A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avalia que o resultado do PIB do setor agropecuário, que teve crescimento de 1,2% no segundo trimestre de 2020 na comparação com o mesmo período de 2019 e de 0,4% em relação aos três primeiros meses deste ano de acordo com o IBGE, está em linha com o que o setor esperava.
A soja, que teve áreas atrasadas colhidas em abril, puxou positivamente os índices do campo. Já as exportações do agronegócio, em ritmo elevado, ajudaram para que o número geral da economia não fosse ainda pior.
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Mais importante que o número em si, esse resultado mostra a resiliência do setor, que mesmo em momentos críticos e com os piores resultados da série histórica da economia brasileira mostra crescimento, afirmou Paulo Camuri, assessor técnico do Núcleo Econômico da CNA, ao Valor.
Com o aumento de 1,2% no PIB no segundo trimestre de 2020, o setor praticamente mantém o ritmo de crescimento do mesmo período de 2019, quando cresceu 1,4%. Em três meses, o setor conseguiu se ajustar e salvar os resultados do trimestre, continua positivo, descolado de todo o restante da economia brasileira. Mesmo nos segmentos mais afetados, os produtores conseguem se manter na atividade, acrescentou.
Com o consumo das famílias fortemente afetado pela pandemia, retração de 13,5% no trimestre encerrado em junho, a CNA diz que o auxílio emergencial do governo garantiu alguma sustentação de demanda dos alimentos. Mesmo assim, setores como hortifruti e lácteos ainda seguem impactados. A queda no consumo tem impacto no agronegócio e é refletido até no mercado doméstico de carne. Os cortes mais nobres estão sendo afetados, mesmo com queda de preço e sustentação de demanda, pontuou Camuri.
A produção de carne bovina deve cair mais de 4% este ano, mas o movimento não está relacionado com a pandemia. A alta nos preços em 2019 influenciou o abate de fêmeas e a menor disponibilidade de animais prontos agora. Segundo Camuri, o que salva a pecuária bovina este ano são as exportações, que aumentaram 25,7% no primeiro semestre.
De acordo com o IBGE, os resultados do PIB do setor agropecuário foram puxados pelas altas na produção de soja (5,9%), arroz (7,3%) e café (18,2%). Já as culturas de feijão (-4%), milho (-0,8%) e mandioca (-0,3%) tiveram contribuições negativas.
As exportações do agronegócio são, literalmente, o fiel da balança comercial do Brasil em 2020. Enquanto as vendas externas em geral caíram 7,4%, as do setor subiram quase 10%. O resultado dos negócios no campo, puxados pelo apetite da China, novamente, ajudaram na apuração do PIB nacional.
A balança comercial brasileira no semestre teve piora de 13% e o resultado poderia ter sido pior e só não foi porque as importações caíram mais, por conta do dólar alto e queda de renda do brasileiro. No agronegócio, a alta foi de 9,7% no semestre. Se não fosse o resultado positivo do agro, a queda da balança seria ainda maior e o impacto seria ainda maior em termos de PIB, analisou Paulo Camuri.
No semestre, carnes (+11,3%) e soja (+28,7%) se destacam no aumento de receitas com exportações. O setor sucroalcooleiro também teve desempenho positivo, com aumento do preço do açúcar. Só para a China a venda de carnes aumentou 114%, de soja 31% e de açúcar 41%, segundo a CNA.
A entidade também mantém a previsão de crescimento de 3,5% no PIB do agronegócio em 2020. Nos primeiros cinco meses do ano, o indicador registrou alta de 4,6%, mas a indústria de produtos florestais deve frear a expansão.
A indústria agrícola está sentindo bastante os efeitos da pandemia, produtos relacionados à madeira que são o terceiro setor mais importante na formação do Valor Bruto da Produção (VBP) e têm peso significativo. É uma projeção pé no chão do setor, concluiu o assessor.
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