Trens lotados e estrutura precária: entenda principais reclamações de passageiros que usam a Linha 11-Coral da CPTM

G1 – Das cinco linhas de trem metropolitano operadas pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a 11-Coral, que passa por quatro cidades do Alto Tietê, é a mais movimentada atualmente. Ela liga Mogi das Cruzes à capital paulista e transporta milhares de passageiros diariamente. Com o passar dos anos, alguns investimentos foram feitos, mas não acompanharam o mesmo ritmo do crescimento do Alto Tietê.

O caminho dos moradores de Mogi das Cruzes até São Paulo começa pela estação Estudantes, inaugurada em novembro de 1976. A estação ganhou este nome justamente pela característica dos passageiros daquela época: pessoas que vinham para Mogi para estudar nas universidades da cidade.

Diminuição de bilheterias físicas

Em 46 anos, pouca coisa mudou na estrutura da estação. No entanto, uma alteração não tem agradado muito os passageiros.

“Está sem funcionar, deu erro. É a primeira vez que eu venho carregar e está dando erro. Não lê. E não era pra acontecer isso, era pra deixar certinho. Porque a pessoa chega com pressa, e como é que faz? Aí eu vou ter que subir aqui, atravessar pra ir lá do outro lado. É errado”, disse a manicure Sonia Maria Vieira.

“Não funciona. Nenhuma das máquinas está funcionando. Está acontecendo sempre. A hora que você vai pagar, você não consegue. As pessoas estão com dificuldade, não tem suporte. Difícil, muito difícil. Vou ter que correr pro outro lado pra conseguir o bilhete. O problema maior é esse, antes tinha aqui, lugar que tem mais fluxo de pessoas sem a bilheteria”, contou o autônomo Edson José de Sousa.

Em outubro de 2021, a CPTM começou um processo de fechamento das bilheterias físicas. A previsão era concluir esta mudança até o final daquele ano. No lugar das bilheterias, entrariam terminais de autoatendimento. Porém, depois de vários problemas, a CPTM adiou os planos e não informou quando retomaria a ideia. Junto com isso, a companhia implantou a venda por aplicativo e até pelo WhatsApp.

“É complicado. Às vezes a gente vem com pressa e acaba que o trem está aqui, na hora de comprar acaba não conseguindo. E acaba perdendo o trem. Tem que esperar o próximo. Senão você tem que esperar mais cinco, sete minutos pra fazer uma integração acaba perdendo outro trem e aí vai gerando um efeito escala, que você acaba perdendo outros trens. Chega atrasado”, explicou o estudante e autônomo Thiago Vinicius Araújo de Melo.

Estrutura precária

“Todas as estações de Mogi estão em péssimo estado. Além delas serem muito antigas, os banheiros são péssimos, a estrutura da estação. Muitas das estações, como a de Braz Cubas, não têm acessibilidade. Então, precisa de uma reforma urgente. Até Suzano, a gente viu que as estações se modernizaram. Mas em Mogi elas são muito antigas ainda. Então, a infraestrutura delas é muito ruim”, desabafou o eletricista Cristiano Suzuki.

“É mais fácil chegar de Guaianases pra Suzano do que de Jundiapeba pra Estudantes. É uma demora maior do que as estações que têm pra trás de Jundiapeba. Eu acredito que seja por causa das passagens de nível. Quanto aos horários, eu acho que deveria ser com antecedência o aviso. As pessoas que trabalham têm que saber se o trem vai demorar ou não. E em relação à demora dentro de Mogi, eu acho que deveria acabar com as passagens de níveis ou fazer um túnel, como fizeram no Centro, ou um viaduto. Atrapalha tanto o trânsito dos carros quanto quem pega o trem, o transporte público”, completou Cristiano, que mora em Mogi, trabalha na capital e também usa o trem diariamente.

Trens lotados

Para entender o problema citado por Cristiano, a reportagem do Diário TV embarcou em um dos trens com destino final na estação da Luz, em São Paulo, em um dia da semana, fora do horário de pico.

Além da Estudantes, em Mogi das Cruzes existem outras três estações: Mogi das Cruzes, Braz Cubas e Jundiapeba. Todos os dias, os trens da Linha 11 cortam a cidade ao meio. Cada vez que um trem passa, o tráfego de carros e pessoas na maior cidade da região para.

