Paulistano gasta quase duas horas e meia por dia no trânsito e calorão é desafio para quem encara o transporte público

O Globo – O impacto causado pelo trabalho remoto ficou para trás em São Paulo. De carro, ônibus, trens ou metrô, o tempo médio gasto pela população em deslocamentos voltou ao patamar pré-pandemia na maior cidade do país.

Pela primeira vez em cinco anos, se locomover de carro é mais demorado do que usar o transporte público. Em média, o paulistano perde hoje 2h26m de seu dia no trânsito — sete minutos a mais do que em 2022. Para quem usa veículo próprio, o tempo médio chega a 2h46m, 23 minutos a mais do que para quem opta pelo transporte público, segundo nova pesquisa realizada pela Rede Nossa São Paulo e pelo Instituto Cidades Sustentáveis em parceria com o Ipec.

Na onda de calor que tomou conta do país neste fim de inverno e início de primavera, quem encara o transporte público ainda tem que acrescentar esse problema à lista de perrengues. A estudante de arquitetura Nathalia Amaral, de 22 anos, sentiu isso na pele (literalmente) na terça-feira, quando os termômetros superavam os 30°C e o metrô estava com sistema de ventilação desligado na Linha 3-Vermelha:

— Achei que ia passar mal. Na semana passada, eu reclamei da mesma coisa. As pessoas estavam até saindo nas estações para conseguir respirar. Quando está frio, fica sempre ligado. Quando está calor, eles não ligam — reclama a jovem, que utiliza diversas linhas para fazer trajetos diários para a faculdade e seus dois locais de trabalho, nas zonas Leste, Central e Sul da capital paulista.

Nathalia não está sozinha em suas queixas. Somente nos sete primeiros meses deste ano, o Metrô recebeu quase 33 mil manifestações de usuários por meio de aplicativo, de mensagens via SMS ou de publicações nas redes sociais. Em todos os meses, reclamações com o ar-condicionado foram o principal motivo dos contatos em cada um desses canais.

Na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), foram 391 queixas sobre equipamentos de ar-condicionado desligados de janeiro a julho, uma média de quase duas reclamações sobre o mesmo assunto por dia. Nas linhas operadas pela concessionária ViaMobilidade (8-Diamante e 9-Esmeralda), uma pesquisa de satisfação indicou no primeiro semestre que menos da metade dos passageiros considera “bom” ou “excelente” o sistema de ar-condicionado dos trens.

Para aliviar o calor nos ônibus da cidade, vale até optar por ficar em pé mesmo com assentos vazios disponíveis. Foi o que fez a estudante de cinema Izabelle Silva, de 24 anos, na terça-feira, no trajeto para o Sacomã (Zona Sul):

— Vi uma mulher fazendo isso, aí quando ela desceu eu logo me levantei e fui para onde ela estava para ficar em pé perto da janela. Estava um calor horrível. Na quarta-feira, por milagre, consegui pegar um ônibus com ar-condicionado — relatou a estudante.

Os paulistanos também estão descontentes com a lotação e a frequência dos ônibus. A percepção de que os veículos estão mais cheios atingiu o maior patamar dos últimos cinco anos: 27% têm essa avaliação. O percentual dos que acham que a demora dos ônibus é o maior problema passou de 13% para 23% desde o ano passado. Em média, a espera pelo coletivo é de 21 minutos atualmente.

Para Jorge Abrahão, coordenador da Rede Nossa São Paulo, os resultados da pesquisa mostram que a cidade é incapaz de resolver um de seus principais problemas, o da mobilidade urbana:

— Não houve aprendizado na pandemia. Numa semana, as pessoas desperdiçam 12 horas e meia no trânsito e isso tem um efeito enorme na qualidade de vida. Para quem trabalha no horário convencional, com oito horas de trabalho e uma para almoço, é um ciclo de 12 horas diárias apenas na dimensão sobrevivência.

Desperdiçar tempo no trânsito significa menor qualidade de vida. Sobra menos espaço para relações de afeto, família, cultura e cuidados com o corpo e saúde.

— Fica muito difícil conciliar tudo isso numa cidade que desperdiça duas horas e meia no trânsito todos os dias — diz Abrahão.

Moradora de Perus, no extremo noroeste da cidade, a cuidadora de idosos Elizabete da Silva Santos, de 44 anos, usa ônibus, trem e metrô para chegar ao trabalho, na zona Sul da capital.

— Gasto duas horas e meia só para chegar ao serviço. É mais difícil achar emprego naquela região e, quando encontra, os salários são bem mais baixos — diz.

Segundo ela, a luta é diária. O ônibus demora a passar e os trens da CPTM costumam ter problemas. Não é raro que operem em velocidade reduzida, o que a faz perder ainda mais tempo.

Em SP, carros estão em baixa

Apesar dos problemas no transporte público, a parcela dos que optam por essa forma de locomoção está em alta em São Paulo e passou de 41% em 2022 para 57% neste ano. O ônibus é o principal meio, citado por 41% dos 800 entrevistados entre 14 e 28 de agosto.

Moradora de Perus, no extremo noroeste da cidade, a cuidadora de idosos Elizabete da Silva Santos, de 44 anos, usa ônibus, trem e metrô para chegar ao trabalho, na zona Sul da capital.

— Gasto duas horas e meia só para chegar ao serviço. É mais difícil achar emprego naquela região e, quando encontra, os salários são bem mais baixos — diz.

Segundo ela, a luta é diária. O ônibus demora a passar e os trens da CPTM costumam ter problemas. Não é raro que operem em velocidade reduzida, o que a faz perder ainda mais tempo.

Em SP, carros estão em baixa

Apesar dos problemas no transporte público, a parcela dos que optam por essa forma de locomoção está em alta em São Paulo e passou de 41% em 2022 para 57% neste ano. O ônibus é o principal meio, citado por 41% dos 800 entrevistados entre 14 e 28 de agosto.

A SPTrans, empresa que opera o sistema de ônibus da capital, informou por nota que só admite a compra de novos veículos que tenham ar-condicionado, e que pretende universalizar esse serviço a partir de 2025.

O Metrô disse que “todos os seus trens iniciam a operação diária com aparelho de ar-condicionado funcionando”, mas ponderou que “manutenções durante a viagem podem ocorrer”.

Já a CPTM declarou que seus trens são equipados com aparelhos de ar-condicionado que “garantem conforto aos passageiros durante as viagens”. Acrescentou que, após o recebimento de queixas, “é feita a análise do equipamento e, se identificada uma falha, o trem é retirado de circulação e encaminhado para manutenção imediatamente”.

A ViaMobilidade, também por nota, disse que “todas as 848 máquinas de ar-condicionado instaladas nos trens já passaram por inspeção e limpeza geral”. “A temperatura regular adotada nos trens varia entre 21°C e 23°C. Em casos pontuais em que uma máquina deixa de operar, o trem é recolhido para manutenção sempre após o horário de pico”, completou.

Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil/sao-paulo/noticia/2023/09/26/paulistano-gasta-quase-duas-horas-e-meia-por-dia-no-transito-e-calorao-e-desafio-para-quem-encara-o-transporte-publico.ghtml

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