Conectado às mudanças significativas que estão em curso no mercado de óleo e gás no Brasil, o grupo Cosan reuniu ativos e projetos de energia elétrica e gás natural em uma nova empresa, a Compass Gás e Energia. Como o nome informa, a Compass vai investir em projetos de energia elétrica e gás que estão no pipeline da Cosan, além de incorporar operaçções já existentes, incluindo Comgás e Compass Comercializadora, comprada no ano passado.
Esses ativos foram contribuídos pela Cosan na nova empresa, disse Nelson Gomes, presidente da Comgás, que acumulou o comando da Compass. A constituição da nova empresa, apresentada ontem durante o Cosan Day, evidencia a aposta do grupo no Novo Mercado de Gás, programa que vai instituir o mercado livre de gás, aos moldes do que já aconteceu em energia elétrica. Contudo, o momento é turbulento. A forte queda dos preços do petróleo e o câmbio ainda mais desvalorizado podem afetar os planos de venda de ativos do sistema Petrobras, bem como cronograma e custos de novos projetos na área de energia.
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Para o presidente da Cosan, Marcos Lutz, a desvalorização atual do petróleo é demasiada, diante dos custos de produção de óleo no mundo. A queda não deve ser estrutural deste tamanho, desta magnitude. Por outro lado, a mudança de câmbio pode ser mais estrutural, afirmou.
Em infraestrutura, a Compass nasce com dois projetos em fase de licenciamento: o Rota 4, gasoduto que trará o gás do pré-sal para o continente, e um terminal de importação de gás natural liquefeito (GNL) no litoral paulista. Em distribuição, a nova empresa passa a atuar por meio da Comgás e vai buscar a expansão no Sudeste e demais regiões do país. Até 2024, quando se encerra o atual ciclo regulatório, a distribuidora de gás paulista deve investir cerca de R$ 900 milhões por ano.
A Compass vai garantir a execução do plano regulatório da Comgás e vai olhar seletivamente algumas das oportunidades de aquisição via privatização que haverá no país, disse Gomes. Conforme o executivo, a companhia tem de olhar todos os ativos de distribuição que forem colocados à venda por obrigação, e não há, de partida, um alvo específico.
Variáveis como localização geográfica, volume e quadro societário definirão o interesse no ativo e a proximidade com São Paulo, área de atuação da Comgás, é um fator que será levado em conta. Poderíamos ser minoritários, vai depender do acordo de acionistas, afirmou, acrescentando que a estratégia será definida à medida que os processos de venda forem abertos.
Em geração de energia, o foco está na busca de oportunidades de participação em projetos termelétricos a gás natural. A Compass quer participar dos leilões de energia com parceiros estratégicos, disse. Em 2020, a nova empresa deve participar do leilão de térmicas em associação com algum sócio, com projetos já licenciados, para conhecer o mecanismo da operação. Se for bem sucedido, é possível que no que vem a gente participe [com mais apetite], comentou.
Completando a estrutura da nova empresa, a comercializadora de energia Compass Comercialização traz a experiência do pioneirismo da abertura do mercado elétrico. Ela traz essa inteligência para ajudar a gente a trilhar esse mesmo caminho na comercialização de gás natural no mercado livre, afirmou Gomes. A Compass já tem autorização como comercializadora de gás e está pronta para iniciar essa atividade assim que o acesso a gasodutos e à infraestrutura da Petrobras estiver de fato ocorrendo – a garantia de acesso ainda depende de regulamentação.
Embora o Termo de Compromisso de Cessação (TCC) firmado entre a estatal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cadê) no ano passado preveja que essa infraestrutura esteja disponível a terceiros até o fim de 2021, o desejo é acelerar o processo. Ficou claro o desejo de antecipar. Mas o quanto teremos de habilidade para influenciar para que isso se formalize antes, vamos ver, comentou.
A privatização de parte do sistema Petrobras também muda a configuração da distribuição de combustíveis, na qual o grupo está presente com a Raízen, joint venture com a Shell. A Cosan, via Raízen Combustíveis, está na segunda fase da disputa por determinadas refinarias e a integração das operações deve trazer ganhos, a exemplo do que ocorreu com a compra dos ativos da Shell na Argentina, que incluíram refino.
No ano passado, segundo Ricardo Mussa, que em abril assume o comando da Raízen sucedendo Luis Henrique Guimarães, as sinergias entre Raízen Combustíveis e Raízen Argentina ficaram em R$ 150 milhões. Mas podem chegar a R$ 350 milhões, provenientes da importação de combustíveis, custos e eficiência. As empresas já operam com uma mesa única de importação.
Na avaliação de Mussa, a venda de ativos da Petrobras trará mudanças profundas uma vez que o sistema foi desenhado originalmente para operar de forma única e integrada. O sistema vai mudar radicalmente. A utilização da logística vai mudar e a maior dificuldade está em entender como vai funcionar o sistema pós-refino, afirmou.
Durante o Cosan Day, o presidente da Rumo, Beto Abreu, disse ainda que as obras da ferrovia Norte-Sul estão cumprindo o cronograma. Em 2021, [a ferrovia] começa a operar de forma bastante intensa nessa região com tanto potencial, afirmou. A empresa arrematou a concessão do trecho em março do ano passado e assumiu o compromisso de investir R$ 2,7 bilhões ao longo de 30 anos. Ao fim das obras, a via fará interligação com a Malha Paulista, também da Rumo, o que trará enormes sinergias, afirmou Abreu.
Já o contrato aditivo para a renovação antecipada da Malha Paulista deve ser assinado nas próximas semanas. Neste momento, o aditivo está sob análise da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e, em seguida, segue para a reta final, que é um retorno ao Tribunal de Contas da União (TCU). Nessa etapa, porém, não haverá nova análise, mas apenas a determinação da data da assinatura do contrato. A negociação está praticamente finalizada, está muito próximo, comentou.
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