A Taxa de Longo Prazo (TLP) está cara para operações de curto prazo, mas não para operações acima de cinco anos, na visão do BNDES. Nesse quadro, o entendimento do banco é que é preciso buscar alternativas de captação de recursos a prazos mais curtos e taxas menores, como o CDI (Selic), para viabilizar financiamentos mais baratos.
A gente tem buscado diversificar nosso custo de funding para repassar para as linhas de prazo mais curtos, explicou ao Valor a diretora de Finanças do BNDES, Bianca Nasser, acrescentando que hoje esse custo é praticamente todo referenciado na TLP. A nossa estratégia é buscar formas mais eficientes para determinados prazos. A gente pode buscar soluções de mercado em que o banco pode estar emprestando um custo de funding que não seja a TLP, disse.
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Um dos instrumentos possíveis, que deverá ser examinado pelo conselho do banco no próximo mês, é fazer uma marcação de parte do patrimônio líquido do banco, vinculando-o a operações de crédito mais curtas, o que permitiria um custo menor, mais próxima do CDI. Isto nos permitiria fazer marcações diferenciadas em relação à TLP, afirmou. Outros instrumentos que ela menciona é a Letra Financeira, que pode ser emitida com indexação ao CDI.
Bianca explicou ainda que essa diversificação de funding também é buscada para o longo prazo, por meio de operações com organismos internacionais. Mas salientou que a TLP para operações longas é bastante competitiva.
Apesar desse movimento para baratear funding, a visão do BNDES é que hoje há mais problemas relacionados ao risco do que ao custo do crédito. Por isso que, além do novo FGI, que está perto de funcionar, o banco também está trabalhando um novo produto: a fiança, que deve ajudar a deslanchar projetos de infraestrutura. De acordo com uma fonte, a fiança será um produto de prateleira que poderá ser acessado também por outros setores, como a indústria.
A discussão sobre o custo da TLP, que neste mês teve mais uma elevação e que, curiosamente, teve sua parte prefixada (2,26% ao ano) praticamente igualada com a taxa Selic, tem crescido, especialmente diante das preocupações sobre a retomada da economia.
O economista Fábio Giambiagi, que é do banco e foi um defensor da TLP na sua origem, em recente artigo defendeu uma mudança na sua fórmula de cálculo, para que ela refletisse também o fato de que o Tesouro tem encurtado suas emissões para se financiar a um custo mais baixo. Ele aponta que o país poderá viver uma situação de subsídio ao contrário, prejudicando a retomada dos investimentos. Giambiagi sugeriu que a TLP seja definida não mais com base na NTN-B de cinco anos, e sim no prazo médio de maturação dos títulos emitidos pelo Tesouro, com no mínimo dois anos de prazo.
A proposta renovou o debate sobre a conveniência do atual desenho da TLP. Na equipe econômica e no banco, porém, não se percebe disposição de revê-lo. Ao contrário, o desenho do mecanismo continua elogiado e visto como uma boa solução para o financiamento de longo prazo, sem colocar em risco as contas públicas e ao mesmo tempo barato quando se penssam acima de cinco anos.
Sim, a TLP está ficando cara, mas o pressuposto de mudar é que o BNDES seria o único meio de se financiar a longo prazo. A própria TLP ampliou o mercado de capitais para prazos mais longos. Estamos em crise fiscal, preocupados com a dinâmica da dívida, aí vamos piorar a taxa implícita da dívida? Aumentaremos o subsídio?, aponta uma fonte da equipe econômica. O BNDES tem como alterar o custo de algumas linhas mais curtas sem precisar mexer na TLP, disse outra fonte.
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