Brasil lidera emissão de títulos verdes na América Latina

(Foto: Evanto Elements)
(Foto: Evanto Elements)

Estadão – Investimentos direcionados a compromissos ambientais têm crescido no mercado financeiro brasileiro nos últimos anos, ocupando um espaço na seara de transformações indicadas por instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU). O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no início de agosto, apontou a urgência para tomada de medidas globais com o intuito de deter mudanças climáticas a partir do universo financeiro, desde a atuação das empresas até as aplicações em fundos.

O Brasil tem forte relevância diante do tema, pois, além de ser uma das principais economias entre os países emergentes, abriga a Amazônia, que é a maior floresta tropical do mundo. Entre os números de emissões de títulos verdes, o Brasil é responsável por 30,7% dos valores totais dos países latino-americanos.

Desde 2015, ano do primeiro título emitido, até junho deste ano, as 78 transações brasileiras em títulos verdes somam US$ 10,3 bilhões (R$ 40,5 bilhões), sendo que o total em toda a América Latina calculado em cerca de US$ 26,3 bilhões.

Vale pontuar que as instituições não financeiras lideram a emissão desses títulos no País. Os setores de energia renovável, infraestrutura e agricultura lideram o ranking e foram responsáveis pela emissão de 67 títulos, ou seja, 78% do total.

O que é o rótulo verde?
Com o intuito de informar e direcionar investimentos dos mercados financeiro e de capital para atividades e projetos sustentáveis no Brasil, a Climate Bonds Initiative (CBI) e a CFA Society Brazil elaboraram um artigo para profissionais do mercado financeiro conhecerem o impacto dos ativos com certificação sustentável até chegar aos investidores.

Julia Ambrosano, analista da agenda de infraestrutura no Brasil da CBI, destaca que medidas recentes, como o Decreto 10.387/20, que visa acelerar a emissão de debêntures verdes, e a Lei 13.986/20 que permite que CRAs sejam emitidos em moeda estrangeira, são exemplos de regulamentações que podem apoiar o desenvolvimento de um mercado de finanças verdes no Brasil.

Ela explica que o rótulo de título verde é dado com o objetivo de garantir que os projetos financiados são sustentáveis e comprometidos. “Observamos se as ações estão em conformidade com o trato de zero carbono a partir dos critérios da taxonomia, um documento com os critérios que garantem o projeto como verde”, explica. Segundo ela, todos os parâmetros utilizam o Acordo de Paris sobre a Mudança do Clima.

Segundo Gustavo Herkenhoff Moreira, presidente da CFA Society Brazil e coordenador dos MBAs de Finanças do Ibmec, o rótulo verde de ativos funciona como um complemento para as análises tradicionais de investimentos, não sendo substitutivo.

“Apesar de ainda não ter entrado no radar de todos os investidores, os investimentos sustentáveis têm tomado espaço de forma rápida e intensa. Analisamos ser uma tendência que veio para ficar, especialmente quando as gerações mais novas ocuparem cargos mais altos no mercado de trabalho e alcançarem maturidade financeira”, explica.

Para Herkenhoff, o interesse dos investidores em empresas que comprovam o compromisso com o três pilares do ESG (ambiental, social, governança) acontece porque as companhias podem apresentar melhores resultados ao destinar resíduos sólidos de forma correta, reduzir o consumo de energia e reduzir as quantidade e valores de possíveis multas. Dessa forma, pode haver aumento de receita e atração de novos clientes e investidores.

Mesmo que esse fator ainda não esteja no radar da maior parte de quem investe, Herkenhoff diz ser possível ver uma mudança acelerada. “Diversas pesquisas mostram que a responsabilidade sustentável acarreta na redução de risco para investidores, que por sua vez contam com gestores para levar o tema em consideração”, explica.

A certificação CFA (sigla em inglês para Chartered Financial Analyst) é a habilitação internacional para profissionais atuarem como analistas e gestores de investimentos. “Como entidade de classe, temos o papel justamente de promover o debate e gerar impacto positivo para sociedade”, destaca.

O que falta para potencializar os títulos verdes no Brasil?
Segundo o guia elaborado pelas organizações, o maior desafio é a regulação. Para emissão de títulos verdes soberanos no País, o valor da dívida deve ser destinado exclusivamente em uma estratégia verde, o que pode gerar conflito com a composição integral do orçamento federal.

Entretanto, as soluções advindas da união de órgãos voltados ao estudo de cenários, como a CBI e a CFA, junto às instituições públicas, devem desenvolver o processo para os próximos anos. Dessa forma, outro desafio, o de ter as métricas mais efetivas e padronizadas pode ser amenizado.

Com o objetivo de garantir transparência para as organizações regulatórias e para investidores sobre o direcionamento dos recursos, os parâmetros e diretrizes exigem clareza.

“Dada a crescente participação do capital privado em setores-chave da economia, é importante direcionar a atuação das Instituições Financeiras de Desenvolvimento (IFDs) para onde seus impactos possam ser maximizados: na provisão de estruturas de mitigação de risco e garantias”, diz o documento.

Fonte: https://einvestidor.estadao.com.br/mercado/investimento-titulos-verdes-brasil/

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