G1 – A malha ferroviária “traçou” linhas de desenvolvimento no interior paulista. Com novas tecnologias, a arquitetura e urbanização dos municípios evoluiu e precisou se adequar às novas demandas. O g1 convidou um arquiteto e pesquisador da história da ferrovia em Itapetininga (SP) para contar e contextualizar essa história.
O viajante francês Auguste de Saint-Hilaire descreveu, durante sua exploração pelo interior paulista em 1819, a fisionomia arquitetônica de Itapetininga como uma pequena vila com pouco menos de 60 casas, construídas de taipa e em situações precárias.
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“[As casas] eram trabalhadas com o material que tinha ali na comunidade e com técnicas mais condicionadas ao ambiente local. Muito disso vem, também, das próprias técnicas construtivas de indígenas e outros povos que já se estabeleciam”, comenta o arquiteto e mestre em Planejamento e Gestão de Território Igor Chaves.
A situação, contanto, mudou muito com a chegada das estradas de ferro em Itapetininga, no ano de 1895, continua o pesquisador. “Data-se que a primeira estação de Itapetininga seja a Estação do Morro do Alto – que dá nome ao distrito”, conta Igor, também escritor do livro “O Legado da Estrada de Ferro Sorocabana em Itapetininga”.
Não foi à toa que Itapetininga recebeu as ferrovias. Conforme explica Igor, o município produzia algodão e, à época, tinha muitos representantes influentes na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), além de famílias importantes, como a família de Fernando Prestes, eleito quarto presidente do Brasil.
As ferrovias, como explica o pesquisador, diminuem distâncias entre as cidades, trazendo operários e viajantes. Todo esse movimento, portanto, vai exigir de Itapetininga um novo desenho urbano – com nivelamento de solo, expansão e planejamento territorial.
“As ferrovias, num aspecto geral, permitiram a observação de uma nova dinâmica: a transformação de uma cidade bucólica – onde, como descrito por viajantes, as pessoas andavam descalças e moravam em casa com goteiras -, para sistemas mais desenvolvidos, deixando de ser totalmente rural e se modernizando”, analisa o pesquisador.
Simbiose cultural
“Essa forma de se desenvolver vai impactar culturalmente, principalmente pelo fato de você fazer uma troca entre culturas muito maior. A lógica da cidade vai mudar. O tempo muda com a chegada das ferrovias. Uma viagem que era feita em seis meses, é feita em horas”, ressalta o pesquisador.
De acordo com Igor, a simbiose entre culturas permitiu o desenvolvimento de tecnologias e técnicas estrangeiras, como casas e edifícios pré-moldados, muito utilizado por imigrantes italianos, possibilitando novos estilos arquitetônicos à Itapetininga.
“Até então, a gente só tinha a taipa, que possibilita só ter um tipo de construção, com casas sem segundo nível. Fazer laje só foi possível depois desses pré-moldados”, exemplifica Igor sobre as evoluções.
‘EntreLinhas’
O livro “O Legado da Estrada de Ferro Sorocabana em Itapetininga”, resultado de oito anos de pesquisas do arquiteto Igor Chaves, baseou a produção do documentário “EntreLinhas”, que reconta a história de 125 anos da ferrovia no município.
Produzido pelo Coletivo 015, através da lei de incentivo a cultura “Aldir Blanc”, o documentário está disponível gratuitamente na internet.
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