Folha de S. Paulo (Coluna) – Tomando-se como base a maior produtividade de soja do país, o Brasil poderia ter produzido 298 milhões de toneladas da oleaginosa neste ano, mas os dados finais indicaram 136 milhões.
O Cesb (Comitê Estratégico Soja Brasil) faz anualmente um desafio entre produtores para ver quem obtém a maior produtividade nacional.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
Neste ano, o ganhador foi um produtor do Paraná, que obteve 129,16 sacas (7.750 kg) por hectare, uma produtividade bem acima das 58,8 sacas (3.528 kg) da média do país.
O Cesb, que surgiu em 2008, reuniu um grupo de profissionais e de pesquisadores na área de soja para ajudar a tirar o país da incômoda marca das 50 sacas por hectare, patamar que mantinha havia vários anos. Os números atuais indicam tendência contínua de evolução.
Um volume médio nacional tão elevado como o atingido pelo produtor paranaense ainda é utópico, mas o potencial produtivo de algumas regiões já indica patamares bastante avançados.
O país, contudo, está aberto para novos avanços, segundo Alvadi Antonio Balbinot Junior, pesquisador e chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Soja.
As ferramentas tecnológicas à disposição dos produtores já permitem avanços significativos, mas eles têm de fazer a parte deles, que é um bom manejo da produção.
A linha de tendência indica que haverá um incremento gradual da produtividade brasileira. Alguns estados, como o Paraná, deverão ultrapassar os 4.000 quilos –67 sacas– por hectare em dois ou três anos.
Em outras regiões, onde as condições de produção são menos favoráveis, a evolução será mais modesta, afirma o pesquisador da Embrapa.
Para Balbinot, a marca de 7.750 kg por hectare (129,16 sacas) atingida nesta safra 2020/21 está longe de ser uma média nacional porque ela acontece em condições especiais de cultivo.
Em geral, essas altas produtividades ocorrem em regiões bastante favoráveis à produção, o produtor escolhe o filé mignon de sua propriedade e dá uma atenção especial à lavoura. Daí um resultado tão elevado.
Mas o produtor vai usar cada vez mais a inteligência para obter um volume maior. E essa busca de produtividade deve vir acompanhada de rentabilidade e de sustentabilidade. O custo de produção é cada vez maior, e o sojicultor quer uma verticalização das lavouras, produzindo mais na mesma área, diz Balbinot.
A expansão de área para a soja deverá continuar, principalmente após a valorização das commodities e o ganho recente dos produtores.
Essa nova ocupação, no entanto, se dará sobre áreas degradas de pastagens que tenham condições favoráveis à cultura. Isso é bom para o ambiente, afirma o pesquisador.
Para ele, as condições para o avanço da produtividade existem, mas sempre surgem problemas pelo caminho. Ele cita o aparecimento da ferrugem asiática, uma das piores doenças do setor, e os do percevejo e da Helicoverpa armígera, duas das principais pragas desta lavoura.
O avanço da produtividade depende, no entanto, de vários fatores. Do lado da ciência, a genética já dá condições de novos crescimentos, como mostra o desafio do Cesb. A genética tem um DNA para isso.
Um fator imprevisível, porém, é o clima. Algumas regiões, como ocorre no Rio Grande do Sul, vivem uma gangorra climática, alternando boas safras, como a deste ano, com fortes quebras, como a do ano passado.
O produtor já dispõe de ferramentas que auxiliam nesse avanço da produtividade. Entre elas, a mecanização e a agricultura de precisão. Esta permite que o agricultor aproveite ainda mais a sua área mais produtiva e corrija a de menor produtividade.
Boa parte da conquista dos avanços, porém, está nas mãos do produtor. Ele necessita avaliar o que está limitando a sua produção.
Entre os principais fatores limitantes estão a qualidade e o manejo do solo. O produtor tem o controle do que compra, principalmente quando se refere a máquinas e insumos, mas também necessita controlar o que depende apenas dele, como o solo.
Uma parceria entre a Embrapa e a Cocamar, cooperativa de Maringá, para avaliar o que estava impactando a produção de soja na região, constatou que os principais entraves eram o solo compactado e a necessidade de calcário.
A ação do produtor é decisiva nesses casos.
Seja o primeiro a comentar