“Ferrovia trará benefício à indústria, ao comércio e à população”

Foto: Divulgação
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Mídia News (MT) – Diretor-executivo do Movimento Pró-Logística de Mato Grosso, Edeon Vaz Ferreira, criticou pessoas que se posicionam contra as ferrovias, especialmente aquelas que acreditam que o modal trará prejuízos ao transporte rodoviário.

Nesta semana, o Governo do Estado assinou um contrato de concessão para construção da primeira ferrovia estadual de Mato Grosso, que vai ligar Rondonópolis, Cuiabá, Nova Mutum e Lucas do Rio Verde.

Em entrevista ao MidiaNews, Vaz declarou que a ferrovia trará benefícios ao Estado, inclusive para os caminhoneiros ou donos de caminhões.

“As pessoas que advogam contra as ferrovias não têm nenhum conhecimento logístico. Quem conhece logística sabe que o transporte rodoviário não terá nenhum efeito colateral. Ele vai ganhar mais dinheiro. Ele vai ser mais rendável para o dono do caminhão”, afirmou.

Segundo ele, outro benefício será o barateamento do frete para os consumidores industrializados, como máquinas de lavar, geladeira e eletrônicos.

Vaz ainda criticou ações internacionais contra a construção da Ferrogrão, que vai ligar Sinop a Miritituna, no Pará. Segundo ele, é um jogo de mercado.

“Qualquer projeto que formos fazer que seja viável para o agronegócio, para o crescimento do Brasil, vamos ter oposição estrangeira”.

Leia os principais trechos da entrevista:

MidiaNews – Nesta semana foi assinado o contrato para a obra da Ferrovia Estadual. Qual será o impacto para os produtores em Mato Grosso?

Edeon Vaz – Para o produtor, teremos dois benefícios. Primeiro, a redução do custo do frete para escoar a produção. Segundo, a redução custo do frete para internar [mercado interno] os fertilizantes. Nós esperamos que essa obra reduza em torno de 20% o valor do frete entre Lucas do Rio Verde e Rondonópolis.

MidiaNews – Poderá haver também benefícios à nossa indústria, no sentido de dar mais competitividade para entrar nos mercados do Sul e Sudeste?

Edeon Vaz – Benefício à indústria, benefício ao comércio, benefício à população em geral. Porque no caso de Cuiabá e também no interior, tanto Campo Verde, Santa Rita do Trivelato, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, haverá uma redução do custo do frete de produtos, que a gente chama de carga geral. De higiene, limpeza, todos os produtos industrializados, inclusive máquinas, geladeiras, produtos eletrônicos… Tudo isso reduz o custo, porque ao invés de vir São Paulo para Cuiabá e para o interior de caminhão, carga virá por via ferroviária.

MidiaNews – E sobre a Fico, quais as expectativas para as obras e quais os ganhos previstos para Mato Grosso?

Edeon Vaz – A Fico, entre Mara Rosa (GO) e Água Boa, em Mato Grosso, é uma obra que deve ficar pronta até 2026. Já tem todos os projetos, o licenciamento ambiental. Vai ser mais rápida do que as outras. E já existe um pedido de autorização de uma operadora ferroviária para ligar também Lucas do Rio Verde a Água Boa. Os ganhos, são todos esses que já disse.

MidiaNews – E quanto a Ferrogrão?

Edeon Vaz – Eu diria que a ferrovia mais importante para Mato Grosso é a Ferrogrão, que vai ligar Sinop a Miritituba- PA. Essa ferrovia é muito importante para o setor produtivo em geral e também para comunidade, porque ela vai encurtar a distância com a zona de Manaus e, com isso, haverá redução maior do custo de equipamentos provenientes da zona franca. Ela também vai reduzir significativamente o frete, que hoje é rodoviário e passará a ser ferroviário.

Essa redução será maior do que a da Ferrovia Estadual. Vai reduzir em 30% o valor dos fretes atuais. Essa ferrovia vai ter aproximadamente mil quilômetro e é de alta produtividade. Ela não tem nenhum gargalo. Isso faz com que a gente acredite que a Ferrogrão vai ser uma balizadora do valor dos fretes do Estado e também do Brasil.

MidiaNews – A Ferrogrão tem sofrido contratempos em razão de questões ambientais, inclusive com pressão internacional. Teme que isso possa atrasar ou inviabilizar o projeto?

