Como a ferrovia 4.0, que pega carona no conceito da indústria, pode se tornar cada vez mais inteligente, segura e precisa? Quem tem a resposta na ponta da língua é Alessander Boslooper, fundador de um grupo de empresas que leva seu sobrenome, de origem holandesa.
Especializada em segurança ferroviária, sinalização e tecnologia embarcada, a Boslooper agrega dentro de sua marca a Connect Rail, que é uma startup focada em projetos de ferrovia 4.0; a MasterCase, voltada para a fabricação de metal mecânica; e a Boslooper Tecnologia Ferroviária, que oferece diversos produtos no portfólio (entre eles placas eletrônicas, sinaleiros, postes articulados, caixas abrigos e sensores mecânicos com fabricação própria), além de mão de obra qualificada para o gerenciamento de projetos operacionais nas ferrovias.
“Sensorizar e monitorar em tempo real tudo o que é possível, gerando log’s para descobrir novos eventos.
É dessa forma que a ferrovia 4.0 está ajudando a melhorar a segurança e a eficiência das ferrovias”, declara Alessander.
Ele diz, no entanto, que o Brasil ainda engatinha no processo de digitalização no setor ferroviário. “Usamos muito IoT (Internet das Coisas, na tradução para o português), ou seja, já existe um monitoramento remoto através desta tecnologia, porém vejo grande possibilidade de trazer todos os dados ferroviários para um Big Data e depois nos valermos da mineração dos mesmos”, completa.
INOVAÇÃO EMBARCADA
De 2012 para cá, o grupo Boslooper executou projetos para ferrovias de carga, como a instalação de tecnologia embarcada em locomotivas, de sinalização e de detectores de trilho quebrado (DTQ), implantação de smart docks em locomotivas (para que o maquinista interaja com o CCO via celular).
Além disso, atuou na manutenção de torres de licenciamento e de Centrais de Tráfego Controlado (CTC).
“Trata-se do sistema de sinalização ferroviário mais utilizado no mundo, que trabalha com as chamadas SB (seções de bloqueio) para que o CCO tenha em tempo real a posição do trem na linha férrea”, diz.
Desde que foi fundada, a Boslooper mantém o foco em projetos que agreguem redução de tempo de trânsito, economia de combustível e aumento do nível de segurança ferroviária. São eles: Monitoramento de Ponta de Agulha, que verifica em tempo real a condição da chave de mola; Passagem em Nível Vision, que utiliza visão computacional e doppler (sensor ultrassônico) para a detecção do trem.
“A PN Vision é uma solução inovadora, redundante, com falha segura em todos os níveis de regras de interoperabilidade. Pode trabalhar com a tradicional sinalização ABNT 15942 ou ainda com sinalização rodoviária, podendo ainda, se necessário, gerar infrações para avanço de linha férrea sinalizada. Todos os componentes deste produto são monitorados on-line, bem como a integração do sistema como um todo”, explica Alessander. A Boslooper já ofereceu duas unidades da PN Vision para o setor ferroviário, que atualmente estão instaladas em Curitiba e Jandaia do Sul, no Paraná.
Outro projeto em desenvolvimento pela empresa, o ID Wagon é um sistema que faz a identificação e a contagem de vagões usando tecnologia 4.0 em sua essência.
“Por meio de visão computacional e inteligência artificial, o sistema consegue contar e descrever cada placa de vagão ou contêiner, sem ser intrusivo, com custo baixo de manutenção e podem ser associado à tecnologia já existente em TAG/ RFID ou vir a substitui-la”, detalha o fundador da Boslooper.
Já o sistema de Monitoramento de Lubrificador de Trilho faz a gestão de ativos, monitorando em tempo real e gerando alertas de falta de graxa. Tem como tecnologia principal a IoT, capaz de plotar todos os dados numa plataforma remota que pode ser acessada por celular ou desktop a qualquer momento. “Temos uma prova de conceito desse sistema em Juiz de Fora”, completa.
Dentro do portfólio da Boslooper há espaço ainda para o serviço de instalação do Trip Optimizer, sistema da Wabtec que permite o maquinista conduzir automaticamente os trens por meio de um computador de bordo, trazendo, entre outras vantagens, economia de combustível à operadora.
“Para a realização desse serviço, somos contratados pela Wabtec ou pela concessionária para seguir os procedimentos operacionais de instalação do sistema dentro da locomotiva”, explica Alessander.
DNA ferroviário
Entusiasta da ferrovia, Alessander fundou a Boslooper com o objetivo de unir DNA ferroviário com inovação tecnológica baseada em inteligência artificial, Big Data, conectividade, autonomia e aplicativos. Não à toa, sua carreira e formação acadêmica foram trilhadas por meio dessas tecnologias. Ingressou no universo ferroviário em 2006 como técnico na América Latina Logística (ALL), onde chegou a assumir a coordenadoria de Tecnologia Operacional (TO).
Lá foi responsável por projetos de manutenção de sinalização e segurança ferroviária, como ampliação de detectores de descarrilamento, desenvolvimento de Backshop de TO (oficinas internas de manutenção de tecnologia embarcada) e implantação de CBL’s (computadores de bordo nas locomotivas).
Saiu do mundo corporativo para se tornar empresário em 2012, com dois cursos de especializações na bagagem: Gestão em Informática, em 1997, quando o tema ainda era uma novidade, e Engenharia de Manutenção, em 2009. Em 2021, foi a vez de se especializar em Engenharia em Indústria 4.0 e entrar para o mestrado em Engenharia de Manufatura, cuja previsão de conclusão é em 2023. Sua graduação é de Tecnólogo em Processamento de Dados.
Revista Ferroviária – A ferrovia 4.0 é um conceito recente que se baseia nos parâmetros da indústria 4.0. Na sua opinião, qual é o estágio da ferrovia 4.0 no Brasil?
Alessander Boslooper – Estamos engatinhando neste processo. Os sistemas que utilizam tecnologias 4.0 ainda não são conectados a Big Datas. Eles atuam como sistemas paralelos (secundários) e, por isso, muitos dados são desprezados. A mudança cultural em torno da manutenção e da operação tem que andar junto, pois a era do papel e do verbal vai acabar. No futuro todos os equipamentos terão um sensor gerando log’s.
RF – Quais são as principais demandas das ferrovias de carga hoje nesse sentido?
AB – Sensorizar e monitorar em tempo real os ativos e equipamentos em geral. Imagine uma fábrica móvel, com todos os ativos supervisionados. A PN Vision é 100% monitorada, temos controle em todos os equipamentos instalados.
RF – A Boslooper fornece sistemas para o segmento de passageiros?
AB – Sim, já fornecemos para uma operadora turística que atua em Paranaguá (PR). Os produtos se relacionam (entre carga e passageiros). Vale a pena lembrar que o Grupo Boslooper tem como princípio atender o mercado ferroviário de forma customizada. Fazemos e criamos projetos personalizados. Tudo que seja possível fazer em aço e automação estamos aptos a realizar e tornar a ideia um produto.
* Conteúdo de responsabilidade do anunciante
Seja o primeiro a comentar