Estadão – Quando o mundo começava a ver a pandemia pelo retrovisor, somos surpreendidos por este conflito da Rússia com a Ucrânia. As consequências serão difíceis de mensurar, mas cabe neste momento fazer algumas reflexões e, dentro do possível, tirar algumas lições. Vou me deter na questão da energia. A Rússia é, hoje, o principal exportador de gás natural do mundo e o segundo maior exportador de petróleo. Isso torna o país um ator central no mercado de energia, e parece-me que as autoridades russas usaram essa vantagem comparativa de forma muito estratégica no planejamento que antecedeu esta guerra.
O primeiro movimento foi o de criar com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) a chamada Opep+, que significa os países da Opep mais a Rússia. A política de cotas desta nova entidade, após a grande queda do preço do barril em 2020, foi fundamental para a elevação do preço do petróleo no momento da retomada da economia. O preço alto do barril nos últimos 18 meses proporcionou ao banco central russo aumentar as suas reservas para os tempos de guerra. É bom lembrar que, dos 20 maiores países produtores de petróleo, apenas 7 são regimes democráticos. Além do mais, a demonização dos combustíveis fósseis nos últimos anos por movimentos ambientalistas acabou empoderando regimes autocráticos e suas empresas estatais de petróleo.
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No caso do gás natural, a Rússia investiu em infraestrutura de gasodutos e, com isso, deixou os países europeus reféns do seu gás. Hoje, praticamente 50% do consumo de gás na Europa vem da Rússia. O fato é que os países europeus erraram no seu planejamento energético, abandonando muito rápido a energia nuclear e até o carvão, e ficando reféns das energias renováveis e do gás russo. Essa dependência do gás russo se acentua nesta época do ano, no inverno, já que o aquecimento das residências é feito basicamente com gás natural. Não é à toa que o preço do gás natural tem subido mais que o do petróleo.
Ainda dentro de uma estratégia inteligente, a Rússia, em parceria com a China, construiu um gasoduto que transporta 100 milhões/m3/dia para a China. Esse volume de gás natural é o consumo atual brasileiro de gás natural.
A lição principal para o Brasil é de que não existe investimento em infraestrutura, como gasodutos, sem políticas públicas. Hoje o Brasil é exportador de petróleo e importa 50% do gás natural. Precisamos de planejamento estratégico no segmento de gás. Principalmente de políticas, legislações e regulações que incentivem a construção de gasodutos, para que possamos usar o gás natural em benefício de toda a sociedade.
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