veneza por passagens de trem mais baratas. A ligação noturna para Veneza está sendo um dos destinos cada vez mais procurados oferecidos pela ÖBB, a ferrovia federal da Áustria, a Nightjet. Enquanto as operadoras de toda a Europa cancelam os trens noturnos e fecham este tipo de serviços por considerá-lo não lucrativo, a ÖBB expandiu sua rede, e deixou todo mundo intrigado com a sua façanha.
“Às vezes, é um golpe de sorte”, disse Andreas Matthä, diretor executivo da companhia. Em 2016, quando a Deutsche Ban da Alemanha, lutando para cortar os custos, decidiu acabar com os serviços noturnos, ele explicou, a Áustria se encontrou diante do dilema de investir em dispendioso material rodante e continuar servindo um mercado de nicho, ou concentrar-se nas viagens diurnas.
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A ÖBB decidiu ficar com as rotas mais lucrativas da Deutsche Bahn, comprando vagões dormitórios de segunda mão que, embora mais novos do que os seus, haviam se tornado obsoletos. Desde que a Nightjet começou a operar em 2016, o número de passageiros dobrou, e a ÖBB informou que, no ano passado, transportou 1,4 milhão de passageiros com o seu serviço.
Depois que a jovem ativista na questão do clima, Greta Thunberg, navegou pelo Atlântico a fim de não usar o avião para participar de uma reunião na ONU, em Nova York, no verão passado, muitas pessoas na Europa decidiram não usar mais o avião para viajar, ou pelo menos não em voos curtos, e passaram a utilizar trens e ônibus.
A partir de abril, a Alemanha deverá aumentar o imposto sobre os voos domésticos e da União Europeia enquanto este mês, o imposto sobre o valor agregado nas passagens de trens será reduzido. O governo sueco está avaliando conexões noturnas para a Europa continental.
Os trens Nighjet oferecem assentos para viajar sentados, vagões no estilo beliche onde dormem de quatro a seis pessoas, vagões leito com cartões de acesso, como nos hotéis, roupa de cama confortável e cabines privadas com banheiro. Os preços de uma poltrona até Veneza começam em 29,90 euros (US$ 33), só ida, ainda competitivos em relação aos bilhetes aéreos, mas sobem rapidamente a mais de 100 euros para uma cabine leito compartilhada com outras duas pessoas.
A ÖBB começou a produção no ano passado com cerca de 375 milhões de euros de material rodante da Siemens, que inclui 13 trens noturnos com um design semelhante aos casulos individuais com uma cama para um pessoa só. Com a mudança, serão introduzidos os primeiros trens noturnos na Europa desde que o Caledonian Sleeper, que liga Londres à Escócia, lançou vagões novos no ano passado.
A companhia já tem trens para passageiros internacionais em 14 países, e trens de carga em mais de 18. Este mês, a Nightjet expandirá os serviços para duas vezes por semana até Bruxelas, e a ÖBB tem planos para Amsterdã em 2021. Matthä é um forte defensor dos trens noturnos da ÖBB. Ele falou da alegria de saborear seu café ristretto italiano ao descer em Veneza. “Vire à esquerda”, ele mostrou, sorrindo. “Espresso ristretto”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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