Valor Econômico – As emissões de debêntures incentivadas, títulos de dívida habitualmente usados para financiar projetos de infraestrutura, registraram mais um mês de queda em novembro, em meio à diminuição da demanda de investidores. As operações desse tipo somaram R$ 525 milhões até o dia 29 de novembro, volume 75% abaixo do registrado em outubro, segundo levantamento da gestora JGP. Foi o terceiro mês consecutivo de redução tanto no volume quanto no número de operações.
A queda é explicada por alguns fatores, como a percepção do mercado de que a remuneração desses títulos estava aquém do ideal. “Os spreads de crédito estavam em um patamar que não era razoável”, diz Pierre Jadoul, gestor de crédito privado da ARX Investimentos. “O mercado parecia ter exagerado um pouco em termos de price, apesar das taxas nominais estarem altas porque os títulos públicos estavam pagando taxas altas.”
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Também pesaram o ambiente de muita oferta desse tipo de papel e a diminuição do interesse de pessoas físicas pelos títulos diante do recuo na inflação. Como parte dos títulos é indexada ao IPCA, alguns investidores acabaram preferindo outros modelos de remuneração, mesmo considerando que o efeito nos preços é momentâneo. A maior parte das debêntures incentivadas fica nas mãos de pessoas físicas, que são isentas da cobrança de Imposto de Renda (IR) – esse é o incentivo que dá nome ao papel.
De janeiro a novembro, as emissões da modalidade somaram R$ 22,35 bilhões. No ano passado, chegaram a R$ 40 bilhões. No total, foram realizadas 75 operações neste ano, ante 120 em 2021, o que mostra a desaceleração do segmento.
Tradicionalmente, os bancos que estruturam as ofertas no mercado primário ficam com parte da operação, que mais tarde é vendida no mercado secundário. A queda na demanda pelos títulos de infraestrutura, porém, fez com que as instituições financeiras tivessem de absorver uma parte maior das emissões nos meses de setembro e outubro. Em agosto, os bancos ficaram com quase 45% do volume de emissões das incentivadas. No mês seguinte, a parcela que ficou nas tesourarias chegou a 76%. Em outubro, aumentou para 71%. No mês passado, caiu novamente para 55%.
Alguns coordenadores acabaram ficando com mais papéis incentivados do que gostariam e enfrentaram “um pouco mais de dificuldade para vender”, segundo Samy Podlubny, responsável pela área de emissão de dívida local e internacional do UBS BB. “Tem um certo azedume no mercado porque algumas operações não venderam o que era esperado e outras precisaram de ajuste de preço”, disse. “Foram feitas muitas operações nos últimos meses e a demanda acabou não acompanhando a oferta.”
Olhando para a frente, a expectativa é que o cenário para as debêntures incentivadas melhore em um período de três ou quatro meses, segundo a avaliação de Jadoul, da ARX. “Com a queda dos spreads e os títulos voltando a ser bem precificados, a demanda deve voltar”, afirma.
Há, no entanto, o risco de uma onda de vendas por parte de pessoas físicas no início do ano, quando os títulos de renda fixa começarem a ser marcados a mercado, o que deve provocar ajustes nos preços. “Em qualquer classe financeira o preço se ajusta à volatilidade, mas a realidade para o investidor pessoa física de debêntures era sem volatilidade, o que vai mudar”, diz Alexandre Muller, sócio da JGP.
Como resultado, Muller acredita que haverá um aumento no interesse por fundos que investem em ativos incentivados. “Parte de investimentos que estão na custódia de pessoas físicas vai migrar para os fundos”, afirma.
No geral, as expectativas para o mercado das incentivadas são positivas, segundo Antônio Pedro Leão Teixeira, analista de crédito e gestor das estratégias de infraestrutura da JGP. “Esperamos a continuação do crescimento do mercado primário e do secundário e o aumento das emissões de empresas com rating menor e das que nunca acessaram o mercado”, afirmou durante evento da gestora realizado em novembro.
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