A quitação do saque de US$ 5 bilhões que a Vale fez no fim de março em linha de crédito rotativo junto a bancos é condição para a empresa retomar o pagamento de dividendos aos acionistas, suspenso desde a tragédia de Brumadinho, em janeiro de 2019. Ontem, em teleconferência com analistas sobre os resultados do primeiro trimestre, o presidente da companhia, Eduardo Bartolomeo, e o diretor-executivo de finanças e relações com investidores, Luciano Siani Pires, reiteraram que a opção por recorrer a essa linha de crédito se constitui mais como “seguro” frente à pandemia do que em uma necessidade de caixa da companhia.
Siani disse que o saque foi feito para proteger a empresa de dois riscos: uma eventual segunda onda de covid-19 na China, capaz de afetar a economia local por período mais longo, e possível necessidade de fechamentos de operações a exemplo do que aconteceu no terminal de Teluk Rubiah, na Malásia, e em Voiseys Bay, no Canadá. Siani disse que a visão é de que esses dois riscos estão reduzidos no momento.
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“Uma vez que essas duas variáveis estejam estabilizadas, nosso objetivo é devolver os recursos [do crédito rotativo]. E uma vez devolvidos os recursos, entendendo que a reparação [de Brumadinho] está sendo bem conduzida, temos perfeitas condições e situação econômica para fazer frente aos compromissos subsequentes da reparação e para pagar dividendos”, disse.
O diretor afirmou que o acordo para as reparações relativas ao rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), segue em negociação com autoridade de Minas Gerais. “Para [o acordo] fazer sentido para nós, a gente precisa de segurança jurídica. Encerrar todas as pendências jurídicas e ter um teto de valores. Se isso não for atingido, esse acordo não faz sentido pra nós. Se for atingido, faz sentido”, disse Siani. Não há data prevista para o acordo nem garantia se será celebrado. A Vale já fez uma série de acordos e pagamentos, mas há expectativa de que um entendimento mais amplo encerre ações judiciais.
A mineradora tem US$ 4 bilhões provisionados para o pagamento de compromissos relativos à reparação por Brumadinho. Siani lembrou que a meta de dívida líquida da companhia era de US$ 10 bilhões. Ao fim do primeiro trimestre, esse endividamento líquido era de US$ 4,8 bilhões, mas ele detalhou o conceito de dívida expandida, que soma os compromissos estimados de US$ 4 bilhões pelo rompimento da barragem e outros itens. “Do ponto de vista financeiro, a companhia, superadas as incertezas da pandemia, está pronta”, afirmou.
No minério de ferro, a pandemia teve efeito negativo nas obras de expansão do S11D, no Pará, mas a expectativa é de que o cronograma seja recuperado. Siani afirmou que no primeiro trimestre os efeitos da pandemia sobre a companhia foram limitados e que o impacto esperado nos custos e despesas da empresa seja de US$ 500 milhões, incluindo operações, manutenções e ajuda humanitária.
A mineradora projeta retomar o comissionamento das operações da Samarco em julho, com retomada das atividades da unidade – uma joint venture com a BHP Billiton – em dezembro deste ano.
Nas operações de carvão em Moatize, Moçambique, o presidente da mineradora afirmou que o “plano fundamental” é consertar o ativo. “O plano está pronto para ser executado. Assim que houver o levantamento do lockdown da África do Sul e Moçambique, a gente vai começar a fazer. A hora que a gente colocar esse ativo nas condições operacionais adequadas, a gente vai decidir o que fazer com ele. Não adianta falar de vender, fazer qualquer outra solução em um ativo que não está correto.”
Outro tema pendente é a VNC, produtora de níquel na Nova Caledônia. O processo de venda da empresa está evoluindo e a Vale recebeu ofertas não vinculantes. Há discussão com potenciais interessados e a expectativa da empresa é de que haja mais clareza sobre a transação em um ou dois meses.
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