Ethos, fundo com sede nos EUA, vai investir US$ 1,9 bi no Brasil até 2024

Valor Econômico – A Ethos Asset Management, empresa global de financiamento de projetos com sede nos Estados Unidos, vai investir US$ 1,9 bilhão no Brasil de outubro ao fim de 2024. Até agora, desde 2021, quando abriu seu escritório brasileiro, a Ethos estava num patamar bem abaixo disso, num total de financiamentos de US$ 105,7 milhões em 19 projetos. O foco da empresa são os setores de agricultura, infraestrutura, mineração, manufatura e construção. “O Brasil é um dos mercados mais interessantes e com mais potencial para nós”, afirma o CEO Carlos Santos.

Do total, US$ 261 milhões já estão comprometidos e o restante está disponível para novos projetos. No mundo, a Ethos tem hoje financiamentos de US$ 1,4 bilhão em 72 países e US$ 7,5 bilhões a conceder nos próximos três anos. A maior parte do dinheiro está com empresas de Estados Unidos, Reino Unido, Sudeste Asiático, Índia e, agora, do Brasil, que subirá ao segundo lugar no ranking de maiores volumes em 2024. “Há efetivamente uma aposta financeira muito grande no Brasil, que não é mais uma promessa de mercado para nós, é uma certeza”, diz Santos. De acordo com o CEO, todos os projetos são avaliados sob os critérios ESG (sigla em inglês que representa sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa).

Além dos altos valores para investimento, chama a atenção a história da Ethos. Santos é um bilionário português de 29 anos que iniciou sua fortuna em Lisboa aos 18, em 2012, quando desenvolveu um algoritmo para negociação de ativos que teve grande aceitação entre bancos europeus. O empresário conta que o sistema se diferenciava principalmente por ter uma capacidade preditiva maior e mais precisa, levando em conta um histórico de cem anos de cotações, enquanto a média disponível no mercado era de 20 a 25 anos.

Até 2018, o algoritmo rendeu bilhões em royalties, quando Santos decidiu encerrar os contratos e usar o sistema para administrar a própria fortuna. Enquanto avançava na carreira empresarial, incrementava a acadêmica: entre 2012 e 2017, se formou em economia com a maior média da história da Universidade de Lisboa, atuou como professor convidado na instituição, fez três mestrados e ainda estagiou no Banco de Portugal.

Em 2019, fundou a Ethos Asset, que opera no mercado americano. “Ao calcular a eficiência do portfólio, os números mostravam que 20% desses ativos teriam que estar investidos a longo prazo, em renda fixa. E eu não queria apenas títulos do Tesouro americano. Então decidi fazer ‘project finance’ e investir, por exemplo, na construção de portos, aeroportos.” A Ethos tem matriz na Califórnia e subsidiárias, além do Brasil, em Portugal, Reino Unido, Suíça, Turquia e África do Sul, entre outros, e representações em várias localidades.

Para ele, os rendimentos que obtém no mercado financeiro garantem à empresa condições competitivas no financiamento a projetos. A primeira é usar capital próprio, e não dinheiro de depositantes. E o segundo são as garantias exigidas para o financiamento, outra característica bastante peculiar da empresa. Diferentemente de boa parte do mercado, que exige ativos reais, como imóveis, galpões ou ações, a Ethos pede em troca “liquidez”. “Somos uma empresa global. Como gerir um edifício do Brasil a partir dos Estados Unidos? Ações também não eram uma boa opção, porque, quando uma empresa falha no pagamento de uma dívida, o valor cai. Então adotamos o parâmetro da liquidez.”

O sistema é o seguinte: o equivalente a 20% a 25% do empréstimo é depositado em uma conta de investimento em um banco americano como J.P. Morgan ou Morgan Stanley. Esse dinheiro é bloqueado e penhorado em favor do banco, que abre uma conta-margem (conta aprovada para tomar empréstimos a fim de adquirir títulos financeiros) e repassa 65% do valor à Ethos, que, então, incorpora o montante aos ativos com que opera no mercado financeiro.

A empresa tem duas faixas de empréstimos, de US$ 10 milhões a US$ 50 milhões e mais de 50 milhões, com prazo de pagamento entre 12 e 15 anos, sendo três de carência. Os juros estão hoje em torno de 5,5% ao ano e os pagamentos dos empréstimos podem ser feitos em periodicidade mensal, semestral ou anual. “Além da taxa de juros sobre os US$ 50 milhões, temos retorno adicional sobre esse valor de margem que o banco americano me repassa e que permite que eu recupere o capital mais rapidamente. Em média, o cliente me paga em 12 anos, mas recuperamos o capital em torno de sete anos”, explica.

“Há uma aposta financeira muito grande no Brasil, que não é mais uma promessa para nós, é uma certeza”
— Carlos Santos

Santos afirma que as condições financeiras da Ethos são mais suaves que as dos bancos e dão mais autonomia que as operações de private equity ou venture capital. “O banco dá autonomia, não fica com ações dos clientes, mas os juros são elevados e carências e prazos, reduzidos. Venture capital, private equity dão condições muito melhores mas tiram autonomia, porque querem ações e interferir na gestão. Nós conseguimos trazer as duas peças para a mesa.”

O caminho para a Ethos fortalecer sua presença no Brasil foi aberto pela forte alta da Selic a partir de 2021, diz ele. “Não sentimos necessidade de aumentar os juros na mesma proporção porque nossa taxa tem outras variáveis, como o custo de oportunidade de retirar o dinheiro do trading,além do projeto em si e da taxa local. Assim, nosso custo mais baixo foi um gatilho para uma grande demanda de empresas interessadas em fugir do custo bancário.”

Agora, o início do ciclo de cortes de juros no Brasil pode reduzir essa diferença, afirma, mas a necessidade de financiamento é muito superior à oferta de capital. “A crise foi benéfica para entrar no Brasil, desenvolver nosso nome e acumular 19 casos de sucesso que agora já nos garantem uma posição consolidada no mercado brasileiro”, avalia.

O jovem empresário, que é solteiro e não tem filhos, chegou a morar no Rio e em São Paulo entre junho 2018 e março de 2019, com o objetivo de se instalar por aqui, mas afirma ter encontrado um ambiente de negócios muito difícil. Desistiu e voltou ao projeto somente há dois anos. Hoje, a Ethos tem em seu escritório em Belo Horizonte um COO (diretor de operações) que faz parte do conselho responsável por toda a América Latina, o chefe do departamento de análise de risco mundial e cinco equipes comerciais.

“O Brasil tem uma escalabilidade muito grande. Apesar de ter grandes diferenças entre o norte e o sul, é muito mais fácil do que estar num mapa como o africano, em que você tem todos os países com culturas e políticas monetárias diferentes”, compara. Santos diz que o Sudeste Asiático é outro foco da empresa no momento, por causa das altas taxas de crescimento registradas nos últimos anos na região e grande demanda por capital intensivo.

Fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2023/09/15/ethos-fundo-com-sede-nos-eua-vai-investir-us-19-bi-no-brasil-ate-2024.ghtml

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