Circulação de trens suspensa em dois ramais causa tumulto em estações da Supervia; passageiros fizeram protestos em Deodoro e Quintino

Passageiros desembarcaram da composição da SuperVia e caminharam até a estação de Quintino - Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo
Passageiros desembarcaram da composição da SuperVia e caminharam até a estação de Quintino - Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

O Globo – Com uma composição do ramal Santa Cruz parada entre as estações de Quintino e Cascadura, na Zona Norte do Rio, passageiros precisaram caminhar por entre os trilhos da Supervia na manhã desta quinta-feira. De acordo com a concessionária, o dispositivo de segurança de um trem foi acionado por volta das 6h30 da manhã. Com o acionamento, que ainda não teve causa definida, a composição paralisou.

Segundo a empresa, os passageiros começaram a acessar indevidamente a linha férrea devido à paralisação. Por isso, os demais trens foram afetados e precisaram aguardar ordem de circulação. A ocorrência causou caos nas estações. Vídeos publicados nas redes sociais mostram o momento em que passageiros revoltados depredam composições utilizando dormentes da linha férrea, em Deodoro, após a circulação de trens dos ramais Santa Cruz e Japeri ser suspensa. No início da tarde, a Supervia divulgou, em nota, que a interrupção se deve a “atos de vandalismo contra o sistema ferroviário”.

— (Estamos) tendo que andar até a estação de Quintino — disse revoltado um dos passageiros, que registrou sua caminhada pelos trilhos, depois de desembarcar dos trens.

Na tarde desta quinta-feira e após o ocorrido, o diretor de operações da Supervia Marcelo Feitoza saiu do cargo que ocupava na companhia. Segundo a empresa, a mudança não tem a ver com os casos que aconteceram na parte da manhã e faz parte de “uma ampla reestruturação que a concessionária está realizando internamente com o objetivo de melhorar o serviço prestado aos clientes”.

A Secretaria de Estado de Transportes afirmou, em nota, que “a omissão da Supervia em prestar esclarecimentos céleres é inaceitável”, e que a secretaria encaminhou carta à concessionária solicitando a apresentação das “razões que culminaram no episódio”, além de um plano de contingência que deve ser apresentado em reunião presencial.

Pelas redes sociais, quem estava a bordo da composição mostrou  o transtorno pelo qual passava por volta das 7h desta quinta-feira.

Uma passageira, ao mostrar o trem parado, comentou insatisfeita: “E lá vamos nós de carro de aplicativo”.

O estudante da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Enzo Tomaz Anselmo, 21 anos, mora no bairro de Campo Grande, Zona Oeste do Estado, e costuma utilizar os trens da Supervia para chegar à sua faculdade. Nesta quinta, o jovem só chegou a seu destino final após quatro horas e meia de viagem e tendo que andar pelos trilhos de uma estação.

— Eu volto pra casa hoje e ainda não sei como vou fazer por medo de ainda estar congestionado ou dar algum problema. Eu não tenho ninguém que more aqui perto, preciso voltar. Cheguei na faculdade às 10h30, saindo de casa 6h30. Eu me sinto humilhado por ter que passar por essa situação, de ter que ir com um transporte sucateado, me sinto roubado. Esse serviço precisa ser melhorado — comentou Enzo.

Já a faxineira Tatiana Braz, de 48 anos, que amargou um atraso de quase três horas e meia para chegar ao emprego, afirmou que teve que mudar a estratégia e pegar outro meio de transporte para conseguir chegar ao seu trabalho.

— O trem parou na estação de Paciência e ficamos muito tempo sem nenhuma informação sobre o que estava acontecendo. Depois de muita espera o jeito foi voltar até Santa Cruz onde peguei um ônibus para conseguir chegar ao trabalho. Algumas pessoas saltaram e caminharam pelos trilhos, mas achei mais seguro ficar dentro do trem mesmo. Meu patrão até entendeu a situação, mas nada paga o estresse da gente numa hora dessas — disse.