Edeon Vaz – Não acredito que isso venha acontecer. Porque o que eles reclamam é que as comunidades indígenas e ribeirinhas não foram consultadas. De acordo com a legislação vigente, só precisa consultar essas comunidades para fazer uma ferrovia no processo de licenciamento. Não precisa consultar antes. Porque no processo de licenciamento que vamos levantar, mostrar todas as informações, os impactos e a comunidade poderá dizer se o impacto é positivo, é negativo. Não adianta fazer antes, porque fica na base do achismo.

No caso da Ferrogrão, 95% de todo traçado da ferrovia não tem nenhum impacto ambiental. Por quê? Porque é basicamente paralela com a BR-163. Está na faixa de domínio da BR-163. Esses outros 5% refere-se a Serra do Cachimbo e algumas serras que tem no percurso. Não dá para ficar na área de domínio da rodovia, tem que afastar. O Parque Nacional de Jamanxim vai ser impactado em 0,05% no primeiro momento, porque depois de construído a ferrovia a área que ela ocupa é muito pequena, é basicamente seis metros de largura. E vai ter obviamente vias de acesso para manutenção, mas o impacto é mínimo.

Qualquer projeto que formos fazer que seja viável para o agronegócio, para o crescimento do Brasil, nós vamos ter oposição estrangeira. Isso não tenho dúvida. Se ficamos mais competente, se temos melhores condições de concorrer, eles não querem isso. Eles querem que a gente fique com o mínimo possível de competitividade.

Para se ter uma ideia, a Associação Americana dos Produtores de Milho fez uma campanha, lá nos Estados Unidos, onde falavam “agricultura aqui”, ou seja, fazendas aqui, e floresta lá no Brasil. Então, eles não têm interesse, porque aumenta a concorrência. Um jogo econômico, jogo de concorrentes.

MidiaNews – Mato Grosso tem 3 grandes projetos ferroviários na agulha: Ferrovia Estadual, a Ferrogrão e a Fico. Estas três obras são suficientes para o Estado ou é preciso estudar a implantação de outras ferrovias?

Edeon Vaz – Nós podemos pensar e trabalhar para viabilizar um ferrovia, que também é parte da Fico, entre Sapezal e Porto Velho, porque é uma ferrovia viável, uma ferrovia que já nasce com carga e vai também reduzir o custo dos fretes. E ali você vai passar a ter um corredor logístico extremamente eficiente, porque vai ser ferroviário e hidroviário. Então, vamos ter uma redução muito grande do custo do frete.

Acho que essas quatro ferrovias são suficientes para melhorar a logística. Mas precisamos de ter concorrência, não podemos ter monopólio. Queremos que tenha mais de um operador para que haja disputa e dessa forma a gente consiga desenvolver o nosso negócio. Nós vamos reduzir o custo. O produtor brasileiro, o produtor de Mato Grosso, é supereficiente porteira para dentro. Mas, infelizmente, da porteira para fora, está fora do domínio dele. Não consegue ter o domínio sobre isso e, por isso, acaba mais caro.

MidiaNews – Quando estas três ferrovias estiverem prontas, o que vai mudar na realidade de Mato Grosso?

Edeon Vaz – Muda tudo. O Estado de Mato Grosso é o maior produtor de soja, é o maior produtor de milho, é o maior produtor de algodão, maior produtor de pecuária de corte do Brasil e dependemos muito do caminhão para longas distâncias. Essa dependência que temos do caminhão para longas distâncias faz com que tenhamos um custo extremamente elevado para transporte de produtos de baixo valor agregado, que é o caso da soja em grão e o milho. Uma vez que o algodão já saiu um pouco mais industrializado, sai em fardo. A pecuária também já sai boi abatido. Então, tem uma agregação de valor. Mas, no caso do grande volume da soja e do grande volume do milho, saem in natura. Os nossos clientes no exterior querem grão, para que possam agregar valor lá.

Existe aí um discurso de algumas pessoas que falam que tem que agregar valor, tem que industrializar o produto no Estado. Nós temos que fazer o que o cliente quer. Por exemplo, exportados para Europa produto com valor agregado. Exportados óleo, farelo, no caso da soja. Mas quando se fala do nosso maior cliente, que é a China, eles não querem produtos industrializado, querem a matéria prima, que é soja, milho. Então, o baixo o valor de logística é fundamental.

