China retoma produção de aço com ímpeto após covid-19

Enquanto a siderurgia brasileira opera com apenas 40% de ocupação de suas usinas de aço, metade do nível ideal para o setor, os fabricantes de aço da China voltam com uma recuperação rápida das atividades após os impactos da pandemia da covid-19.

Com base em informações obtidas da consultoria chinesa MySteel, a produção semanal de aço bruto na China praticamente já recuperou o patamar verificado no mesmo período do ano anterior, destaca o especialista da indústria siderúrgica, Germano Mendes de Paula, professor titular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Além disso, observa Mendes de Paula, os estoques de produtos siderúrgicos no país ampliados durante a pandemia estão regredindo nas últimas sete semanas, tendo já diminuído cerca de 25% frente ao pico.

Conforme a Associação de Ferro e Aço da China (Cisa) e a Mysteel, os estoques totais de aço detidos por produtores e distribuidores de aço do país representavam mais de 55 milhões de toneladas no final de março, que é o mais alto já registrado e foi 160% superior ao nível gravado no final de dezembro de 2019.

Muitas siderúrgicas chinesas tiveram que recorrer ao uso de espaço de armazenamento externo, relatou Frank Zhong, representante-chefe do escritório de Pequim da World Steel Association e consultor em economia, matérias-primas e mercados.

A partir do final de fevereiro, a maioria das siderúrgicas começou a reduzir os níveis de produção. Cerca de 73 altos-fornos (capacidade correspondente a 77 milhões de toneladas ao ano), pertencentes a 47 siderúrgicas, interromperam a produção em 21 de fevereiro. A produção diária de aço bruto em março foi cerca de 7% menor que em janeiro.

Como resultado, a menor produção de aço aliada ao aumento da demanda do produto, os estoques em meados de abril diminuíram cerca de 10% em comparação com o final de março.

Desde meados de março, informa Zhong, o gargalo logístico diminuiu gradualmente, e o fornecimento de matérias-primas e a entrega de produtos acabados de aço voltaram ao normal após início de abril. Graças ao estoque de matérias-primas, a produção de aço bruto da China no primeiro trimestre deste ano não diminuiu como seria de esperar. Ao contrário,subiu 1,2%, em base anual.

Segundo Zhong, o impacto da pandemia no país levou a uma contração geral: de 6,8% no PIB, 7,7% no investimento imobiliário, 19,7% no investimento em infraestrutura, 17,2% na engenharia mecânica, 44,6% na produção de veículos automotores, 28,5% no mercado marítimo e a uma redução de 27,9% na produção de aparelhos de ar-condicionado.

Mendes de Paula aponta que, no caso de vergalhões, até 22 de abril, a produção crescia pela oitava semana seguida, alcançando utilização da capacidade instalada de 78,5%. Ele acrescenta que no mercado da construção, ainda que o ritmo da atividade seja menor (como seria de se esperar), ainda existiam 7,2 bilhões de metros quadrados em construção no final de março, segundo dados do National Bureau of Statistics, da China.

Mendes informa ainda que recente estimativa da associação chinesa do aço, que reúne os produtores locais, mostra que a atividade de construção deverá inclusive aumentar sua participação na demanda por aço no país, dos 55% no ano passado para 58% em 2020.

A Cisa também prevê que o volume chinês de aço proveniente dos mercados interno e de exportação poderá regredir para 842 milhões de toneladas em 2020, perfazendo uma retração de 3,8%. É uma queda muito pequena, comparativamente ao que deverá ser verificado em outros países.

A siderurgia chinesa é a maior do mundo, e o país, o maior consumidor global de aço. A China respondeu no ano passado por 53,3% de todo o aço bruto fabricado no mundo. Esteve próximo de atingir 1 bilhão de toneladas em 2019 – encerrou com a marca de 996 milhões de toneladas.

O Brasil fechou 2019 com pouco mais de 30 milhões de toneladas. O consumo aparente local foi na faixa de 20 milhões de toneladas.

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/05/06/china-retoma-producao-de-aco-com-impeto-apos-covid-19.ghtml

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