Valor Econômico – Apesar de o setor agrícola ser um dos mais importantes da economia brasileira, estar entre os mais avançados tecnologicamente e de sua extrema relevância no que diz respeito às questões ambientais, ele ainda é pouco representativo em número de emissões de títulos (volume captado) atreladas à agenda ESG.
Levantamento da Sitawi, consultoria especializada em finanças sustentáveis, mostra que a liderança na emissão de títulos verdes segue com o setor de infraestrutura, especialmente energia renovável, e o setor florestal, embora nos dois últimos anos tenha havido uma expressiva diversificação de setores emissores, com operações em transportes, mobilidade urbana, saneamento, resíduos, saúde e, inclusive, agronegócio.
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Essa diversificação, segundo o estudo, tem sido acelerada pelas emissões atreladas a metas ESG (sustainability-linked bonds and loans), que, ao contrário das emissões verdes, sociais e sustentáveis, não estabelecem que os recursos sejam aplicados em projetos específicos, e sim que o emissor – a empresa – ou tomador do empréstimo se comprometa com metas definidas, com a taxa de juros vinculada ao seu cumprimento.
Os recursos provenientes das emissões de papéis ou financiamentos têm sido aplicados desde no melhoramento genético de sementes e a utilização de biotecnologia para a criação de cultivares mais produtivas e adaptadas ao meio, passando pela utilização de tecnologias de referenciamento e posicionamento por GPS para aplicação de insumos e fertilizantes até na redução do desmatamento e do uso de defensivos que impactam o meio ambiente.
Um dos bancos que têm atuado muito fortemente com financiamento verde para o setor agrícola é o Santander. Segundo Carolina Learth, líder de sustentabilidade do banco, o portfólio ESG linked loans foi criado há dois anos majoritariamente para o agronegócio. “Logo no primeiro ano, essa linha de crédito atingiu R$ 1 bilhão e hoje já está em R$ 2 bilhões. Trata-se basicamente de empréstimos em que o cliente assume alguma meta ambiental e a taxa de juros vai sendo ajustada na medida em que ela vai sendo cumprida”, afirma.
A cesta de financiamento verde do Santander abrange desde o grande até o pequeno e médio produtor, o que foge um pouco dos produtos linked loans tradicionais do mercado, que normalmente são voltados para operações maiores. Segundo Carolina, no ano passado, somente na agricultura de baixo carbono para o pequeno e médio produtor o banco destinou R$ 216 milhões. “Na verdade, esse empréstimo é oferecido na linha de varejo para atender pequenos e médios produtores.”
O Itaú Unibanco, que também tem fortalecido a atuação na agenda ESG nos dois últimos anos, foi a primeira instituição a fazer a captação com selo climático CBI para agricultura, por meio de um certificado de recebíveis do agronegócio (CRA) para a Solinftec, empresa paulista de tecnologia agrícola, no valor de R$ 140 milhões.
“Como resultado, o Itaú BBA tem mantido a liderança nas emissões de títulos ESG, tanto no mercado local de renda fixa, como no mercado externo, e reflete o nosso objetivo de apoiar nossos clientes na transição para uma economia mais sustentável”, salienta Luciana Nicola, superintendente de relações institucionais, sustentabilidade e negócios inclusivos do Itaú Unibanco.
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