Valor Econômico – O grupo alemão Siemens passou por várias mudanças nos últimos anos, reorganizando suas áreas de negócios, como o de energia – que ganhou vida própria em 2020. O foco da empresa-mãe ficou em infraestrutura e indústria, tendo companhias satélites, caso de equipamentos de saúde. “A Siemens mantém-se um sólido conglomerado, com uma empresa única ladeada por vários ‘navios’”, destacou o presidente da subsidiária brasileira, o argentino Pablo Fava, com carreira de 26 anos na gigante alemã.
Em entrevista ao Valor, o executivo apontou as mudanças globais em tecnologia, em eletrificação, mobilidade e energia sustentável, que exigiram mais foco para os negócios. Na Siemens Energy, por exemplo, a matriz é uma acionista minoritária; já na Healthineers é majoritária no capital. Por outro lado, continua com 100% da área de Mobilility.
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Na visão do executivo, isso se mostrou um grande acerto. “Nos últimos anos, a Siemens vem crescendo a uma média anual de 18%”, afirma Fava, que está na operação brasileira desde 2002, passando por vários cargo até assumir a presidência em 2020.
Conglomerado alemão, baseado em Berlim e Munique, encerrou o ano fiscal de 2022 com receita de € 72 bilhões
Após a cisão da área de energia em 2020, a Siemens Brasil passou por uma reorganização de suas operações. E elaborou um novo planejamento. “Nossa visão, depois de dois anos de forte crescimento, é duplicar os negócios tomando por base o resultado de 2022, que termina com uma carteira de pedidos de R$ 2,3 bilhões. Nosso objetivo é chegar a R$ 5 bilhões em 2027”, afirma Fava.
“Estamos revisando para cima nosso plano de crescimento depois de 79% de aumento na receita deste 2020, com média anual na faixa de 34%. Somos uma nova empresa com muitas oportunidades para crescer e também com mais rentabilidade”, ressalta.
Os números acima consideram a atuação nas áreas industrial e de infraestrutura. Já a soma das operações no país – exceto Siemens Energy -, no ano fiscal de 2022, em 30 de setembro, atingiu receita de R$ 4,2 bilhões. A carteira de pedidos está em R$ 5 bilhões.
O potencial de crescimento no Brasil é grande, destaca o executivo, e passa por fornecimento de equipamentos, serviços e “soluções” aos setores de infraestrutura, saneamento, energia (digitalização), portos, agronegócio (com destaque para o segmento de etanol), máquinas e outros. “Estamos bem otimistas, pois há muito a ser feito no Brasil”, diz Fava.
Ele destaca que o Brasil é um país com mais de 200 milhões de habitantes, tendo um potencial enorme para expansão dos negócios da companhia. “A infraestrutura ainda é crítica; no saneamento temos tecnologia para gestão, captação e distribuição de água; na energia, controles para digitalização em geração, transmissão e distribuição; há muito investimento a ser feito em portos; no agronegócio ha o potencial para o país ser um grande exportador de energia; no segmento de máquinas diversas há como agregar valor com mais tecnologias e conectividade para se tornar mais competitiva “, detalha.
Fava cita ainda digitalização em geral, inteligência artificial (IA) e a introdução do 5G – áreas em que a companhia vem ganhando, globalmente, liderança.
Com a utilização e intensificação de novas tecnologias, ele cita que vários setores industriais do país ganharam competitividade ímpar mundial e se tornaram de ponta – celulose, agronegócio, mineração, química, aeronáutica (com destaque para a fabricante de jatos Embraer), automotiva e combustíveis renováveis (caso do etanol de segunda geração), entre outros.
Apesar de deficiências na educação que o país enfrenta, destaca que se tem aqui uma usina de talentos profissionais, que são cobiçados e levados para o exterior. “Temos tentado reter esses talentos e vemos também outras empresas vivenciando essa situação”, afirma. No caso da Siemens Brasil, diz, por ter se tornado um “hub” de projetos e de software.
Sobre a mudança de governo, com novo presidente da República a partir de 2023, Fava não demonstra preocupação. Comenta que o grupo Siemens atua no Brasil focado no longo prazo. “Há muito o que se construir. Somamos forças”.
A empresa concentra as operações no país no polo industrial em Jundiaí, interior de São Paulo, com quatro unidades diferentes – parte dos ativos do polo foi transferida para a Siemens Energy. Além disso, conta com a unidade de equipamentos para saúda Healthineers em Joinville (SC), que tem gestão independente.
O conglomerado alemão, fundado em 1847, com sedes em Berlim e Munique, encerrou ao ano fiscal 2022 (em 30 de setembro) com receita global de € 72 bilhões (+15,5% sobre 2021) e lucro líquido de € 4,4 bilhões. No quarto trimestre, a receita da Siemens AG cresceu 18% (ante um ano atrás), com € 20,6 bilhões e a carteira de pedidos fechou em € 21,6 bilhões (mais 14%). O grupo tem 311 mil funcionários no mundo – no Brasil, mais de 3,1 mil pessoas, sem contar a Siemens Energy.
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