Aos 44 anos, o advogado Carlos Ferreira assumiu a superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU-PE)em meio à pandemia. Apesar das dificuldades está otimista em melhorar a imagem do metrô e reconquistar antigos e novos usuários. A proposta dele é investir na estrutura atual e fazer mais com menos. O advogado defende que o estado pague a dívida de R$ 110 milhões em atrasos no repasso da taxa de integração do metrô com o ônibus. Ele também pretende fechar a torneira da evasão nos terminais integrados e apostar na integração temporal que obriga o usuário a passar pela barreira do metrô. Além disso vai melhorar a segurança com um convênio já assinado com a Polícia Militar. Outra ideia é atrair os usuários do carro para o metrô oferecendo estacionamento e lojas de conveniência para tornar as estações mais agradáveis, incluindo a harmonização dos espaços com música. Sem pretensões de expandir as linhas, o gestor aponta uma vitória importante da duplicação do trecho de Cajueiro Seco para o Cabo, que deve ficar pronta no primeiro semestre de 2021. Acompanhe a entrevista, que ele concedeu a repórter Tânia Passos.
1- O senhor assumiu o comando do metrô em maio, em plena pandemia, como está sendo essa experiência?
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CF – Está sendo um grande desafio, mas ninguém governa sozinho e o metrô tem um time muito qualificado e a maioria dos técnicos está aqui desde o início da fundação do metrô há 35 anos. Nós tomamos todas as precauções e tivemos ajuda também do Exército na desinfecção das estações. A operação teve que ser bastante reduzida, não apenas pelo decreto do estado, mas também porque ficamos com metade do operacional de fora, por fazerem parte do grupo de risco. Para se ter uma ideia, o metrô antes da pandemia transportava cerca de 400 mil usuários e chegou a transportar apenas 60 mil. Hoje estamos com cerca de 170 mil usuários e 300 viagens por dia, mas ainda longe do que era antes. Nosso cronograma atual é das 5h30 às 21h e quando tivermos com a capacidade total será das 5h às 23h. Toda semana estamos avaliando e estudando o momento de retomar a capacidade total. Do operacional ainda há cerca de 20% afastados. Mas aos poucos o metrô está retomando a sua demanda. Infelizmente nos horários de pico ainda há aglomeração e isso só pode ser resolvido com o escalonamento dos horários do comércio, serviço público e escolas. Não tem como todo mundo sair no mesmo horário e não haver aglomeração.
2- O metrô do Recife sempre teve problemas financeiros pois a despesa é sempre maior que a receita. Como administrar isso e ainda melhorar a situação do sistema?CF -Não é fácil. Para começar temos o problema do repasse do SEI (Sistema Estrutural Integrado) ligado ao Grande Recife. Hoje a dívida do SEI com o metrô é de R$ 110 milhões. Nós temos um convênio e esse dinheiro não é repassado. Estamos tentando na Justiça recuperar esse dinheiro. Também estamos atuando para fechar a evasão de renda e vamos adotar a integração temporal em mais oito estações. Já foram feitas em sete e essas restantes são de grande evasão a exemplo de Joana Bezerras e Afogados. E isso vai obrigar o usuário a passar pelo nosso sistema. Hoje os terminais físicos são abertos e muita gente entra sem pagar. A ideia é que a partir de setembro a integração temporal seja adotada no metrô.
3 – O metrô teve seis aumentos determinados pela Justiça e a tarifa que era de R,60 passou para de R$ 4. Qual o impacto disso na receita? CF -Não tivemos ainda impacto positivo por conta da pandemia. Houve uma perda grande de usuários e hoje estamos fazendo algumas ações graças ao repasse do Ministério do Desenvolvimento Regional no valor de R$ 22,8 milhões, por meio do ministro Rogério Marinho.
4 – Que tipo de ações estão são feitas com os recursos repassados pelo governo federal? CF- Nós estamos fazendo a duplicação do trecho Cajueiro Seco/Cabo, que tem cerca de 18 km de extensão e a viagem que durava quase 1 hora será feita em 20 minutos. Com isso, nós esperamos ampliar a demanda de 5 mil usuários para 40 mil usuários dia. Também vamos fazer a melhoria do telhado de seis estações para dar mais conforto aos usuários principalmente no período chuvoso.
5- Um dos grandes problemas do metrô é a questão da segurança. Como o senhor pretende atuar nessa área, que acaba afastando as pessoas do sistema? CF -É preciso reconquistar a confiança do usuário do metrô e conquistar novos usuários. A segurança é um ponto fundamental. Ninguém quer usar um sistema, que não se sinta seguro. Nós assinamos um convênio com a Polícia Militar e a partir de setembro teremos o apoio de 80 policiais militares. O convênio faz parte do Programa de Jornada Extra de Segurança (PJES) e nós vamos repassar recursos para os policiais, oferecer duas viaturas e equipar os policiais com rádios e spray de pimenta. A ideia é deixar as estações mais seguras e também evitar o vandalismo e roubo de cabos, que atrapalham a operação.
6- Além da segurança, o que senhor acha que falta para reconquistar o usuário do metrô? CF- Acredito que é preciso também mais conforto e limpeza nas estações. Em relação ao conforto a ideia é instalar lojas de conveniência e oferecer música para humanizar os espaços. Na questão da limpeza é um trabalho de conscientização. Na pandemia houve uma redução de 70% do lixo despejado nas estações com a volta da demanda esperamos que as pessoas respeitem os espaços.
7- A Linha Sul do metrô já foi uma aposta para conquistar os usuários do carro. O senhor acredita que isso ainda é possível? CF- Sim. Nós estamos estudando algumas estações para saber onde há espaço para oferecer estacionamento para quem quiser fazer integração. Também acredito que as lojas de conveniência vão deixar os espaços do metrô mais atrativos. A ideia é melhorar a estrutura que já temos e oferecer um serviço com mais qualidade e naturalmente o usuário antigo vai voltar e outros vão aderir ao sistema, que é muito mais prático e rápido em relação ao trânsito.
8- A confiança no metrô também passa pela questão da manutenção, uma vez que o sistema muitas vezes fica parado e interrompe as viagens. CF -Esse é um ponto importante e está diretamente relacionado ao roubo de cabos. Nós temos mais de 1.300 câmeras que fazem o monitoramento e com ajuda da Polícia Militar esse problema de roubo deve reduzir bastante.
9 – Por enquanto não há projetos de expansão das linhas do metrô? CF- Não. A minha preocupação é fazer com que a estrutura atual funcione da melhor maneira possível. Vamos fazer o melhor com a realidade que temos. Há muito o que ser feito e a população precisa zelar pelo bem público. Esse trabalho também passa pela conscientização dos usuários.
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