Valor Econômico – O Banco de Desenvolvimento da América Latina – novo nome da antiga Corporação Andina de Fomento e ainda conhecido pela sigla CAF – pretende alcançar US$ 28 bilhões em financiamentos aprovados anualmente para a região até 2030, praticamente dobrando de tamanho na comparação com o ritmo atual de aprovações, diz o presidente da entidade, Sergio Díaz-Granados.
Em entrevista ao Valor, durante visita ao Brasil nesta semana, o executivo colombiano afirmou que a capitalização recém-aprovada do banco permitirá duplicar também a concessão de crédito ao Brasil. No ano passado, a CAF fez desembolsos de cerca de US$ 2 bilhões ao país e aprovou US$ 1,423 bilhões em novos projetos, com ou sem garantia do Tesouro Nacional. A atuação hoje é concentrada em entes subnacionais.
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Ex-congressista e ex-ministro do Comércio na Colômbia, Granados assumiu a presidência da CAF em setembro. Mesmo com a pandemia, percorreu 14 países latino-americanos e caribenhos nos três meses seguintes para garantir o aumento de capital do banco, definido por seus sócios em dezembro. Os acionistas se comprometeram com um aporte que eleva o capital garantido da instituição, ao longo dos próximos oito anos, de US$ 5 bilhões para US$ 12 bilhões. Cada país tem autonomia para definir em que momento fará os repasses.
Hoje a CAF tem 17 acionistas da região, além de Espanha e Portugal. O Brasil aumentou sua participação durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passando da condição de sócio classe C para sócio classe A, a mesma dos cinco fundadores – Colômbia, Peru, Equador, Venezuela e Bolívia. Na reunião de dezembro, foi aprovada a conversão da República Dominicana de acionista em membro-pleno e a entrada de El Salvador no grupo.
As principais áreas de atuação do banco no Brasil são desenvolvimento urbano, mobilidade e desenvolvimento social (no segmento soberano) e linhas de crédito para o setor financeiro (no segmento não soberano). Um dos projetos apoiados é a ampliação da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo, com financiamento de US$ 550 milhões aprovado no ano passado.
“Não somos um banco grande para o tamanho do Brasil, mas acabamos nos especializando nos entes subnacionais”, afirma Granados. Desde 2008, quando estreou em empréstimos para Estados e municípios, a CAF já liberou crédito para 33 programas em 27 cidades diferentes. Também tem trabalhado com outros bancos de desenvolvimento, como o BDMG (Minas Gerais) e o BRDE (dos Estados da região Sul).
Em meio às necessidades de cada país, a CAF quer uma linha de corte: ter 40% de “carteira verde” até 2026. Isso significa apoiar projetos de infraestrutura sustentável, de mitigação ou adaptação ao aquecimento global.
“Estamos direcionando o banco para projetos que colaborem com a redução das emissões de gases-estufa ou preparam os países para adaptar-se às mudanças climáticas”, diz o presidente. Ele ressalta que a América Latina é uma das regiões do planeta mais afetadas e que nenhuma estratégia global pode passar ao largo do desmatamento nas florestas tropicais. “Queremos transformar a CAF em um ator central no cumprimento das metas acordadas na COP26 [conferência da ONU para o clima]”, afirma Granados.
Nas últimas três décadas, a CAF aumentou o tamanho de sua carteira em 50 vezes. Houve nove capitalizações até agora. A última, acertada em 2015, está terminando de ser paga agora pelos acionistas.
“Se pudemos agir como agimos na pandemia, no biênio 2020-201, foi graças a esses aportes nos tempos de vacas gordas. No passado, instituições como o BID e a CAF chegaram até a parecer não tão necessários. Mas hoje temos uma série de desafios e necessidades, na América Latina, que requer que os bancos de desenvolvimento estejam bem preparados”, acrescenta.
A CAF tem feito aprovações de US$ 13 bilhões a US$ 14 bilhões por ano. O Brasil representa 9% da carteira atualmente. Além de duplicar o portfólio, chegando a US$ 28 bilhões em novos créditos anuais até 2030, outro objetivo da capitalização recém-anunciada é manter o grau de investimento. Citando essa decisão, a agência de classificação de risco Fitch Ratings passou de estável para positiva a perspectiva do banco, que recebe o selo de A+.
Para Granados, o que tem amarrado a América Latina em uma armadilha de renda média é sua baixa produtividade, que ainda é de apenas um quarto da verificada nos Estados Unidos. A melhoria dos sistemas educacionais, em sua avaliação, é o que pode mudar esse destino. Mas a pandemia, diz o presidente do banco, foi “especialmente dura” com crianças e adolescentes que precisaram deixar suas escolas.
No âmbito econômico e comercial, Granados defende esforços para promover maior integração energética e diminuir o protecionismo. No caso da energia, segundo ele, trata-se de explorar melhor as potenciais conectividades. Assim, pode-se aproveitar os superávits de um país e reduzir a dependência ou as incertezas de abastecimento em outros países, com mais gasodutos e linhas de transmissão.
Por mais liberalização comercial, Granados diz não falar só em tarifas de importação, mas sobretudo em convergência regulatória e redução da burocracia aduaneira. Com a experiência de quem já chefiou o Ministério do Comércio, entre 2010 e 2013 (governo Juan Manuel Santos), o executivo colombiano afirma que a complexidade e falta de uniformidade das normas desanima especialmente pequenas e médias empresas a entrar de forma mais engajada no comércio exterior.
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