Biden negocia, evita greve ferroviária e diz que preservou ‘dignidade’ dos trabalhadores

Presidente dos EUA, Joe Biden (C), ao lado do secretário do Trabalho, Marty Walsh (D), e de Celeste Drake, do Escritório de Gestão e Orçamento, na Casa Branca Mandel - Foto: Ngan/AFP
Presidente dos EUA, Joe Biden (C), ao lado do secretário do Trabalho, Marty Walsh (D), e de Celeste Drake, do Escritório de Gestão e Orçamento, na Casa Branca Mandel - Foto: Ngan/AFP

O Globo – Sindicatos e empresas de transporte ferroviário chegaram, com a ajuda do governo americano, a um acordo para evitar o que seria uma greve catastrófica no setor. A decisão, que ainda precisa ser referendada pelos trabalhadores, foi celebrada pelo presidente Joe Biden, que tenta evitar uma derrota nas eleições legislativas de novembro, e cujos números de aprovação dão alguns sinais de alta.

As conversas entre os sindicatos e a associação que reúne as empresas do setor começaram às 9h da quarta-feira, e terminaram na madrugada de quinta, depois de 20 horas.

Pelo acerto, supervisionado pelo secretário do Trabalho, Marty Walsh, um ex-sindicalista, os novos contratos terão um reajuste de 24% distribuídos ao longo dos próximos cinco anos, além de compensações financeiras pagas na assinatura do acordo. O plano, que seguiu as recomendações da Casa Branca, segue agora para aprovação dos sindicalizados, o que deve acontecer em algumas semanas — os trabalhadores se comprometeram a não realizar greves durante esse período.

Na manhã desta quinta, o presidente Joe Biden, que se empenhou pessoalmente para que o acordo fosse firmado, comemorou.

— O acordo é uma validação do que sempre acreditamos, que sindicatos e as empresas podem trabalhar juntos para o benefício de todos — declarou Biden nos jardins da Casa Branca. — Essa é uma vitória para dezenas de milhares de trabalhadores ferroviários, para a sua dignidade e para a dignidade de seu trabalho.

De acordo com a Bloomberg, citando pessoas próximas às conversas, Biden ligou para os negociadores por volta das nove da noite de quarta-feira, durante uma pausa para o jantar: ele disse que sair sem um acordo não era uma opção, e exigiu que os dois lados assumissem compromissos.

Em entrevista ao Politico, Pete Buttigieg, secretário de Transportes, afirmou que, naquele momento, as conversas pareciam em um beco sem saída, mas que o engajamento presidencial foi determinante para um resultado positivo.

— Uma coisa é todos saberem que algo é importante. Outra coisa é o presidente ligar e pedir, em nome do país e da economia, que todos façam tudo em seu poder para que essa coisa saia do papel — disse Buttigieg.

Impacto político

As conversas foram concluídas menos de um dia antes de um prazo estabelecido pelos sindicatos para cruzar os braços em todo país: segundo especialistas, a paralisação causaria graves quebras nas cadeias de distribuição de todos os tipos de itens, de alimentos a medicamentos, passando por produtos químicos e combustíveis.

Neste cenário, provavelmente haveria prateleiras vazias, alta de preços e alguns serviços essenciais, como o tratamento de água em áreas urbanas, seriam interrompidos. Antes do anúncio do acordo, algumas empresas suspenderam envios de produtos perigosos e veículos, se antecipando a uma eventual greve que custaria US$ 2 bilhões por dia ao país.

Os efeitos políticos também seriam catastróficos para Biden, que ainda tem esperanças de não perder o controle do Congresso nas eleições legislativas de novembro. Agora, deve usar na campanha o sucesso das negociações, ressaltando sua participação.

— Para o povo americano, o trabalho duro para chegar a este acordo preliminar significa que nossa economia poderá evitar danos que um bloqueio causaria — disse Biden, na Casa Branca. — Com o desemprego perto de seus níveis mais baixos, além de sinais de sucesso na redução de custos, o acordo desta noite nos permite continuar a lutar para que o crescimento econômico a longo prazo finalmente beneficie as famílias trabalhadoras.

Com um mandato afetado pela inflação alta, com dificuldades para aprovar planos trilionários no Congresso, questões sobre os rumos do governo, e alguns insucessos no exterior, Biden viu seus índices de aprovação cairem desde meados do ano passado, chegando a meros 37,5% em 21 de julho, segundo a média elaborada pelo site de análises Fivethirtyeight.

Em termos eleitorais, as projeções também apontam para um cenário complicado: há grandes chances dos democratas perderem o controle da Câmara, talvez com a chegada de uma oposição mais radical do que a vista hoje, incluindo elementos ligados a Donald Trump. Alguns prometem se vingar do que viram como ataques ao ex-presidente, citando a comissão que investiga a invasão do Capitólio em janeiro de 2021 e uma recente operação de busca e apreensão na casa do republicano na Flórida.

Mas Biden vê alguns sinais de melhora no horizonte, impulsionados pela aprovação um reduzido porém ainda relevante pacote sócio-ambiental, medidas para incrementar os investimentos em energias renováveis e por uma legislação que aumenta o controle sobre a venda de armas de fogo. O perdão parcial de dívidas estudantis elevou seus números entre os jovens, que formaram boa parte de sua base eleitoral em 2020.

Segundo o Fivethirtyeight, a média de aprovação está em 42,3%, e vem se mantendo neste patamar desde o começo do mês — uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira, feita pelo NORC Center em parceria com a Associated Press mostrou uma avaliação positiva de 45% em agosto, depois de ter atingido 36% no mês anterior.

Até as previsões eleitorais estão mais agradáveis à Casa Branca: agora, apontam que os democratas devem manter o controle do Senado, e possivelmente ampliar sua maioria na Casa, hoje garantida apenas pelo voto de minerva da vice-presidente, Kamala Harris. Isso ajudará o governo a amenizar os impactos de uma Câmara potencialmente hostil, e garantir dois anos finais de mandato um pouco mais tranquilos a Biden.

Fonte: https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2022/09/biden-negocia-evita-greve-ferroviaria-e-diz-que-preservou-dignidade-dos-trabalhadores.ghtml

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