O governo brasileiro deu início às tratativas com o fundo soberano da Arábia Saudita, oitavo maior do planeta, para atrair aportes em projetos de infraestrutura. A intenção é concretizar promessa feita ao presidente Jair Bolsonaro, durante visita ao Oriente Médio em outubro de 2019, de investimentos sauditas de até US$ 10 bilhões no Brasil.
Na terça-feira, a Casa Civil coordenou reunião virtual entre representantes de sete ministérios e a cúpula do Fundo de Investimento Público (PIF na sigla em inglês), que gere ativos de mais de US$ 300 bilhões em todo o mundo. A carteira do programa concessões foi apresentada em detalhes. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também participou.
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O Valor apurou que quatro projetos receberam prioridade nas conversas: a Ferrogrão (ferrovia de 933 quilômetros que ligará Mato Grosso ao Pará), a gestão operacional dos dois eixos de transposição do rio São Francisco, novas concessões de saneamento básico e o perímetro de irrigação do Baixio do Irecê (BA).
No caso da Ferrogrão, cujos estudos de viabilidade foram recém-enviados para análise do Tribunal de Contas da União (TCU), o grande desafio do governo é convencer investidores a entrar em um empreendimento totalmente novo e nas franjas da Amazônia.
A ferrovia tem orçamento estimado em mais de R$ 8 bilhões e o Ministério da Infraestrutura busca vendê-la no exterior como um projeto verde, que diminuirá a emissão de gases-estufa no escoamento de grãos e ajudará a conter o desmatamento na região, ao contrário da ampliação de rodovias, com seu efeito espinha de peixe no trajeto. O leilão, previsto para o fim de 2021, enfrenta um grande empecilho: a ausência, por ora, de empresas com interesse firme no projeto.
Segundo descrição de um dos participantes do encontro virtual, os sauditas parecem ser mais pragmáticos e ter mais conhecimento das regras para investimentos no Ocidente do que os chineses. A comparação foi feita porque a China acena com investimentos bilionários na infraestrutura brasileira desde 2015, quando começou a constituir um fundo bilateral de US$ 20 bilhões e que até hoje não selecionou nenhum projeto para ter aportes.
Diferentemente de Pequim, que costuma adotar o formato de fundos específicos e com regras próprias, os representantes da Arábia Saudita deixaram claro sua preferência por investimento direto como equity nos projetos. Ou seja, preferem entrar como acionistas e sem contrapartidas, como fornecimento de equipamentos às obras.
Por outro lado, valorizam a rentabilidade dos empreendimentos. Em outras palavras: pode até haver algum direcionamento, por orientação do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman, mas o PIF não admite ter perdas financeiras em nome da busca de influência geopolítica.
Na sequência da reunião de terça-feira, ficou acertado que haverá outro encontro (com data ainda indefinida) em nível mais alto, com a presença de ministros brasileiros e do board do fundo soberano. Esse conselho tem a presença de ministros sauditas, como o de Finanças e o de Investimentos, e é chefiado pelo próprio Bin Salman.
Sob coordenação da Casa Civil, participaram do encontro representantes da Secretaria-Geral, dos ministérios da Infraestrutura, da Economia, de Minas e Energia, do Desenvolvimento Regional, da Agricultura e do Itamaraty.
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