Valor Econômico – A deterioração do cenário macroeconômico levou a Cosan a rever seus planos de investimento em 2022, priorizando a recompra de ações da própria holding e das controladas Raízen e Rumo em detrimento de novos projetos que demandem alocação de capital significativa.
A primeira baixa no portfólio veio com a rescisão do acordo com a Porto Seguro para criar a Mobitech, informada na segunda-feira à noite. A joint venture na área de mobilidade, que ofereceria assinatura e locação de veículos, gestão de frotas para empresas, entre outros serviços, havia sido anunciada em novembro.
Segundo o vice-presidente financeiro e relações com investidores do grupo, Ricardo Lewin, o fim do acordo reflete a visão da Cosan sobre novos investimentos em um momento em que juros, inflação e custo de capital preocupam – e não a avaliação do negócio de mobilidade em si.
“A gente entra em 2022 preocupado com custo de capital, inflação e juros. Portanto, fez uma grande revisão em todos os negócios para otimizar investimentos, mantendo aqueles que são prioritários”, explicou, em teleconferência com analistas para comentar os resultados do quarto trimestre.
“A gente gosta do sócio, gosta do negócio mobilidade, mas não era prudente executar o investimento que esse negócio necessita, ao longo do tempo, neste momento”, acrescentou.
De acordo com o presidente da Cosan, Luis Henrique Guimarães, o grupo firmou um distrato em comum acordo com a Porto Seguro. “A decisão sobre a Mobitech partiu do grupo por causa da revisão de investimento e prioridade no cenário atual”, reiterou.
Segundo o vice-presidente de estratégia do grupo, Marcelo Martins, o cenário atual exige cautela na alocação de capital e essa diretriz vale para todos os negócios da Cosan.
“Hoje, dentro da nossa estrutura de capital, não faz sentido dispor de uma quantidade tão relevante de recursos”, afirmou, acrescentando que os desembolsos na Mobitech não estariam limitados ao aporte inicial e seriam mais vultosos para desenvolvimento do negócio ao longo do tempo. “É incompatível manter um plano de investimento dessa magnitude no cenário atual”.
Em relação ao investimento da em mineração por meio de uma joint venture com o grupo Paulo Brito, da Aura Minerals, Martins indicou que o prazo mais longo de amadurecimento do projeto traz conforto quanto ao cronograma de desembolsos. E isso contribui para sua manutenção em portfólio.
Frente às condições macroeconômicas mais adversas, seguiu o executivo, a Cosan decidiu direcionar liquidez para recompra de ações da Rumo, Raízen e da controladora. “Nossa prioridade são as ações do grupo, onde acreditamos que há maior geração de valor”, acrescentou.
O comando da Cosan indicou ainda que não há alteração nos planos do grupo de ter um portfólio de empresas de capital aberto, a exemplo do que já ocorreu com a Raízen. A próxima companhia a listar ações em bolsa deve ser a Compass, quando houver uma janela adequada.
A Cosan encerrou o quarto trimestre com receita líquida de R$ 34,35 bilhões, alta de 52,4% na comparação anual. A piora do resultado da Rumo, na esteira da quebra de safra no milho, explica a queda de 6,1% do resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado do grupo, para R$ 2,76 bilhões.
Por outro lado, o lucro líquido ajustado cresceu 58,5% na mesma comparação, para R$ 411,2 milhões, suportado pela melhora dos resultados da Compass. O Ebitda da companhia de gás e energia avançou 23% no trimestre, a R$ 608 milhões, puxado pelo sobretudo pelo maior volume de gás natural distribuído pela Comgás e pelo repasse da inflação de custos às margens, mais do que compensando perdas com a marcação a mercado de contratos de comercialização de energia elétrica.
Em todo o ano passado, o grupo alcançou Ebitda ajustado recorde, de R$ 11, 9 bilhões, e o maior lucro líquido ajustado da história, de R$ 2,7 bilhões.
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