Ex-ministro da Fazenda e atual secretário de Fazenda do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles, lançou o plano de retomada do crescimento de 2021-2022 apostando em descolar o Estado da imagem negativa com a qual o Brasil tem sido visto pelos investidores internacionais em 2020.
Em entrevista ao Estadão, logo após o anúncio do plano na sexta-feira passada, Meirelles diz que a estratégia é mostrar que São Paulo tem uma atitude diferente em relação às questões mais preocupantes para os investidores, como meio ambiente e abertura comercial, principalmente com a China.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
O plano prevê seis eixos para a retomada, 14 polos de desenvolvimento econômico e R$ 6 bilhões em investimentos em 19 projetos de concessões e parcerias. A seguir, os principais trechos da entrevista.
O que é esse plano de crescimento?
É baseado na divulgação do que São Paulo oferece. É o terceiro maior mercado consumidor da América Latina e detém 70% da mão de obra qualificada do País. Elencamos todos os atributos de São Paulo para mostrar ao investidor internacional o que é o Estado. Queremos diferenciar o desempenho da economia de São Paulo da do Brasil. Com a crise da pandemia, São Paulo caiu menos do que o resto do Brasil e está se recuperando mais rápido. Já atingiu o nível pré-crise. Temos vários projetos.
O que esse plano tem diferente do que foi apresentado no início do governo Doria?
Era um programa preliminar. Aqui, é baseado na experiência de 2019 e detalhado setor por setor e com oportunidades específicas de investimentos. Entramos não só em infraestrutura, mas em todas as áreas. Uma novidade importante são os 14 polos de desenvolvimento do Estado. Nesses polos, faz-se a entrada de empresas de um determinado setor, infraestrutura, formação de mão de obra. Cada região terá formação de mão de obra específica e treinamento.
Esse pacote de atração de investimento é factível num cenário em que há forte desconfiança dos investidores?
Sim, porque é uma das coisas que temos como prioridade, e já fizemos isso em 2019 quando viajamos pelo mundo. Tenho feito muitos vídeos com investidores internacionais este ano, mostrando que São Paulo tem uma atitude diferente em relação às questões mais preocupantes para eles. Temos uma política de alinhamento total das normas internacionais de meio ambiente. Na Mata Atlântica, temos desmatamento ilegal zero desde o início desse governo. Existe compromisso assinado por uma série de grandes empresas internacionais e globais, com produção em São Paulo, de diminuição de gases e emissões que causam o efeito estufa. São compromissos que foram assinados em São Paulo. Temos o projeto de despoluição e reconstituição do Rio Pinheiros de margens e nascentes. É um projeto em andamento, enorme.
São Paulo vai conseguir se descolar da imagem ruim que o Brasil tem no exterior?
Sim. Eu iria mais longe: já descolou, para muitos investidores, e está descolando.
Mas o que mostraria que está descolando?
Os Estados têm muita autonomia. Todas essas políticas de meio ambiente que eu descrevi são do governo do Estado. É uma política e uma abordagem diferente em relação ao meio ambiente. É questão de norma, fiscalização e ação do Estado. É um fato, demonstração de resultados. Mostramos isso aos investidores: o compromisso com normas internacionais.
Onde mais São Paulo teria se descolado?
Abertura internacional. Por exemplo, fizemos no ano passado uma visita à China e deixamos claro que São Paulo quer parceria com os investidores chineses e o resultado é positivo. Existe interesse dos chineses em diversas áreas. São Paulo mostrou que quer a parceria com a China e está aberto. No caso do trem Intercidades, existe manifestação de interesse de companhias da China, Japão, França, Espanha e Itália. E o ponto mais importante: São Paulo está estabelecendo parcerias com federações, câmaras de comércio de diversas regiões do mundo.
Tem alguma coisa do plano federal que pode atrapalhar os planos de retomada do Estado?
Não. O Plano 2021-2022 não depende em nada do governo federal.
Qual é a perspectiva para impulsionar o crescimento?
Esperamos que São Paulo cresça 5% em 2021. Para 2022, esperamos uma taxa que seja superior a 2019, entre 3% e 4%.
Como o senhor vê a piora da deterioração fiscal que atingiu em cheio o mercado da dívida pública?
Existe uma piora grande como resultado da pandemia. Para isso, afirmei que seria importante uma sinalização muito forte de que no pós-pandemia seria restaurada a austeridade fiscal. O teto de gastos depois da pandemia será mais importante do que nunca. No momento em que se começa a discutir programas que podem ficar fora do teto e isso e aquilo, é evidente que gera desconfiança.
Não é otimismo demais achar que essa piora do cenário não vai atrapalhar São Paulo?
Não, evidentemente seria melhor. Mas o Estado tem projetos de investimentos específicos e o governo está equilibrado, é um mercado forte e que vai continuar crescendo. O Brasil é uma Federação, não é um Estado unitário. O governo federal tem o seu papel.
Seja o primeiro a comentar