O ideal na verdade é que a gente tivesse mais hidrovias e mais ferrovias. Que a gente usasse o modal rodoviário para alimentar esses outros modelos. Não é que o modal rodoviário vai desaparecer. De forma alguma.

MidiaNews – Não haverá prejuízo aos transportadores que usam caminhões?

Edeon Vaz – De forma alguma, vai ser mais lucrativo. Porque o frete de longa distância acaba sendo ruim para os donos do caminhão e ruim para nós que acabamos pagando mais caro e eles acabam ganhando o mesmo. No frete a curta à distância, você tem que aprimorar algumas coisas, como a agilidade no carregamento, no descarregamento, mas é muito mais vantajoso, porque o valor do frete é mais alto.

As pessoas que falam, que advogam contra as ferrovias, não tem nenhum conhecimento logístico. Quem conhece logística sabe que o transporte rodoviário não terá nenhum efeito colateral. Ele vai ganhar mais dinheiro. Ele vai ser mais rendável para o dono do caminhão. Porque ao invés de fazer uma viagem de 2 mil quilômetros, vai fazer 10 de 200 quilômetros. É muito mais vantajoso para ele. O que se tem de fazer é corrigir na cadeia o tempo de carregamento, de descarregamento. Isso vai ter que ser agilizado para que possa fazer as 10 viagens. E aí, não tenho duvida alguma de que vai ganhar muito mais do que o frete de longa distância.

MidiaNews – O Estado tem 16% de seu território ocupado por áreas indígenas. Esse montante pode, de alguma forma, impedir que novos projetos ferroviários surjam?

Edeon Vaz – Nós temos preocupação com um projeto que está na Secretaria de Planejamento que amplia essas áreas de preservação e de terras indígenas. No tratado que está previsto, teríamos problemas na Fico, nessa que eu falei da ida para Sapezal. A Ferrovia Estadual e o Ferrogrão não teria problema. Mas, não só o problema de infraestrutura e logística. É muito mais um impacto que tem no setor produtivo. Muitas fazendas que hoje estão ocupadas para agricultura e também para a pecuária, se houver a ampliação dessas áreas de preservação e terras indígenas, vão ocupar boa parte dessas áreas. Não podemos admitir que isso aconteça. Tem que ser revisto esse plano, uma vez que já temos áreas demais de preservação e de terras indígenas.

MidiaNews – A propósito, defende uma mudança na legislação sobre licenciamentos ambientais para obras de infraestrutura?

Edeon Vaz – Sim, defendo. Está tramitando, já foi aprovado na Câmara e hoje está no Senado, a nova lei de licenciamento ambiental que abrange tanto a parte de infraestrutura quanto de outras obras. Existem coisas absurdas que são exigidas hoje que não deveriam ser exigidas. Esta nova lei procura consertar isso. Por exemplo, tenho uma estrada implantada, vamos supor a BR-364 ou a BR-070, que já são rodovias que estão aí desde a década de 70. Todo o impacto ambiental que ela poderia fazer, já fez. Mas, se eu quiser ampliar o asfaltamento para melhorar a segurança do usuário, não posso, se não tiver uma mudança ambiental completa. Você perde muito tempo discutindo, fazendo projetos, para uma coisa que não tem fundamento. Existem vários problemas que serão corrigidos com essa nova legislação. Elas não prejudicam o meio ambiente. Ela corrige excessos.

MidiaNews – Brasil e Estados Unidos possuem territórios equivalentes, mas a malha viária brasileira é 10 vezes menor que a dos Estados Unidos. Qual a explicação para tamanha diferença?

Edeon Vaz – A explicação chama-se projetos estratégicos. Os Estados Unidos antes de existir o transporte rodoviário, implantou 415 mil quilômetros de ferrovia. No Brasil, o imperador Dom Pedro II, pensou da mesma forma. Ele tinha uma visão estratégica muito grande e autorizou que fosse construído a ferrovia Rio de Janeiro-Petrópolis, Santos-Jundiaí, basicamente todas as ferrovias no Sul do Brasil foram construídas naquela época. O Brasil desde o império investiu muito pouco em ferrovia. Nossas ferrovias são muito antigas. Quanto tempo perdemos… Agora, que o País está recuperando o modelo de autorização, através da medida provisória, que já era usado pelo império.

Fonte: https://www.midianews.com.br/entrevista-da-semana/quem-advoga-contra-ferrovias-nao-tem-conhecimento-logistico/407889

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