Fila de projetos de celulose e papel mobiliza fornecedor

João Cordeiro, da Pöyry, destaca que há projetos em execução para 7 milhões de toneladas de celulose na América do Sul — Foto: Silvia Costanti/Valor
João Cordeiro, da Pöyry, destaca que há projetos em execução para 7 milhões de toneladas de celulose na América do Sul — Foto: Silvia Costanti/Valor

Valor Econômico – Os mais de R$ 63 bilhões em investimentos planejados ou em execução pela indústria de base florestal no Brasil até 2028 estão movimentando a cadeia global de fornecedores, desde empresas de consultoria e serviços de engenharia a fabricantes de máquinas e equipamentos e outros insumos.

Segundo levantamento da Pöyry, referência global para o setor, somente em celulose há projetos em construção no mundo para 11 milhões de toneladas, sem considerar China e considerando-se também a capacidade de fibra integrada à produção de papel, das quais 7 milhões de toneladas estão na América do Sul. Na região, há ainda outras 7 milhões de toneladas em estudo e o Brasil deve sediar boa parte dos futuros investimentos do setor.

Em menos de um ano, a White Martins inaugurou duas novas unidades no país para atender ao setor

Em cartões e papéis para embalagem, conforme a consultoria, serão 12 milhões de toneladas adicionais de capacidade entre 2022 e 2024. Há projetos no Brasil, mas a maior parte está concentrada na China.

“Desde os anos 80, houve uma grande concentração entre os fornecedores. O problema não é capacidade [de atendimento a todos os projetos], mas o timing deles. As filas têm aumentado, mas isso também ajuda a disciplinar o mercado”, diz João Cordeiro, executivo sênior do grupo AFRY Management Consulting, do qual faz parte a Pöyry.

Líder no suprimento de gases do ar para a indústria de papel e celulose, a White Martins inaugurou, no início do ano, uma unidade em Minas Gerais, que atende às linhas de produção de celulose solúvel da LD Celulose, e já iniciou a construção de uma nova fábrica de gases em Mato Grosso do Sul. Esse novo projeto abastecerá a futura unidade da Suzano em Ribas do Rio Pardo.

A Andritz, por sua vez, informou recentemente que vai fornecer à Bracell SP Celulose quatro linhas de produção de papéis de higiene (tissue), que deverão ser instaladas na fábrica de Lençóis Paulista (SP), com início de operação previsto para 2024. A nova fábrica tissue será autossuficiente no consumo de vapor e energia elétrica destinados ao processo de secagem.

De acordo com o presidente da White Martins e da Linde na América do Sul, Gilney Bastos, o setor de papel e celulose é um dos principais clientes, em volume, da indústria de gases do ar, e vem crescendo com força na região. Além do Brasil, Paraguai, Uruguai e Chile têm projetos em execução ou já anunciados.

“É impressionante a qualidade de projetos”, afirma o executivo. A White Martins estima em 60% sua participação nesse mercado, após ter conquistado os grandes contratos dos últimos anos na região.

Em menos de um ano, a multinacional inaugurou duas novas unidades no Brasil. Além da planta de separação de ar dedicada a produção e fornecimento de gases industriais em Minas Gerais, com capacidade de até 60 toneladas de oxigênio por dia, colocou em operação, em 2021, uma unidade com capacidade total de produção de 240 toneladas de oxigênio por dia para a Bracell em Lençóis Paulista (SP).

Conforme Bastos, em Ribas do Rio Pardo, a unidade que está sendo construída para atender à Suzano será completa, a segunda nesse formado no Brasil, e fornecerá diferentes tipos de gases também destinados aos hospitais e ao agronegócio.

A primeira fábrica completa da White Martins em solo brasileiro foi instalada também em Mato Grosso do Sul, em Três Lagoas, onde Suzano e Eldorado produzem celulose e a Sylvamo (empresa que foi cindida da International Paper), papéis de imprimir e escrever.

Uma planta de gases direcionada a um cliente específico demanda investimentos da ordem de US$ 15 milhões a US$ 25 milhões. Já uma unidade completa requer aportes de US$ 35 milhões a US$ 50 milhões. Em todos os casos, o investimento nas instalações é da White Martins.

Atualmente, a operação brasileira fornece cerca de 800 toneladas de oxigênio por dia, em seis unidades, que podem estar dentro ou fora da área do cliente. Desse volume, 90% são produzidos “onsite”. “Ainda há mais por vir. O mercado está receptivo”, afirmou o executivo.

No que depender do consumo mundial de determinados tipos de papéis e de celulose, é certo que haverá necessidade de novas fábricas à frente. Na avaliação de João Cordeiro, executivo da Pöyry, algumas grandes tendências, como a busca por materiais mais sustentáveis, abrem perspectivas positivas para a indústria de base florestal.

Em papel, enquanto a demanda de tissue e de papéis para embalagem seguirá em expansão, o segmento de imprimir e escrever deve continuar encolhendo globalmente, reflexo da digitalização. Entre 2021 e 2035, conforme a consultoria, o consumo de cartões e papéis de embalagem no mundo deve crescer a uma taxa anual de 1,1%, com destaque para o ritmo de 2% da China.

Em celulose, a demanda global por todos os tipos de fibra, que estava em 424 milhões de toneladas em 2020, pode chegar a 543 milhões de toneladas em 2035 – na celulose de mercado, que é produzida com a finalidade de ser vendida a terceiros, os volumes que hoje estão em torno de 70 milhões por ano caminham para atingir 100 milhões pouco depois de 2035, puxados pela demanda chinesa.

Com terras disponíveis e florestas competitivas, analisa João Cordeiro, o Brasil deve seguir atraindo investimentos nessa área. “Quando se compara o custo, na China é 50% mais caro fazer celulose do que no Brasil, considerando-se a celulose brasileira colocada lá”, explica.

Na White Martins, segundo Bastos, a operação brasileira é “um pouco mais verticalizada” do que o tradicional, o que a torna capaz de atender com rapidez à demanda adicional. Transferida do Rio de Janeiro para Sorocaba (SP), a fábrica da multinacional é flexível e pode construir também carretas e tanques. “Por ter essa flexibilidade dentro de casa, a gente rapidamente se adapta”, afirma o executivo.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/10/11/fila-de-projetos-de-celulose-e-papel-mobiliza-fornecedor.ghtml

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