Falta de madeira deve frear expansão da celulose no Brasil

Para Teixeira, da Klabin, não está claro se o país cumprirá os compromissos assumidos até a próxima conferência do clima — Foto: Silvia Zamboni/Valor
Para Teixeira, da Klabin, não está claro se o país cumprirá os compromissos assumidos até a próxima conferência do clima — Foto: Silvia Zamboni/Valor

Valor Econômico – A oferta limitada de madeira e os preços ascendentes do insumo devem frear os anúncios de novas fábricas de celulose no Brasil nos próximos sete anos, que correspondem ao ciclo de corte do eucalipto, na avaliação de executivos da indústria que participaram ontem da conferência latino-americana da Fastmarkets RISI em São Paulo.

“É muito difícil ver novos projetos acontecendo no Brasil no curto prazo por falta de madeira”, afirmou o presidente da Suzano, Walter Schalka, em painel com o diretor-geral da Klabin, Cristiano Teixeira, o vice-presidente executivo da Bracell, Per Lindblom, e o diretor comercial e de logística da Eldorado Brasil, Rodrigo Libaber.

Em São Paulo, comentou o presidente da Suzano, a Bracell assegurou a madeira que ainda estava disponível para alimentar a expansão da fábrica de Lençóis Paulista. A empresa avançou ainda sobre Mato Grosso do Sul, onde a Suzano já tem operação e está construindo uma nova unidade, mediante investimento total de R$ 19,3 bilhões, o que representa demanda adicional do insumo.

“Na minha perspectiva, começa a faltar madeira no Brasil. Não temos disponibilidade de madeira para projetos competitivos de curto prazo” reiterou Schalka.

Na Eldorado, que tem fábrica em Três Lagoas (MS), a percepção é a mesma. Para Rodrigo Libaber, não haverá madeira para novos projetos no curto prazo. “Mais: não haverá madeira economicamente viável no longo prazo [se o plantio não começar já]”, disse. Há áreas disponíveis no Brasil, seguiu o executivo, e as fronteiras são “enormes”. Portanto, há espaço para crescimento da indústria, desde que “planejado e organizado”.

O diretor da Eldorado observou ainda que os problemas na cadeia logística global não devem ser revertidos em curto período de tempo, sobretudo porque os ciclos logísticos no setor são longos e, por isso, leva tempo para que as soluções adotadas surtam efeito. “Também não acredito que vamos ter a logística que tínhamos antes. Dificilmente haverá reversão nesse ano e as coisas vão acontecer de forma gradativa até que se chegue ao equilíbrio”, acrescentou.

Questionado sobre os compromissos assumidos pelo Brasil na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima no ano passado, a COP 26, o diretor-geral da Klabin disse que não estará claro como o país chegará ao próximo encontro. “Arrisco dizer que, pelos números de hoje de emissões e desmatamento, a gente deve chegar à COP 27 com baixa expectativa e sem entregar o que foi prometido”, afirmou Cristiano Teixeira.

Segundo o executivo, a chegada à COP 26 também foi marcada por baixa expectativa em relação a potenciais iniciativas do governo, que acabou surpreendendo ao assumir compromissos inesperados. De lá para cá, contudo, discurso e prática se descolaram, observou. “O mercado de crédito de carbono poderia ser o lado cheio do copo, mas o projeto de lei que vinha sendo discutido com diferentes setores acabou sendo atropelado por um decreto”, afirmou.

Teixeira disse ainda que faz parte da visão estratégica da Klabin avaliar potenciais aquisições ou fusões no mercado de embalagens de papelão ondulado e a companhia manterá essa postura. “Se surgir oportunidadde integração [de papel], a Klabin certamente vai olhar com carinho. Recentemente, preferiu o crescimento orgânico”, acrescentou.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/08/10/falta-de-madeira-deve-frear-expansao-da-celulose-no-brasil.ghtml

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