Metade dos elevadores e escadas rolantes de estações de trem no Rio não funciona

O Globo – Pessoas ofegantes se esforçam para subir e descer a escadaria. A cena retrata mais uma etapa do tormento diário daqueles que dependem do serviço de trens no Rio: das 104 estações, apenas dez (9,6%) são equipadas com escadas rolantes, e 16 (15%) têm elevadores. A situação fica ainda mais dramática quando se tenta usar uma dessas facilidades: metade desses equipamentos sequer funciona, de acordo com relatório de agosto enviado pela concessionária SuperVia à agência reguladora do setor, a Agetransp.

— Eu preferiria estar subindo as escadas da Igreja da Penha, porque pelo menos seria pagando promessa — disse a dona de casa Judith dos Santos, de 58 anos, paciente oncológica, que já passou por 11 cirurgias, ao enfrentar usando muletas os 80 degraus na estação de Madureira.

Lá, seis das sete escadas rolantes estão inoperantes. Duas, que ligam as ruas Carolina Machado e João Vicente à estação, estão bloqueadas por portões, tapumes e cadeados. O espaço serve apenas para camelôs pendurarem mercadorias e tabelas de preço.

O psicanalista aposentado Elias Meneses, de 76 anos, precisará subir a escadaria pelo menos dez vezes para ir a sessões no ortopedista. Após sofrer uma queda, ele usa colete cervical e, também com dificuldade visual, necessita da ajuda do filho:

— Parece que ser suburbano é um castigo.

De acordo com a SuperVia, os equipamentos de Madureira serão substituídos por elevadores. Segundo o documento enviado à Agetransp, 22 das 34 escadas rolantes e 11 dos 46 elevadores em todo o sistema estão inoperantes devido “a irregularidades que comprometem o funcionamento seguro para os usuários”. Mas o total dos equipamentos parados sobe para 66% das escadas (23) e 35% dos elevadores (16), se forem considerados os existentes em plataformas inutilizadas ou com a operação suspensa por conta de vandalismo.

A falta de acessibilidade é um dos capítulos da crise na SuperVia, que alega queda do número de passageiros durante a pandemia. O furto de cabos também colabora para a deterioração do sistema, interrompendo a circulação dos ramais de forma rotineira. Diante da crise, em abril o grupo japonês que, desde 2019, tem o controle acionário da SuperVia informou ao estado que não tinha mais interesse em prosseguir na operação. Até agora não houve uma solução para o impasse.

‘Círculo vicioso’

Para Rafael Calábria, coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o valor da tarifa, de R$ 7,40, contribui para reduzir o número de passageiros dos trens.

— O sistema é caro. Quem não tem dinheiro, deixa de usá-lo, e a empresa perde recursos. A tarifa, então, aumenta para recuperar curso e perde mais passageiros, levando a perder mais recurso. É um círculo vicioso — aponta ele, que vê como solução a negociação de investimento público, para diminuir a importância do valor da tarifa para manter a operação.

Na prática, a percepção é de que as pessoas com deficiência ou alguma dificuldade de locomoção acabem desistindo de acessar o sistema, conforme afirma Rafaela Albegaria, fundadora do Observatório dos Trens:

— As pessoas não conseguem se deslocar. Especialmente na Baixada Fluminense, não há nenhuma estação com estrutura de acessibilidade.

Na malha ferroviária, distribuída por 12 municípios da Região Metropolitana, apenas dez estações contam com escadas rolantes instaladas, sendo nove na capital. A única de fora fica em Caxias, na Baixada, que tem duas escadas rolantes inoperantes. A mesma situação se repete em Bonsucesso (uma sem funcionar), Manguinhos (duas) e no Méier (seis). A do Méier fica em frente ao Hospital Municipal Salgado Filho.

O casal Átila e Andreia Oliveira, de 65 e 53 anos, respectivamente, frequenta a unidade de saúde desde que sofreu um acidente de carro. Com dificuldades para andar — ele de muleta, e ela, com ossos ainda não consolidados —, esforçam-se para chegar ao hospital.

— Sem as escadas rolantes, precisamos dar essa volta toda (nas rampas). Cansa mais — desabafa Andreia.

Na estação do Engenho de Dentro uma das três escadas rolantes está inoperante. A situação muda em São Cristóvão, única estação do relatório com cem por cento das escadas sem problemas. No entanto, durante visita na última segunda-feira, repórteres do GLOBO constataram que as suas três escadas estavam desligadas.

Saindo cedo de Realengo rumo ao bairro imperial para fazer o tratamento contra o câncer em um hospital da região, Penha Jardim, de 67 anos, sobe com dificuldades os degraus:

— Quase matam a gente. Não ligam a escada.

Cronograma em 72 horas

A estação foi a mais cara entre as seis reformadas que receberam melhorias para as Olimpíadas de 2016, com custo estimado, à época, de R$ 141 milhões. Ao todo, a previsão do governo era de gastar R$ 250 milhões para reformar também Deodoro, Vila Militar, Magalhães Bastos, Engenho de Dentro, Ricardo de Albuquerque e Maracanã.

No Maracanã, o documento da SuperVia descreve todas as três escadas rolantes como inoperantes, assim como quatro dos cinco elevadores.

— A gente sobe (a escada) com o coração na mão — descreve a dona de casa Celeste Vieira, de 75 anos.

A SuperVia explica que o cenário muda constantemente, a depender de chuvas, consertos e vandalismo. A empresa destaca ainda que o mau uso desgasta os equipamentos. E que a depredação é um agravante. Em relação às peças para consertar os aparelhos, a companhia busca “outras opções no mercado, que é restrito” para diminuir o tempo de espera.

Em nota, a Secretaria estadual de Transportes diz que, dentro de sua competência e limitações legais, tem cobrado da SuperVia melhoria dos serviços.

A Agetransp informa que determinou que a concessionária apresente em 72 horas um cronograma, a contar de amanhã, “para que todos os problemas apontados no relatório sejam resolvidos em 30 dias”. Segundo a agência, a Supervia foi multada em R$ 2,2 milhões em 2022, por não cumprir investimentos previstos em contrato, como a reforma e a adequação à acessibilidade de 48 estações.

Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2023/09/17/metade-dos-elevadores-e-escadas-rolantes-de-estacoes-de-trem-no-rio-nao-funciona.ghtml

1 Comentário

  1. Analisando o TAC entre a SUPERVIA e o MP, consegui inviabiliza tecnicamente a retirada
    Das escadas e viabilizar a implantação dos elevadores. Nessa sequência, o responsável SUPERVIA foi demitido. Na sequência, eu fui demitido da Central logística e o outro profissional antes, SUPERVIA, foi admitido na Central Logística. Meta coincidência?

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