Setor de serviços recua em dezembro e encerra 2020 com tombo recorde de 7,8%, aponta IBGE

Setor de serviços encerra 2020 com tombo recorde de 7,8%, aponta IBGE. Na foto, restaurantes vazios na Rua São José, no Centro Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

O Globo – Motor do PIB brasileiro, o setor de serviços se recupera lentamente após as perdas provocadas pela pandemia. Dados divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira mostram que a atividade recuou 0,2% em dezembro frente a novembro, interrompendo os seis meses consecutivos de alta e o setor encerra o ano ainda 3,8% abaixo do patamar pré- pandemia.

Com o resultado, o setor despencou 7,8% em 2020, na comparação com o ano anterior. É a maior queda da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012.

Os resultados vieram piores do que a expectativa do mercado. Segundo a média dos analistas ouvidos pela Reuters, era esperado uma alta de 0,4% para o último mês do ano e uma queda de 2,6% na base anual. Em relação a dezembro de 2019, porém, houve perda de 3,3%.

Muito dependente do contato presencial, o setor de serviços sofreu muito entre março e abril e se recupera gradualmente com a flexibilização de atividades. O recrudescimento da Covid-19 a partir de novembro e o ritmo lento de vacinação, porém, dificultam a recuperação do setor.

Para o gerente da pesquisa, medidas pontuais adotadas por empresas e pelo governo, que não levem em consideração a questão sanitária, não são capazes de retomar o nível do setor ao patamar pré-pandemia.

— Nada vai ser mais importante para o setor de serviços do que uma vacinação em massa da população brasileira, para que as pessoas percam o receio de viajar e para que caiam as restrições de funcionamento a plena capacidade dos serviços presenciais — diz Rodrigo Lobo.

Serviços prestados às famílias caem 3,6%
Na passagem de novembro para dezembro, os serviços prestados às famílias (-3,6%) e os transportes, serviços auxiliares ao transportes e correio (-0,7%) foram os responsáveis por puxar a queda no mês.

Já os setores de outros serviços (3%), serviços de informação e comunicação (0,3%) e os profissionais, administrativos e complementares (0,1%) registraram alta em dezembro, na comparação com o mês anterior.

— A necessidade do isolamento social, o fechamento de diversos estabelecimentos – seja parcial ou integralmente – considerados não essenciais, o receio de contágio das famílias, a inexistência de uma medicação que combata a Covid-19 e o horizonte de tempo ainda distante de uma vacinação em massa são fatores que atuam como um limitador de uma recuperação mais acelerada do setor, sobretudo, em relação aos de caráter presencial — explica o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.

Segmentos em queda em 2020
Os segmentos que registraram os maiores tombos no ano passado estão ligados diretamente às atividades presenciais. Os serviços prestados às famílias (-35,6%), os profissionais, administrativos e complementares (-11,4%) e os transportes (-7,7%), tiveram quedas recorde no período.

— O principal impacto veio dos serviços prestados às famílias, que foi pressionado pela queda na receita dos restaurantes, hotéis, serviços de bufê e produção e promoção de eventos esportivos e atividades de ensino ligadas a cursos profissionalizantes, técnicos e autoescolas, por exemplo — destaca Lobo.

O único segmento que apresentou resultados positivos foi o de outros serviços (6,7%), impulsionado pelos serviços financeiros auxiliares, que registraram aumento das receitas das empresas que atuam nos segmentos de corretoras de títulos, valores mobiliários e mercados e administração de bolsas e mercados de balcão organizados.

— Com a queda recente da taxa de juros, famílias e empresas passaram a procurar outras formas de investimento alternativas à poupança e estão migrando para investimentos de renda fixa ou variável. E empresas desses segmentos financeiros auxiliares também tiveram aumento de receita em função dessa intermediação que fazem do mercado financeiro com as famílias e empresas que buscam por aumento de rendimento — afirma o pesquisador.

Números de janeiro apontam desaceleração
Os números do IBGE para o setor de serviços em janeiro só serão divulgados em março, mas indicadores antecedentes já mostram que o setor inicia o ano em marcha lenta. O Índice de Confiança de Serviços (ICS), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), caiu 0,7 na passagem de dezembro para janeiro.

“Diante da nova piora nos números de covid e com o fim dos programas emergenciais do governo, consumidores ficam cada vez mais cautelosos e reduzindo o consumo de serviços que tendem a ter maior circulação de pessoas. Esse cenário contribui para a persistência de obstáculos na recuperação da confiança do setor”, diz a nota divulgada pela instituição.

Para analistas, recuperação depende do ritmo de vacinação
Analistas estimam que a recuperação do setor de serviços acontecerá de forma gradativa, ditada pelo ritmo de vacinação da população.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, acredita que o consumo maior de bens, visto em 2020, deverá ser revertido para serviços ao longo de 2021. Na prática, isso deve corroborar para o avanço de 2,5% no ano, projetado pela corretora:

— Em vez de consumir serviços como restaurantes, viagens e salão de beleza, as pessoas começaram a consumir produtos para o lar. Agora vamos observar uma inversão com a possibilidade de vacinação, mas precisávamos acelerar esse processo — analisa Sanchez, que sinaliza um crescimento moderado em 2021:

— Não será uma explosão de crescimento, será gradativo. Na comparação interanual, passaremos ao terreno positivo ainda no primeiro semestre, mas o setor só recuperá toda a perda em 2023. A plenitude da receita só será restabelecida quando as pessoas se sentirem confiantes para viajar.

O Itaú Unibanco prevê uma recuperação mais clara para os serviços a partir do segundo trimestre, que deve fechar 2021 com crescimento de 4,5%. De acordo com Luka Barbosa, economista da companhia, para isso, é preciso que a vacinação ganhe mais corpo:

— O setor é o mais atingido pela pandemia e está ainda 30% abaixo do nível pré-crise. Até novembro houve uma recuperação, mas até janeiro ela deve ser interrompida. O setor tende a se recuperar de forma mais relevante com a vacinação, mas ainda é preciso vacinar mais gente. Ainda não está muito claro quão rápido e eficaz serão as vacinas — avalia.

Fonte: https://oglobo.globo.com/economia/setor-de-servicos-recua-em-dezembro-encerra-2020-com-tombo-recorde-de-78-aponta-ibge-24877739

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