Megaoperação investiga desvios e fraudes em cargas de soja em Mato Grosso

Valor Econômico – A Polícia Civil de Mato Grosso, por meio da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf) de Rondonópolis, e a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) deflagraram na manhã desta quinta-feira a Operação Grãos de Areia, para cumprimento de 88 ordens judiciais com o objetivo de desarticular uma organização criminosa que adulterava cargas de soja na região sul do Estado. O grupo colocava areia em cargas do grão que iriam para a China, e as fraudes movimentaram mais de R$ 22 milhões em apenas três meses.

Na operação são cumpridos 25 mandados de prisão preventiva e 32 mandados de busca e apreensão domiciliar, além de 31 ordens de sequestro de bens. Os mandados expedidos pela 7ª Vara Criminal de Cuiabá são cumpridos nas cidades de Rondonópolis, Pedra Preta, Diamantino e em Cuiabá.

Terceira fase

A operação é fruto da terceira fase de investigação iniciada pela DERF Rondonópolis em março de 2021, quando dez pessoas foram presas pelos crimes de receptação, roubo e adulteração de cargas de soja, farelo de soja e milho.

Na ocasião, o grupo criminoso foi surpreendido com uma carga de farelo de soja avaliada em mais de R$ 130 mil. A intenção era transformar a carga roubada em diversos outros carregamentos adulterados que seriam entregues no terminal de cargas ferroviário de Rondonópolis.

Investigações

Com o prosseguimento das investigações, foi identificada a existência de uma organização criminosa, composta por empresários do ramo de transporte e comércio de grãos, agenciadores, motoristas de caminhão e funcionários da empresa vítima – o terminal ferroviário de Rondonópolis -, num total de 30 pessoas envolvidas com a prática dos crimes furto qualificado, estelionato e associação criminosa.

As investigações apontaram que o grupo vem atuando em Rondonópolis desde 2020, com o desvio de aproximadamente 9 mil toneladas de soja e farelo de soja entre os meses de janeiro a março de 2021, com valor estimado de R$ 22,5 milhões.

Para prática dos crimes foram constituídas empresas do ramo de transporte e comércio de grãos para realizar o transporte, a adulteração das cargas e a posterior venda da mercadoria desviada – foram identificadas oito pessoas jurídicas envolvidas nesse esquema.

Modo de ação

No primeiro tipo de crime, o farelo de soja era carregado por integrantes do grupo criminoso em uma empresa em Primavera do Leste com destino ao terminal de cargas em Rondonópolis. Então era realizada a clonagem de outro caminhão com mercadoria adulterada nas empresas da organização criminosa.

Segundo a polícia, o caminhão clonado adentrava no pátio da empresa com a conivência de funcionários envolvidos no esquema e descarregava a mercadoria adulterada. O caminhão com a carga sem adulteração retornava para a empresa do investigado, onde era posteriormente comercializada por valores abaixo do preço de mercado, gerando um lucro aproximado de R$ 100 mil por carga desviada.

Em outra frente criminosa, com foco em soja a granel e farelo de soja, era realizado o aliciamento dos motoristas de caminhão, e cargas sem adulteração provenientes de todo o Estado de Mato Grosso eram levadas até as empresas dos investigados, onde eram adulteradas com areia para depois serem entregues no terminal ferroviário.

Foram identificados oito empresários, nove motoristas, seis funcionários da empresa vítima, além de sete outras pessoas, responsáveis pelo agenciamento, contabilidade e comércio das cargas desviadas.

Segundo o delegado da Derf Rondonópolis, Santiago Rozendo Sanches, o grupo criminoso aproveitava da grande quantidade de grãos transportados pelo terminal de cargas (média de mil caminhões dia) para a consumação dos crimes. “Após a descarga dos vagões de trem e mistura do produto é de difícil constatação que se trata de material adulterado”, afirma o delegado, em nota.

O delegado titular da GCCO, Vitor Hugo Bruzulato Teixeira, destacou que “as investigações seguem em andamento para apuração da responsabilidade dos receptadores, além de possíveis crimes de lavagem de dinheiro e possíveis crimes tributários praticados pelos investigados”.

Segundo as investigações, um dos investigados, líder do grupo criminoso, adquiriu em três meses areia suficiente para construir um prédio de 30 andares, mesmo não atuando no ramo da construção civil.

Fonte: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2022/07/28/megaoperacao-investiga-desvios-e-fraudes-em-cargas-de-soja-em-mato-grosso.ghtml

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