CAF, 50 anos, busca sócios fora da AL

O Banco de Desenvolvimento da América Latina (conhecido pela sigla CAF) deverá aprovar US$ 16 bilhões em novos projetos e linhas de crédito em 2020, um valor recorde para a instituição, que está completando meio século de existência. Nos dois anos anteriores, as aprovações ficaram em torno de US$ 13 bilhões. Agora, a CAF colocou à disposição de seus sócios recursos adicionais, como forma de atender especialmente aos desafios da emergência sanitária e para políticas anticíclicas contra os impactos da pandemia.

O secretário-geral da CAF, Victor Rico, afirmou ao Valor que foi apresentado ao conselho de administração do banco uma proposta de abri-lo para mais acionistas da América do Norte, da Europa e da Ásia. Na definição de Rico, a busca é por países – ele preferiu não revelar quais – com interesse estratégico na região, sobretudo em termos comerciais.

Com isso, poderemos ser mais úteis nos nossos dois grandes objetivos: apoiarmos o desenvolvimento sustentável e a integração regional, disse o executivo, em entrevista telefônica a partir de Lima, onde fica sua base. A CAF tem sede oficial em Caracas desde 1970, quando foi criada, mas o agravamento da grave crise na Venezuela fez com que seus vice-presidentes e diretores trabalhassem nos escritórios locais do banco, como Bogotá e Buenos Aires.

Hoje o banco tem 17 acionistas latino-americanos e caribenhos, além de Espanha e Portugal. No Brasil, um dos principais sócios, a instituição apoia projetos de entes subnacionais como a linha 17-ouro do metrô de São Paulo, o sistema integrado de mobilidade em Contagem (MG), a requalificação urbana de Jaraguá do Sul (SC), desenvolvimento socioambiental em Sobral (CE) e infraestrutura em saneamento básico.

A CAF recebeu três grandes capitalizações nos últimos 18 anos – em 2002, 2008 e 2015. Saiu de US$ 3 bilhões para US$ 15 bilhões de capital autorizado. Cada país pode ficar com, no máximo, 15% da carteira de empréstimos da instituição. Indicadores fiscais de solvência são avaliados criteriosamente para novos financiamentos, mas Rico enfatiza que o esforço atual é acelerar as aprovações de crédito para dar uma resposta mais adequada à crise.

Com aportes feitos durante a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil aumentou sua participação na CAF (quando ela ainda era chamada de Corporación Andina de Fomento) e passou da condição de sócio classe C para sócio classe A, a mesma dos fundadores, os países andinos – Colômbia, Venezuela, Peru, Equador e Bolívia. A carteira ativo do banco no Brasil é composta por 29 projetos de Estados e municípios, com valor aprovado de US$ 2,392 bilhões. Foram liberados 26% até agora e faltam mais US$ 1,775 bilhão para desembolsar.

O secretário-geral avalia que a crise decorrente da pandemia poderá encolher o PIB da América Latina, em média, de 5% a 7% neste ano. Os déficits fiscais e o desemprego vão subir, devem aumentar os índices de pobreza e de desigualdade. Esta crise é de oferta, mas também de demanda. Não é financeira, é da economia real, e em várias vertentes é pior do que a crise de 1929. Se não tomarem as devidas medidas contracíclicas, o impacto acabará sendo muito pior. É preciso ter dois cuidados no momento: gastar, mas gastar bem.

Para estimular isso, a CAF criou uma linha específica de US$ 2,5 bilhões para apoio anticíclico e com a promessa de um rito mais rápido de aprovação. Também foram colocadas à disposição dos sócios uma linha especial de US$ 50 milhões por país para questões sanitárias e outros US$ 400 mil por país em recursos a fundo perdido (não reembolsáveis), que têm sido gastos em compras de respiradores e medicamentos, entre outros insumos.

Há ainda uma linha de US$ 1,6 bilhão para apoio à inovação, formação de clusters e internacionalização de micro, pequenas e médias empresas. Ela já existia e tem seus repasses feitos por bancos de desenvolvimento locais, mas ganha relevância adicional com a pandemia e a necessidade de mais crédito por parte do setor produtivo na região.

Outra prioridade no radar do banco latino-americano tem sido a estruturação de fundos de investimentos com capital privado para investir em concessões de infraestrutura em países da região.

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/07/07/caf-50-anos-busca-socios-fora-da-al.ghtml

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