O Tempo – As chuvas em Minas Gerais foram embora, mas ainda há reflexos dos estragos causados pela junção entre a falta de estrutura e as tempestades no Estado. Parte deles recai sobre a mineração. Conforme balanço diário da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), as ferrovias mineiras têm 15 pontos de interdição diversos, sendo quatro em ramais da MRS e 11 em trechos da FCA.
Oficialmente, as empresas do setor negam haver prejuízos para a logística do minério de ferro. Mas o coordenador do Núcleo de infraestrutura, supply chain e logística da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Resende, pondera que tudo depende do tempo da interdição.
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“O maior impacto é um desabastecimento no mercado global. Se isso (a interrupção) perdura muito, você tem um impacto no preço, principalmente do minério. Você imagina o chinês desabastecido. Ele vai procurar na Austrália. Você tem compromissos contratuais. O tempo para se chegar com esse minério lá na ponta (no destino do comprador) é muito grande”.
Paulo Resende lembra que, hoje, no Brasil, as ferrovias transportam principalmente commodities. No caso da mineração, a maior parte da produção segue para o mercado externo. A carga sai dos complexos espalhados pelo Estado de trem, chegando até os portos, de onde segue de navio até o destino final.
“Os navios são transatlânticos de longa distância. Eles são programados para chegar ao porto e já ter a carga. O minério, você descarrega do vagão no navio. Se o vagão não chegar, o navio vai ficar parado. No Brasil, o navio de minério parado custa aproximadamente US$ 80 mil por dia”, explica o professor de logística.
Das 15 interdições informadas pela ANTT, cinco estão no trecho da FCA entre as estações Eldorado (em Contagem, na Grande BH) e Divinópolis (Centro-Oeste). A previsão de liberação é 30 de janeiro. Na mesma ferrovia, entre Divinópolis e Garças de Minas, são dois bloqueios.
A ANTT ainda informa três pontos de interdição entre o Contorno da Serra do Tigre (Abaeté) e Campos Altos. Dois tinham previsão para liberação ainda ontem, o que não foi informado até o fechamento desta edição, e outro para 1º de fevereiro. Já no corredor Centro-Sudeste da FCA, o problema entre Uberaba e Araguari deve ser resolvido hoje.
A situação mais preocupante é a do Ramal Burnier, da MRS Logística. São quatro pontos de interdição sem data de liberação, em Ouro Branco, na região Central de Minas Gerais.
Vale estima impacto de 1,5 megatonelada na produção
Procurada, a Vale informou “que retomou de forma parcial e gradual suas operações em Minas Gerais após serem restabelecidas as condições adequadas de segurança”. A empresa disse que no Sistema Sul ainda tem usinas paralisadas parcialmente, com previsão de retomada “para os próximos dias”. Em função dos problemas, a mineradora estima um impacto de aproximadamente 1,5 megatonelada na produção e compra de minério de ferro.
A ArcelorMittal também se posicionou por meio de nota. A empresa informou que “acompanhou o cenário de fortes chuvas em Minas no início do mês e adotou medidas preventivas para mitigar os impactos em suas operações minerárias”, o que resultou em “efeitos pontuais” nas plantas de mineração.
Por produzir ouro, a AngloGold Ashanti esclareceu que “não escoa sua produção por meio ferroviário” e que não identificou “qualquer impacto no fornecimento de suprimentos”.
FCA PREVÊ LIBERAÇÃO ATÉ FEVEREIRO
A VLI, administradora da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), informou ter registrado “ocorrências de interdições parciais de vias, em razão de deslizamentos de terra provocados pelas fortes chuvas que atingiram Minas Gerais”. Segundo a empresa, trabalhos de recuperação “ocorrem diariamente com o objetivo de garantir a reabilitação das linhas de forma célere”.
Assim como informado pela ANTT, a FCA esclareceu que a previsão é de liberação dos trechos entre janeiro e o início de fevereiro.
“A companhia esclarece que, devido ao período de entressafra, registrado no momento, o impacto das interdições foi minimizado”.
Já a MRS se posicionou a partir de um comunicado feito ao mercado. De acordo com a empresa, o problema com as chuvas está concentrado, principalmente, nas cidades de Brumadinho, Belo Vale, Ibirité, Jeceaba, Congonhas e Belo Horizonte. A concessionária ressalta que “está tomando todas as medidas para o atendimento à comunidade”.
O professor de logística Paulo Resende enfatiza que, em caso de queda de barreira, onde o trilho cedeu, o conserto é feito em três ou quatro dias. “Agora, se houver uma obstrução de túneis e viadutos ferroviários, (a situação) fica pior que na rodovia. Não tem jeito de você fazer um desvio”.
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