Ganha velocidade a corrida pelos minerais estratégicos

Valor Econômico – Uma nova corrida do ouro está acontecendo no mundo todo. Só que o alvo cobiçado são os minerais críticos ou estratégicos, como são chamados o lítio, cobalto, cobre, grafita, terras raras e níquel, usados em baterias de carros elétricos, painéis solares, turbinas eólicas e processos ligados à transição energética. Ao mesmo tempo em que fazem parte da tecnologia de ponta na produção de celulares e computadores, também são necessários nos esforços para conter o aquecimento global na produção de carros e ônibus elétricos e no armazenamento de energia, por exemplo.

China e Estados Unidos já disputam há algum tempo os minerais críticos, escreveu Geoberto Espírito Santo, da GES Consultoria, Engenharia e Serviços (Valor 21/7). A briga ganhou relevo quando a China restringiu as exportações de gálio e germânio, matérias-primas para a fabricação de chips, em resposta à decisão dos Estados Unidos de limitar a a exportação de semicondutores. E o governo americano prepara medidas para rever as cadeias mundiais de suprimento de minerais estratégicos, em um pacote de quase US$ 370 bilhões.

Com essa briga entre as duas potências e a escalada da produção dos automóveis elétricos, a demanda por lítio aumentou 300%, a do cobalto, 70% e a de níquel, 40% nos últimos cinco anos. Enquanto um laptop usa 30 gramas de carbonato de lítio, uma bicicleta elétrica precisa de 300 gramas, um carro elétrico de 50 quilos e um ônibus elétrico, de 200 quilos, escreveu Geoberto Espírito Santo. A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que a demanda por minerais críticos mais do que dobrará até 2030, colocando o mercado sob pressão uma vez que os projetos de mineração podem levar até 20 anos para passar pelas fases de pesquisa, obtenção de licenças, lavra e refino.

A China parece na frente. O país possui 60% das reservas de grafite e de outros minerais estratégicos como o lítio, alumínio, cobre, cobalto, ferro, níquel, ouro e terras raras. Mas em alguns casos sua capacidade de refino e o consumo de unidades industriais pode superar a produção. Por isso, os chineses já se movimentam para prospectar os minerais em outros países, como a África, América Latina e até no solo marinho.

A China tem sido um dos países que mais pressionam a pouco conhecida Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, que reúne 168 estados-membros, a liberar a mineração comercial em larga escala em águas profundas.

Os Estados Unidos não ficam atrás, têm uma ligeira vantagem em reservas, mas também têm feito investidas em outros países, buscando matéria-prima para abastecer suas unidades de produção.

Essa corrida fica mais tensa uma vez que os maiores refinadores nem sempre são os donos das maiores reservas. No caso do lítio, por exemplo, um dos mais cobiçados e valiosos, a Austrália é responsável por 52% da produção, mas tem 8% das reservas. A China, com 7% das reservas, tem 13% da produção. As maiores reservas estão na América do Sul, no Triângulo do Lítio, com 21,5% na Bolívia, no Salar de Uyuni, 20,4% na Argentina, em Salinas Grandes, Salar Hombre Muerto e Salinas Arizaro, e mais 20,4% no Chile, no Salar Atacama. Mas apenas Chile e Argentina refinam com 25% e 6%, respectivamente. Os Estados Unidos têm pouco mais de 12% das reservas e apenas 1% da produção. O Brasil, com 1% das reservas, produz 1%. São ainda produtores relativamente relevantes Portugal e Zimbábue, com 1% cada um.

Apesar de concentrar cerca de 60% das reservas globais de lítio, a América do Sul não refina um terço do mineral. Essa contradição alimenta um debate sobre a sina dos países com as maiores reservas terem que se resignar em serem exportadores da commodity bruta para os países industrializados.

Com algumas exceções como o Chile e o Brasil, a região não atrai investimentos para projetos de produção de baterias, veículos elétricos e outras tecnologias de transição verde. Infraestrutura deficiente e insegurança jurídica desestimulam o capital estrangeiro. Nem têm recursos para subsidiar iniciativas tecnológicas nessas áreas.

O Brasil tem se saído melhor. Atraiu US$ 5 bilhões em investimentos da chinesa BYD, que instalará na Bahia uma planta para produzir carros elétricos e baterias. A WEG vai ampliar sua fábrica de baterias à base de lítio, e investir em infraestrutura de recarga de carros na região Sudeste. Duas empresas canadenses, uma americana e uma australiana devem operar no “Projeto Vale do Lítio” no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. A Sigma Lithium, companhia brasileira com capital aberto em Toronto e na Nasdaq, anunciou investimentos de US$ 3 bilhões em uma planta de alta tecnologia, que permite a obtenção de um produto de alto grau de pureza para a produção de baterias. Outros dois projetos, da Companhia Brasileira de Lítio (CBL) e da AMG Brasil, também já estão em produção nessa região.

As informações disponíveis indicam potencial do Brasil em cobre, lítio, níquel, cobalto, minerais de terras raras e grafita. No entanto, acredita-se que ele está subdimensionado pela falta de conhecimento geológico detalhado do território nacional. Além da falta de pesquisas, há dificuldades de financiamento e de um projeto abrangente para a área.

Fonte: https://valor.globo.com/opiniao/noticia/2023/07/27/ganha-velocidade-a-corrida-pelos-minerais-estrategicos.ghtml

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