Se política econômica mudar, mercado vai reagir, diz Guimarães

O momento exige equilíbrio da questão social e econômica, mas o pós-crise do coronavírus precisará de um retorno à agenda de reformas, afirmou o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, em entrevista transmitida ao vivo pelo site do Valor na sexta-feira.

De acordo com o executivo, o processo de reformas e vendas de ativos foi suspenso por causa da necessidade emergencial imposta pela pandemia, mas a paralisação não pode se tornar permanente. Do contrário, as condições que levaram a bolsa a chegar aos 120 mil pontos e as taxas de juros de longo prazo a níveis historicamente baixos não serão recuperadas. “Se virar mudança, o mercado vai reagir.”

Guimarães afirmou que essa é a percepção unânime no Ministério da Economia. O presidente da Caixa manifestou alinhamento com o ministro Paulo Guedes, titular da pasta, em diversos momentos da entrevista, concedida num dos dias mais tensos da política brasileira nos últimos anos. Horas antes, Sérgio Moro anunciara sua demissão do Ministério da Justiça, e houve quem também levantasse dúvidas sobre a permanência de Guedes no governo após divergências sobre a criação do Pró-Brasil, um plano elaborado pela Casa Civil para recuperar a economia.

Questionado sobre a possibilidade de a Caixa financiar obras de infraestrutura, o executivo disse que poderá analisar o assunto caso faça “sentido matemático” e haja aprovação do presidente Jair Bolsonaro e de Guedes. “Depois, se houver esse programa ou qualquer outro programa, que seja claramente alinhado com o ministro Paulo Guedes”, afirmou.

O titular da Economia tem liderado as discussões sobre o combate aos efeitos do coronavírus na atividade e comanda reuniões diárias com a equipe para tratar do assunto, afirmou Guimarães – acrescentando que o governo já anunciou R$ 600 bilhões em medidas e a Caixa disponibilizou R$ 154 bilhões em crédito novo, além da extensão de prazos de pagamento.

O presidente da Caixa disse que o banco poderá expandir sua carteira de crédito entre 5% e 10% neste ano. A instituição fechou 2019 com R$ 693 bilhões em empréstimos e financiamentos. “Não há problema se expandirmos neste momento, até porque reduzimos no ano passado.”

A prioridade, ressaltou o executivo, são operações com a “base da pirâmide”, tanto no segmento de pessoas físicas quanto no de empresas. Segundo Guimarães, operações com grandes companhias – a não ser do setor imobiliário – estão fora do radar. “É uma questão de foco. Não dá para fazer tudo”, disse.

Nas últimas semanas, o grande ponto de atenção do banco tem sido o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 para informais. Até sábado, 47,6 milhões de pessoas estavam cadastradas para ter acesso ao benefício, das quais 37,2 milhões haviam recebido. Os pagamentos somavam R$ 26,2 bilhões.

O banco abriu 800 agências no sábado – Guimarães visitou algumas – para agilizar os pagamentos e estendeu o horário de funcionamento de agências físicas após registrar aglomerações, em algumas unidades, de pessoas em busca do auxílio. A Caixa também tem recebido críticas sobre o funcionamento do aplicativo criado para o cadastro dos candidatos ao auxílio.

O presidente do banco atribuiu os problemas à velocidade e ao tamanho da operação, mas afirmou que as questões estão sendo resolvidas e se disponibilizou a coletar os casos de quem está com dificuldade. Acrescentou também que a liberação dos recursos depende de previsão orçamentária. “O foco é em realizar a atenção para que os pagamentos aconteçam e maneira mais ágil possível”, disse.

Dos R$ 154 bilhões disponibilizados pela Caixa na crise, quase R$ 40 bilhões já foram desembolsados no crédito a pessoas físicas e pequenas companhias e outros R$ 43 bilhões foram ofertados ao setor imobiliário. Na semana passada, o banco também firmou parceria com o Sebrae para oferecer R$ 7,5 bilhões em microcrédito a pequenas empresas.

Segundo Guimarães, a Caixa reduziu sua alavancagem e fortaleceu sua posição de capital no ano passado, o que permite ao banco aumentar a oferta de crédito agora. “Neste momento de crise, temos tranquilidade de comprar carteiras, ampliar oferta de capital de giro. Só na construção civil”, disse.

Um aumento das provisões contra calotes será inevitável. Mas, de acordo com o executivo, os empréstimos feitos pela Caixa são rentáveis e o banco está ganhando mercado nos segmentos de seguros e cartões, que “não têm risco de crédito e pouco comprometimento de capital”. (Colaboraram Flávia Furlan e Sérgio Tauhata)

Fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/04/27/se-politica-economica-mudar-mercado-vai-reagir-diz-guimaraes.ghtml

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