Nos trilhos, uma idosa teve dificuldades para caminhar e precisou ser carregada. À equipe de reportagem do telejornal “RJ1”, a aposentada Jandira Ortêncio contou que saiu de casa por volta das 5h, acompanhada de seu esposo, para realizar uma cirurgia.

“O trem estava bem lento, bem lento. Chegou em Quintino e quebrou de vez. Os passageiros me ajudaram a descer porque é alto, né? Eu caminhei um pouquinho mas não deu, a perna foi doendo, doendo, doendo, foi quando me pegaram”, contou a idosa.

O ajudante Alfredo Muniz disse ao telejornal que o problema é recorrente. “Do nada para, toda vez tá acontecendo isso. Não tem trem expresso, só parador. Uma senhora tá ali e nem a Supervia veio para ajudar, só a gente tava ajudando. Se a gente não abrisse a porta de emergência estariamos lá até agora”, relata.

Passageiro da Supervia, Rubenilson Rubens estava na estação Deodoro e falou sobre como o problema atrapalha a rotina profissional. “O patrão não quer saber, não. Você tem que chegar no horário. A gente depende do trabalho. Se for mandado embora, eles vão fazer o que? Não quebrou só hoje, já vem de tempos. Quando não quebra, para 20 minutos, 15 minutos, e ninguém tá aí para a gente. Ninguém respeita o trabalhador”, diz.

Outros passageiros comentaram a situação nas estações e definiram como “covarde” a atitude da concessionária. “Não sou a favor de vandalismo, mas a Supervia testou muito a fé dos outros (…) Covardia”, escreveu uma usuária no Twitter. “Isso aí se chama tortura contra os passageiros. O que vocês fazem todo dia. Supervia, você é uma vergonha”, disse outro usuário.

Em nota, a Polícia Militar disse que foi acionada durante a manhã para verificar o protesto na estação de Deodoro. A corporação afirma, também, que os agentes acionaram o Corpo de Bombeiros para combater focos de incêndio em três linhas férreas da estação. O fogo foi cessado e a linha desobstruída. Não houve registro de prisões durante a ação.

No início da tarde, a Supervia informou que os ramais afetados ainda voltaram a funcionar, e que o restabelecimento da circulação normal será gradual durante o dia.

Composição parada

Passageiros relatam que a composição do ramal Santa Cruz parou entre as estações de Quintino e Cascadura e, sem saberem o motivo da parada, decidiram desembarcar. De acordo com a concessionária, os passageiros acionaram o alarme dentro do trem e se dirigiram à linha férrea.

“O trem simplesmente parou, não tem nenhuma informação, as pessoas abriram a porta e estão descendo no meio da linha”, publicou uma passageira, ao mostrar as pessoas pulando de cima dos trens para a linha férrea.

A estação de Quintino faz parte do ramal Santa Cruz, que nesta manhã só contou com trens paradores devido a uma ocorrência no sistema de sinalização, conforme publicou a Supervia em suas redes sociais.

A Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários, Metroviários e de Rodovias do RJ (Agetransp) informa que irá apurar as “circunstâncias da avaria” da composição, para analisar as causas da falha e os serviços prestados pela SuperVia.

Outras estações com problemas

Com a ocorrência na estação de Quintino, os reflexos foram sentidos por todo o sistema dos ramais Santa Cruz e Japeri. Na estação de Deodoro, abastecida pelos dois ramais, objetos também foram lançados na linha férrea, como forma de protesto de quem estava a caminho para o trabalho.

Em Realengo, na Zona Oeste, passageiros do ramal de Santa Cruz enfrentaram estações lotadas. Ironicamente, uma passageira comentou: “Obrigado, SuperVia”

Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2022/11/problemas-com-trem-obrigam-passageiros-a-desembarcarem-no-meio-da-linha-ferrea-na-zona-norte.ghtml

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