Mogi possui seis passagens de nível. Além de parar o movimento de carros, os trens reduzem a velocidade ao passar por estes trechos. Com a velocidade menor, a viagem dos passageiros fica mais longa.

Atualmente, uma viagem de ponta a ponta da linha dura em média 63 minutos, de acordo com a CPTM. Até abril de 2019, a vida do passageiro da Linha Coral era um pouco mais complicada, devido à baldeação necessária na estação Guaianases.

José Santana de Aguiar trabalha em São Paulo e embarca em Mogi. Ele afirma que leva mais de uma hora no trajeto todos os dias. Segundo o vendedor, tanto a ida para a capital como a volta para casa são desgastantes para os usuários dos trens.

“No normal, eu pego às 5h o trem pra ir pra São Paulo. É muito lotado. Pra voltar, é pior. Eu acho que está faltando trem pra atender a volta. Pra ir, beleza, você vai sentado. Mas pra voltar da Luz pra cá falta trem. Pra você ter uma ideia, eu chego na Luz 19h, quando eu vou pegar o trem pra vir pra Mogi. Lá deve ter umas cinco mil, seis mil pessoas esperando. Eu fico atrás, chega um trem e lota, eu não consigo entrar. Chega o segundo e lota, eu não consigo entrar. Quando eu chego na porta, é o terceiro trem que está chegando. Então, eu chego aqui em Mogi 23h. Porque falta trem lá na Luz”, afirmou o corretor de imóveis José Santana de Aguiar.

Na ida para a estação luz, a reportagem do Diário TV encontrou Maria Aparecida dos Santso, de 73 anos. A aposentada lembra como já foi o transporte sobre trilhos e também sabe o que está precisando melhorar.

“Todos os finais de semana diz que o horário é reduzido. Diz que está em manutenção, sei lá o que. Só que na semana que as pessoas vão trabalhar, minhas filhas que moram aqui em São Paulo sofrem muito. Porque nos finais de semana está em manutenção e na semana tudo quebrado. Não dá pra entender”, afirmou a aposentada Maria aparecida dos Santos.

Mas a cada parada que o trem faz, o cenário muda. Andar pelos vagões, dependendo do horário, é impossível.

Das cinco linhas da CPTM, a 11 coral é a mais movimentada. De janeiro a agosto deste ano, foram mais de 103 milhões de passageiros. Por dia, a média de passageiros na Linha 11 é de 500 mil pessoas. Jonas Henriques da Silva, que atua como fiscal de transporte complementar, está neste grupo.

“A viagem no horário de pico é um inferno. Está tudo lotado, um monte de gente. Guaianases ninguém entra, Ferraz, que são as estações que mais lotam. Suzano também já vai bastante lotado. Então, pra cima só tende a piorar. A gente prefere pegar sempre esse horário, que eu trabalho lá pra cima, prefiro pegar sempre nesses horários. Voltar mais cedo do que pegar o horário de pico ”, disse Jonas.

“Eu costumo todo dia pegar trem e as viagens costumam ser sempre assim, lotadas. Eu trabalho em São Paulo. Principalmente no horário do rush, pra voltar da estação da Luz é muito cheio. É uma confusão pra entrar no trem. Mas em menção a esse horário, é mais tranquilo. Por mais que esteja cheio, é mais tranquilo”, contou o vendedor Alexsandro Barbosa.

Para quem sai de Mogi das Cruzes, a Luz é a última estação de trem. Mas uma mudança anunciada pela CPTM para o próximo ano quer estender a Linha 11-Coral até a estação Palmeiras-Barra Funda. Sem a baldeação, a mudança encurtará a distância entre o Alto Tietê à Zona Oeste da capital.

A mudança está prevista para acontecer até agosto de 2024. Atualmente, para chegar até a estação Palmeiras Barra-Funda o passageiro precisa trocar de plataformas na estação Luz e fazer a baldeação com as linhas 7-Rubi ou 10-Turquesa. De acordo com a CPTM, esta transferência dura em média três minutos.

“Mais espaço para as pessoas. Mais longa a linha. Não precisa ficar fazendo baldeação todo dia. Pra quem trabalha cedo, é ruim. No horário de pico também”. GABRIEL Wendell dos Santos Alexandre – porteiro.

“Você não precisa pegar do outro lado pra ir pra Barra Funda. Porque aqui você tem que descer, passar por baixo e pegar do outro lado, se quiser ir pra Barra Funda. Indo direto facilita bastante”, disse o técnico de radiologia Helder Carlos Gouvea de Melo.

Extensão da Linha 11-Coral

Criar esta nova parada na Barra Funda pode desafogar um pouco o movimento na estação da Luz, principalmente na volta para casa. Outra promessa da CPTM é levar a Linha 11-Coral até o distrito de César de Souza, na região leste de Mogi das Cruzes.

Os estudos por parte da CPTM já começaram. A área para a implantação deste novo trecho de via permanente e da nova estação não pertence à companhia, mas ao Governo Federal. A Prefeitura de Mogi também tem um em andamento.

“Nós fizemos um trabalho de levantamento de dados. Quando foi sinalizado, há um bom tempo atrás, a possibilidade dessa extensão, César de Souza não era do tamanho que é hoje. É um distrito que cresceu consideravelmente. Então, nós levamos algumas informações atualizadas e, mais do que isso, apresentamos a possibilidade, o pedido que, se não for um trem convencional, que possa ser feito o sistema de BRT ou VLT, que é um modal mais barato e que atende a necessidade. Então, eles gostaram muito da proposta. Era uma proposta antiga, na verdade, da CPTM, de uns 20 anos atrás, talvez, que a gestão da época não entendeu essa inovação, mas que hoje pode ela pode ser viável”, disse Caio Cunha (PODE), prefeito de Mogi das Cruzes, em junho deste ano ao Diário TV.

“É um levantamento de custo, mas já sinalizando: pra quem não sabe, o trecho entre Estudantes e César de Souza é de uma concessão federal, a MRS. Na semana que vem, a gente tem uma reunião com a diretoria deles pra casar esses dois interesses e, quem sabe, ter boas notícias”, completou Cunha na oportunidade.

E vale lembrar que a extensão da linha 11-Coral também foi promessa de campanha de Tarcísio de Freitas, quando ele ainda era candidato ao Governo de São Paulo.

“Tem uma questão que a gente pode expandir, principalmente a Linha 11 até a linha da MRS, a gente teria praticamente um corredor de trem metropolitano maior, quase um metrô de superfície para atender a demanda que nós temos. Então, é um projeto que nós vamos estudar. A gente acabou de fazer a prorrogação do contrato da MRS e fazer essa extensão e fazer essa conexão seria útil para trazer, colocar mais gente no sistema. Até depois de César de Souza”.

Por enquanto, não tem data para que algo saia do papel. Só a expectativa de quem usa o transporte coletivo todos os dias de que o dia a dia fique mais fácil.

O que diz a CPTM e a Prefeitura de Mogi

A CPTM disse que nos últimos anos fez vários investimentos na linha para ampliar a melhoria das instalações e das viagens nos trens, como a redução do intervalo entre um e outro. Em junho, por exemplo, iniciou testes que vão permitir o uso da terceira plataforma da estação Suzano – o que futuramente vai permitir a utilização do “loop”.

O projeto de modernização da estação Mogi das Cruzes está previsto para o primeiro semestre do ano que vem e a publicação do edital para o segundo semestre, também de 2024.

Já a Prefeitura de Mogi das Cruzes informou que aguarda a conclusão dos estudos por parte da CPTM para se posicionar sobre levar a Linha-11 até o distrito de César de Sousa. Paralelo a isso, a administração do município disse que tem feito obras voltadas para melhoria da mobilidade urbana na região leste, como a construção de novas avenidas e ciclovias.

A Prefeitura disse ainda que, a partir da reunião realizada em 6 de junho com o secretário de Transportes Metropolitanos, Marco Antonio Assalve, realizou diversas outras conversas com a CPTM, sempre discutindo assuntos de interesse do município junto à companhia.

Fonte: https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2023/09/25/trens-lotados-e-estrutura-precaria-entenda-principais-reclamacoes-de-passageiros-que-usam-a-linha-11-coral-da-cptm.ghtml

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